Cinema

sexta-feira, 23 de dezembro de 2011 | Published in | 1 comentários

Em algum lugar do passado
Tudo bem, cheguei aqui no cinema uns vinte minutos mais cedo do que havíamos combinado, mas acho que tudo bem. Ela aceitou vir no cinema comigo e eu nem acreditei. Adoro ela, ela é linda, e acho que faz bem pra mim ter chegado aqui mais cedo. Quando ela chegar eu já vou estar aqui, e ela não vai ficar esperando. É minha obrigação de homem esperar a garota, não acho certo deixar o contrário acontecer.
Vou acender um cigarro e esperar... É uma pena, parece que o tempo demora cada vez mais a passar. Fico aqui tragando o cigarro e pensando nela. Fecho meus olhos por um breve momento e consigo ver cada detalhe de seu rosto... Sinto seu perfume e ensaio o que vou dizer a ela quando nos encontrarmos. Só de me lembrar de seu sorriso parece que fico mais ansioso, nunca vi outra mulher que tinha um sorriso tão radiante. Era quase como se o sorriso dela afastasse cada um dos meus problemas.
Esses vinte minutos parecem durar uma eternidade. O tempo se arrasta e eu acendo outro cigarro. As pessoas passam por mim e minha expressão ansiosa é impossível de não ser percebida. Me pego outra vez pensando nela, pensando em como ela é linda e como a presença dela me anima. O calor de quando a abraço é reconfortante e essa lembrança me domina.
O tempo continua se arrastando, mas finalmente dá a hora que marcamos e ela ainda não chegou. Acho que ela se atrasou um pouco, o que é normal, afinal não sei como ela está vindo pra cá. Passam-se cinco minutos infernais nos quais eu olho no relógio a cada 10 segundos. E se ela não vier? Esse pensamento me assusta e tento tira-lo da minha cabeça, mas ele insiste em ficar ali, quase que me desafiando. Penso em ligar para ela, mas é provável que ela não esteja em casa, além disso teria que sair daqui, do local marcado, se ela chegar enquanto vou ligar podemos nos desencontrar, e aí tudo estará perdido.
Imerso nesses pensamentos eu a veja ao longe chegar. Linda, parecendo que possui um brilho próprio. Não vejo mais ninguém perto do cinema, só a veja chegando perto de mim. Ela me cumprimento com um longo e caloroso abraço, e eu posso sentir o seu cheiro. Nessa hora tenho certeza de que aquela tarde vai ser boa.

Em tempos atuais
            Uma linda jovem se aproxima de um rapaz com uma expressão séria. Ele está mexendo no seu aparelho celular. A jovem diz:
- Olá, acho que estou um pouco atrasada do horário que combinamos. Tem algum problema?
            E o rapaz responde:
- Nenhum, cheguei uns vinte minutos antes de você. Comecei a mexer na internet do celular e mal vi o tempo passar. Nem percebi que você estava chegando.

Uma Crônica de Segunda #7

segunda-feira, 19 de dezembro de 2011 | Published in | 0 comentários

Uma coisa bastante comum para mim era entrar em lojas e nunca conseguir ser bem atendido. Os motivos eu nunca soube ao certo, não sei se era a cara de ressaca, as camisas de bandas de rock, o cabelo bagunçado, o tênis sujo, a cara de adolescente (ou jovem adulto), ou se simplesmente era tudo isso reunido.
A única coisa que eu podia ter certeza era que entrar sozinho numa loja para acontecer o mesmo ritual. A(o) vendedora(o) me olhava de cima a baixo e me atendia com uma tremenda má vontade, quase como se estivesse ma fazendo um favor. E não importava se eu acabava comprando algo ou não, a má vontade era a regra, a tônica da minha vida. Era quase kármico, ser mal atendido por vendedores era minha sina, o meu destino.
Acontece que o tempo passa e recentemente eu tive que comprar umas roupas novas, pelo motivo de sempre: trabalho. Só que dessa última vez algo diferente aconteceu, a vendedora veio, sorriu para mim e me atendeu gentilmente durante o tempo que permaneci na loja. Não comprei nada, mas o bom atendimento me impressionou. Na loja seguinte foi a mesma coisa, fui extremamente bem atendido e ainda fui chamado de senhor, por um vendedor visivelmente mais velho do que eu.
Eu sinceramente fiquei assustado. Foi uma brusca mudança na forma como eu sempre fui atendido em lojas. Passei o tempo todo esperando olhares de desdém, quando ao contrário, fui atendido com extrema cortesia. A única explicação é que eu devo estar ficando velho.
A idade parece trazer consigo uma certa respeitabilidade, mesmo para os chamados jovens adultos. Estar beirando os trinta passa uma imagem mais respeitosa do que estar beirando os vinte e agora eu pareço ser alguém mais sério, respeitável, um nobre cidadão que contribui ativamente para a sociedade, ou pelo menos os vendedores parecem estar pensando assim. Pena, eles não poderiam estar mais errados. 

Alergia ao Século XXI

sexta-feira, 9 de dezembro de 2011 | Published in | 1 comentários

Alergia ao Século XXI

Era uma vez um homem. Ele era um cara comum, como todos os outros, mas tinha algo nele que o tornava diferente: o mundo ao seu redor parecia feri-lo de alguma maneira. Ele se sentia sempre com um frio no estomago que não sumia por mais que ele tentasse, uma sensação de vazio que nunca ia embora mesmo se ele estivesse perto de pessoas que ele amava. Não era as pessoas do mundo que o deixavam assim, afinal existiam pessoas boas e pessoas más, era o mundo em si que o machucava, e fazia com que ele nunca se sentisse bem em lugar nenhum. Todos esses problemas o fizeram procurar um médico, e este médico não soube responder a fatídica pergunta: O que aquele homem tinha? Outros médicos foram procurados e todos não souberam dizer qual a doença que aquele homem tinha. Ele até mesmo apareceu num famoso programa de televisão procurando ajuda e não conseguiu descobrir o que tinha. Foi preciso que um famoso médico fosse trazido diretamente da Europa para avaliar o problema. Depois de meses de estudo o médico chegou a uma conclusão taxativa: aquele homem tinha alergia ao século XXI. A princípio todos ficaram espantados, como alguém podia ser alérgico ao tão esperado, aclamado e, até mesmo, quase ficcional século XXI? Mas para aquele homem, a resposta parecia fazer muito sentido. Ele, como todo mundo, ficava maravilhado com o século XXI e suas novidades. Ele admirava a expansão do conhecimento e a quebra de barreiras proporcionada pela internet no início do século XXI, mas não entendia como as pessoas preferiam conversar por e-mail do que pessoalmente, mesmo sendo vizinhas. Ele admirava a revolução sexual que acontecia e a quebra de preconceitos, mas não entendia como quanto mais os tabus sexuais eram quebrados menos se valorizava o amor. Ele admirava como os relacionamentos podiam ser tão diferentes, mas não entendia como as pessoas passavam menos tempo com uma pessoa só. Ele admirava as inúmeras tentativas de paz, mas não entendia como a paz podia ser um instrumento de guerra. Enfim, ele realmente acreditou no diagnóstico do médico, ele realmente tinha alergia ao século XXI, estava tudo explicado. Numa tentativa de viver sem os seus problemas alérgicos, esse homem se mudou para uma distante montanha afastada da sociedade, e lá viveu por muitos anos. Ele viveu muito mais do que qualquer outro ser humano, pois no alto da montanha não precisava se preocupar com o que as pessoas iriam achar dele, não via hipocrisia, não tinha stress, vivia em paz consigo mesmo e nunca mais sentiu aquele frio no estomago de novo. Ele estava curado.
E o tempo passou, no mundo sem aquele homem as pessoas mudaram, e depois de muito tempo perdido em brigas e discussões, em preocupações que em nada levavam, em valores falsos que não ajudavam a ninguém, elas perceberam que também faltava algo nelas, uma sensação de vazio que nunca ia embora, um frio no estomago que não sumia. Grandes cientistas pesquisaram o estranho fenômeno e nada descobriram, mas alguém se lembrou do velho homem que tinha esses mesmos problemas e que há muito tempo havia abandonado a sociedade. Todas as pessoas do mundo se juntaram e foram atrás daquele homem, e todos ficaram espantados ao verem que ele ainda estava vivo depois de tantos anos. Eles pararam e falaram para aquele homem tudo que sentiam e o homem olhava para eles como se olha para alguém que tem o mesmo problema que você e que por isso te entende. O homem contou para todo mundo como ele se sentia na sociedade e como os problemas dele acabaram quando ele foi viver nas montanhas. As pessoas ouviram e voltaram para suas casas e começaram a deixar de lado os falsos valores que defendiam e começaram a olhar nos olhos umas das outras sem mais desconfiar, valorizando mais o ser do que o ter ou parecer. Graças a isso o mundo havia mudado mais ainda, e a hipocrisia havia sido varrida da face da Terra, assim como o egoísmo e a destruição, o amor passou a ser cada vez mais celebrado e o ser humano não mais tinha preconceitos. Tudo isso por causa do homem que tinha alergia ao século XXI, por tudo isso as pessoas do mundo o chamaram para sair de sua montanha e ver o que ele havia feito, e o homem aceitou. Desceu de sua montanha e viu a sociedade que havia surgido, ficou espantado e feliz, pela primeira vez ele não se sentia incomodado no meio das pessoas, parecia que sua alergia havia acabado, era o primeiro dia do século XXII.

Uma Crônica de Segunda #6

segunda-feira, 5 de dezembro de 2011 | Published in | 0 comentários

Recentemente resolvi fazer algo que tinha um certo tempo que não fazia: ouvir Engenheiros do Hawaii. E ouvindo novamente algumas músicas que tinha tempo que não ouvia, pude perceber algo assustador: Humberto Gessinger, vocalista e letrista da banda, é capaz de ver o futuro.
A prova de que ele pode prever o futuro fica mais evidente quando se ouve a música “Além dos Outdoors”. A música já começa com a seguinte estrofe:
No ar da nossa aldeia
Há rádio, cinema & televisão
Obviamente nesse trecho podemos ver que o assunto é internet. O rádio, cinema e televisão que chega pelo ar de nossa aldeia vem pela rede de computadores. Essa música foi escrita em 1987, e esse trecho se refere a algo que somente se popularizou muitos anos após o lançamento da música. Essa música continua com o mesmo tema:
No céu, além de nuvens
Há sexo, drogas & talk-shows
Esta é outra referência clara a internet, onde a pornografia cada vez mais é transmitida pela rede. Falando em rede, nessa mesma música tem um trecho que fala As aranhas não tecem suas teias/Por loucura ou por paixão, lembrando que teia em inglês é web, temos outra referência a internet feita mais de vinte anos antes da popularização da mesma.
No dia-a-dia da nossa aldeia
Há infelizes enfartados de informação
Esse é outro trecho, que faz referência a quantidade de informação contida na rede mundial de computadores e ao mal uso que os usuários fazem do excesso de informação.
O refrão da música também comprova a existência do dom da previsão de Humberto Gessinger:
Você sabe,
O que eu quero dizer não tá escrito nos outdoors
Por mais que a gente cante
O silêncio é sempre maior
Interpretando esse verso, temos que a informação não mais está visível nos outdoors, e a propagando é vista apenas na internet. Também faz referência as conversas feitas por troca de mensagens instantâneas, pois afirma que quanto mais se grita nessas conversas feitas pela rede, mais o silêncio ao redor mostra-se maior.
Dessa forma ficou evidente que Humberto Gessinger é capaz de prever o futuro. Isso explica porque Carlos Maltz, o baterista original, veio pra Brasília pra ser astrólogo.

Só Isso?

sexta-feira, 2 de dezembro de 2011 | Published in | 0 comentários

O chão era coberto por carpete e os móveis eram todos de um tom claro feito para imitar perfeitamente madeira. Já havia passado pouco além das 18 horas, e como já era de se esperar em prédios públicos, aquele se encontrava praticamente vazio, com apenas alguns funcionário terceirizados da limpeza indo e vindo. E era nesse ambiente que ele esperava em frente ao computador. Já havia lido aquele relatório umas 3 ou 4 vezes e mesmo assim lia de novo, pois na verdade ele simplesmente não queria voltar pra casa. Ficar até tarde no trabalho, mesmo sem fazer nada simplesmente era uma desculpa pra ficar um pouco sozinho por lá.
Mexeu nos mesmos papeis novamente, e a vontade de ir para casa não vinha. Em casa, os pais lhe esperavam, mas mesmo assim a vontade de ir embora não vinha. O trabalho em si era monótono, repetitivo, mas pagava as contas. O problema era que sempre ficava para trás uma sensação estranha, como se estivesse faltando algo, e quase todos os dias ele se via olhando para o nada e pensando:
- Será que a vida é só isso?

            Era um ambiente estéril como se espera de qualquer hospital. O cheiro de éter era bem característico e o fluxo de pessoas indo e vindo era constante. Já fazia 2 anos que ela trabalhava naquele hospital e quase todos os dias eram iguais aos outros, apesar da variedade de casos que se sucediam.
            Ela tinha ralado muito para estar ali, faculdade de medicina não é fácil. A aprovação, o curso, a residência, tudo é complexo, extenso, cansativo, mas agora que o dito sucesso finalmente veio e ela começava a praticar a profissão que sempre sonhou, uma sensação de vazio ia e vinha e batia muito forte, e sempre parecia que algo estava faltando.
            Os plantões noturnos eram onde essa sensação vinha mais forte. As vezes, quando o fluxo de pacientes começava a rarear, ela saia para fumar um cigarro, e olhando para o escuro céu da noite ela repetia para si mesma:
- Será que a vida é só isso?

            Dizer que a vida dele tinha sido difícil seria uma das maiores mentiras que se pode contar. Ele fazia parte de uma minoria muito seleta da sociedade: aqueles que nasceram ricos. O pai havia enriquecido com uma série de empresas que ele nunca soube ao certo o que faziam. O velho pai trabalhava quase todos os dias da semana e talvez por esse motivo tenha morrido tão sedo, fazendo com que o filho único, na época com vinte e poucos anos, herdasse uma fortuna que faria com que nunca precisasse trabalhar na vida.
            Com dinheiro e sem precisar trabalhar a vida virou uma festa. Modelos, atrizes, álcool, drogas, luxo e conforto, tudo se sucedia na vida dele de uma forma que os simples trabalhadores somente podem sonhar. Mas as vezes, quando a ressaca dava um tempo e sua cabeça para de doer ele pensava se aquilo tudo não seria meio vazio, quase como se apenas se divertir o tempo todo não tivesse significado algum.
            Numa noite, após sexo e bebedeira com uma mulher que ele nem se lembrava o nome, ficou acordado olhando para o teto e sentindo o cheiro do suor dela. E nesse momento se pôs a pensar:
- Será que a vida é só isso?

            A pele era precocemente enrugada, marcada pelo trabalho ao sol. Mesmo com a roupa de proteção que usava o trabalho era duro. O sol era inclemente e a chuva trazia sempre o frio. Ela trabalhava como gari numa empresa de limpeza urbana, e depois de certo tempo já tinha se acostumado a acordar cedo e ao pouco luxo que a vida lhe concedia, mas essa era a única forma que cuidar dos três filhos que tinha. Marido? Esse a tinha abandonado quando as crianças ainda eram pequenas e desde então a vida parecia ter sido mais dura.
            Vivia num bairro pobre e sempre voltava pra casa com medo. Medo de assalto, medo da violência, mas acima de tudo medo de que o filho mais velho acabasse indo para o crime, e de todos esse medo era o maior e o mais presente.
            De vez em quando, esperando o filho mais velho voltar de lugares que ele nunca contava quais eram, ela ficava enrolada num cobertor puído vendo a programação da madrugada da TV e pensando consigo mesma:
- Será que a vida é só isso?

            “Deus é o que existe de mais importante e seguir seus mandamentos é a obrigação de todos”, esse era o pensamento que estava sempre na cabeça dela, uma mulher de classe média que a pouco passara dos 40 anos. Trabalhava, cuidava de casa, marido e filhos e ainda arrumava tempo para ajudar na igreja.
            Trabalho voluntário, obras assistenciais, ajudar o próximo, era visto como um dever, coisas que ela fazia por amor, apesar da aparente contradição. Mas as vezes ela se pegava pensando se o seu trabalho não era inócuo, afinal por mais que tentasse ajudar os outros, sempre haveriam muitos mais que precisam ser ajudados. Não importava o quanto fizesse, sempre era pouco e daí vinha uma sensação de vazio, quase como se algo sempre estivesse faltando.
            As vezes, podia ser no meio da missa ou ajudando em alguma obra da igreja, ela se via imersa em seus pensamentos e pensando:
- Será que a vida é só isso?

            Infelizmente todas as vidas se perguntam se a vida é apenas isso mesmo. Apenas uma sucessão de acontecimentos que não sabemos para onde vão ou de onde vem. Falta um propósito e quando encontramos esse propósito é impossível saber se é verdadeiro ou não. E justamente por isso, quanto mais se pensa no assunto, mais certeza se tem de que sim, aparentemente a vida é apenas isso, e não há nada além, nada mais a se fazer, apenas viver da melhor forma possível. 

Uma Crônica de Segunda #5

segunda-feira, 28 de novembro de 2011 | Published in | 1 comentários

O maior problema de qualquer sala de cursinho, não importa para que seja, são os estereótipos que sempre aparecem. Sempre tem a gostosona que mal aparece nas aulas ou que entra, fica 5 minutos e depois sai. Sempre tem os chatos que chegam mais cedo e guardam os lugares para os outros amigos chatos para sentarem na primeira fila. Tem sempre aquele que fica fazendo pergunta para o professor o tempo todo, mas não é para tirar dúvidas e sim para ficar testando o conhecimento daquele que está dando aula, e por aí vai. É a claro que eu tenho o meu tipo preferido, pra mim, o melhor estereótipo de todos é: a mulher que te desperta uma espécie de súbita paixão platônica. Trata-se de uma mulher que não precisa nem ser a mais bonita da sala, mas ela te chama atenção de alguma forma e irá despertar o seu desejo durante todo o curso, mesmo que você nunca troque uma palavra com ela.
Na última vez que fiz cursinho eu tinha a minha musa. O nome eu nunca soube ao certo, mas a imagem dela sempre vem nítida a minha mente. Não era alta, deveria ter por volta de 1,60, talvez menos, tinha um cabelo castanho escuro que se encaracolava nas pontas e descia até o meio das costas. Era bela, apesar de uma leve barriguinha que saltava de suas roupas. Sempre se vestia de maneiras sóbria, um terninho ou tailleur, o que demonstrava que deveria trabalhar em algum escritório de advocacia. A minha tese do seu local de trabalho era reforçada pelo fato de que ela costumava chegar um pouco depois do início das aulas, sempre com uma expressão atarefada no rosto, e assim ela entrava na sala. A aula ainda em seu início, ela entrava quebrando o silêncio sepulcral com o barulho de seus saltos batendo no chão. Para mim esse era o melhor momento da aula, ela entrando, atravessando o corredor entre as carteiras, pé ante pé, com o tempo parando ao seu redor e meu desejo crescendo. Sentado no fundo da sala eu pedia para que o tempo parasse e eu pudesse ficar ali somente a contemplá-la...
Um belo dia vejo o braço dela se levantando em meio a aula. Nitidamente iria fazer uma pergunta e eu poderia pelo menos saber como era sua voz. Nesse momento, ela com toda a sua beleza começa a fazer sua pergunta num carregadissimo sotaque nordestino, com certeza de Recife. Isso apenas contribuiu para me deixar com mais tesão por ela. A bela recifense, com toda a sua beleza e seu jeito característico de falar despertava meu desejo e nessa hora descobri que estava desenvolvendo um novo fetiche: eu simplesmente adoro mulher com sotaque.

Resistência

sexta-feira, 25 de novembro de 2011 | Published in | 0 comentários

            Era uma sala escura e isolada num bairro afastado do centro da cidade. Por motivos de segurança das partes envolvidas não podemos dizer em qual cidade eles se encontraram, muito menos o bairro ou o nome da rua. Os assuntos tratados por aqueles dois estava diretamente ligado ao futuro da humanidade, por isso tanto segredo sobre onde estavam ou quem eram.
            Chegaram separados, por caminhos diferentes. Na entrada do local foram revistados por seguranças e após levados para a sala isolada descrita acima. Após verificarem que nenhum dos dois trazia qualquer tipo de escuta e que não portavam celulares ou armas, a conversa começou:
 - Sinto informar, mas a conspiração é verdadeira. – Disse o primeiro deles.
- Isso é algo que já suspeitávamos há muito tempo. Você apenas confirma os nossos maiores receios. – Disse o segundo.
            E sim, a conspiração era verdadeira. Era terrível demais para se acreditar, e o primeiro, um infiltrado no meio dos conspiradores, ainda carregava em seu rosto as marcas dos traumas causados pelo que ouviu.
            Os dois ainda ficaram em silêncio algum tempo naquela sala, pesando as conseqüências do que acabava de ser dito. E após ter tomado um longo fôlego, o segundo, que parecia ser o líder ali, finalmente disse:
- É hora de organizarmos a resistência.
            Após isso saiu para dar um telefonema. O primeiro deles, o que revelou a existência da conspiração, manteve-se sentado, pensando em tudo que tinha feito.
            Sua missão fora simples na teoria, infiltrar-se entre os suspeitos e por fim descobrir se todas as suspeitas eram verdadeiras. E como já sabemos, as suspeitas eram reais. Foram anos sendo alguém que não, era apenas para confirmar a existência de uma sociedade secreta.
            Ele se inscreveu naquela faculdade de moda, meio que sem saber ao certo se as suspeitas eram reais ou não. Após anos tentando, finalmente conseguiu se encontrar com membros da conspiração e ser levado aos lideres.
 No mundo inteiro, grupos de estilistas se reuniam para traçar um plano escuso. A idéia original era que fosse exigido das modelos que ficassem cada vez mais esquálidas, eliminando as curvas que são naturalmente femininas. Era essa a explicação de porque o padrão de beleza havia mudado, a voluptuosidade fora substituída por mulheres praticamente disformes, que somente ao longe pareciam ter características femininas.
Mulheres magras, esqueléticas, eram criadas e colocadas na mídia, quase impostas aos homens, para que aos poucos o gosto deles por mulheres de verdade fosse eliminado. A beleza natural da mulher com curvas estava aos poucos sendo propositadamente eliminada.
Como disse antes, era um plano terrível, cujo objetivo nosso agente infiltrado não conseguiu identificar, e que no momento só podemos suspeitar.
Nesse momento, o líder voltou. Trazia um sorriso de satisfação nos lábios, e simplesmente disse:
- A resistência já começou!
            Por isso que lhes digo meus leitores, somente vocês podem resistir a imposição do modelo cruel que reduz as belas formas femininas a nada.
            Se você ainda insiste em achar seios e glúteos avantajados como algo bonito. Se algum dia você já chamou uma mulher de “gostosa”. Se algum dia sorriu satisfeito ao sentir a sua mão encher ao agarrar um peito ou uma bunda, então você faz parte da RESISTÊNCIA!!!!


Nota do Autor: Este é um texto satírico. Aos que se ofenderam, vão procurar algo melhor pra fazer. 

Uma Crônica de Segunda #4

segunda-feira, 21 de novembro de 2011 | Published in | 0 comentários

Uma vez vi uma charge do cartunista Arnaldo Branco que eu achei genial. Nela ele falava sobre o seu método para a escolha de filmes, um método chamado “deixe seus preconceitos correrem livremente”. Achei essa idéia interessante e comecei a tentar aplicar na minha vida, mas não para filmes e sim para música. Com um tempo, a idéia de deixar meus preconceitos musicais correrem livremente só me trouxe benefícios, e atualmente eu já tenho até uma pequena lista com preconceitos musicais já consolidados e que eu quero dividi-los com vocês:
  1. A menos que o nome da banda seja “Fulano e os Alguma Coisa” eu não ouço bandas cujo nome tenha mais de 4 palavras. Não sei de onde algumas pessoas acham que nome de banda tem que ser um período composto.
  2. Eu também não ouço nada que precise de mais de duas palavras para ser descrito. “Punk Rock” = bom, “Heavy Metal” = bom, Hardcore = bom; “Neo Metal Progressivo Gótico Melódico” = nem pensar e suma com essa coisa da minha frente.
  3. A menos que estejamos falando dos Titãs no início de carreira, eu também não vou ouvir qualquer banda que tenha mais de 5 integrantes. Qualquer coisa acima disso é palhaçada.
  4. No caso de bandas brasileiras, eu gosto de ver entrevistas com membros da banda. Se algum deles falar qualquer coisa “brasilianidade” como forma de descrever algo do estilo musical deles, eu também não vou perder o meu tempo ouvindo.
  5. E por último, eu não ouço nada que pareça feliz demais. A felicidade em excesso me soa falsa, tudo que é muito “felizinho”, muito “bonitinho” serve apenas para me irritar.
Essas são regras simples. Não são absolutas, mas das vezes em que as segui eu nunca me decepcionei. 

Bem Vindos ao Mundo Moderno

sexta-feira, 18 de novembro de 2011 | Published in | 0 comentários

Esta é a história de um pedaço da vida de Márcio. Não se trata de um período muito longo, mas sim de apenas um pequeno trecho no qual algo muito interessante aconteceu.
Márcio tinha acabado de terminar um namoro de quase 5 anos. Quase todas as pessoas ao seu redor tinham certeza de que ele iria se casar com aquela garota, afinal de contas ninguém passa 5 anos juntos por nada. Mas eis que um belo dia, por uma série de motivos que não convém aqui comentar, chegaram a conclusão de que deveriam terminar o namoro. Ambos choraram, ambos ficaram tristes, pois mesmo de comum acordo, quanto mais longo é um relacionamento, mais difícil fica ficar sem a pessoa, parece até que as pessoas se acostumam com a presença umas das outras, mesmo após o amor já ter ido embora.
Meio a contragosto, Márcio foi arrastado por alguns amigos para uma festa num desses bares que mudam de nome com freqüência, e na mesma semana que seu namoro havia acabado. Foi lá que ele conheceu Patrícia, conversaram um pouco, se afeiçoaram, e acabaram por trocar beijos e telefones. Em pouco tempo, menos de um mês, Márcio já estava namorando com Patrícia. Foi um absurdo disseram, e as frases ditas pelas costas de Márcio eram sempre as mesmas:
“Esse Márcio é um cachorro! Mal acabou com aquela menina e já está por aí, desfilando com outra bem na frente de todo mundo.”
“É um cara de pau esse Márcio.Tenho certeza que ele tinha essa aí com ele o tempo todo. Deve ter traído a antiga namorada o tempo todo com essazinha aí.”
“Márcio é um tremendo babaca!”


Agora iremos contar uma outra história, desta vez de Márcia. Não se trata de um período muito longo de sua vida, mas sim de um pequeno trecho no qual algo muito interessante aconteceu.
Márcia tinha acabado de terminar um namoro de quase 5 anos. Quase todas as pessoas ao seu redor tinham certeza de que ela iria se casar com aquele rapaz, afinal de contas ninguém passa 5 anos juntos por nada. Mas eis que um belo dia, por uma série de motivos que não convém aqui comentar, chegaram a conclusão de que deveriam terminar o namoro. Ambos choraram, ambos ficaram tristes, pois mesmo de comum acordo, quanto mais longo é um relacionamento, mais difícil fica ficar sem a pessoa, parece até que as pessoas se acostumam com a presença umas das outras, mesmo após o amor já ter ido embora.
Meio a contragosto, Márcia foi arrastada por algumas amigas para uma festa num desses bares que mudam de nome com freqüência, e na mesma semana que seu namoro havia acabado. Foi lá que ele conheceu Patrício, conversaram um pouco, se afeiçoaram, e acabaram por trocar beijos e telefones. Em pouco tempo, menos de um mês, Márcia já estava namorando com Patrício. Foi bem feito disseram, e as frases, ditas tanto pelas costas quanto diretamente para Márcia, eram sempre as mesmas:
“Você fez muito bem em terminar com aquele seu ex, o novo é muito melhor.”
“Márcia ninguém pode falar nada de você. Você é mulher e pode fazer o que você quiser e ninguém pode ficar te julgando. Julgar você é machismo.”
“Márcia, você é uma mulher que merece meu respeito. Fez muito bem em seguir com a sua vida.”

            Bem, só posso dizer que esse é o mundo moderno que vivemos. Sejam bem vindos a ele.

Uma Crônica de Segunda #3

segunda-feira, 14 de novembro de 2011 | Published in | 1 comentários

Visando me concentrar mais para estudar para um determinado concurso público, eu resolvi para de beber. É uma forma de me motivar: fico sem beber enquanto estudo e a possibilidade de voltar a beber me incentiva a estudar cada vez mais. Já fazem cerca de 5 meses que eu abri mão completamente de consumir álcool, o que é para mim um recorde. Esse é o maior período que eu já fiquei sem beber desde que eu tinha 15 anos.
Mas como é de se esperar nada vem de graça. A minha abstinência alcoólica trouxe consigo uma maior sensibilidade pra mim. Nos últimos tempos eu fiquei cada vez mais intolerante com coisas que eu relevava. Pseudo-intelectuais, poetas de segunda e revolucionários de boteco antes eram apenas motivo para um pouco de riso e, às vezes, escárnio, hoje eles já me despertam ódio. Pequenas coisas da vida que passavam por mim despercebidas, agora me irritam e me estressam de formas que eu jamais acharia que fosse possível.
O cúmulo de tais irritações extremas aconteceu a poucos dias. Estava dormindo no sofá e meu irmão fez uma brincadeira comigo que me acordou. Acho quer nunca disse tantos palavrões numa única frase, e acabei fazendo sérias ameaças a ele, que ficou espantado e sem saber o que fazer ao me ver de tal forma agressivo.
Nessa hora meus familiares se reuniram e eu acabei ouvindo dos meus pais algo que jamais achei que ouviria. Eles olharam sério para mim e disseram: “meu filho, por favor, volte a beber. A abstinência está te fazendo mal”. Acho que eles tem razão, mas vou ficar espantado com essa frase pelo resto da vida. Meus país querem que eu volte a beber, apenas porque assim eu me torno uma pessoa mais suportável.
E essa história me fez pensar em outra coisa. Se meus pais querem que eu volte a beber para ser mais tolerável, meus amigos então devem estar sofrendo muito mais. Infelizmente eu estou descobrindo que o álcool pra mim é uma necessidades, é a única forma de tornar as outras pessoas e a mim mesmo um pouco mais tolerável. 

Trocas

sexta-feira, 11 de novembro de 2011 | Published in | 0 comentários

            “O beijo é aquilo de mais íntimos que dois seres humanos podem compartilhar. Nem mesmo sexo consegue passar uma intimidade tão grande quando o beijo em si. Por esse motivo que as putas não costumam beijar seus clientes. O beijo é um momento de compartilhar profundas emoções, sem igual. Um momento no qual um pouco de você fica com a pessoa beijada e um pouco dessa pessoa fica em você.” Esses eram os pensamentos que passavam pela cabeça do JC de Moraes enquanto, entre sorrisos amarelos e elogios sinceros, ele assinava dezenas de livros em sua primeira noite de autógrafos.
            Os motivos que o levaram até ali eram absolutamente estranhos. E tão estranhos quanto os motivos era o que havia por trás daquele trajetória dita brilhante. Os caminhos que sua vida tomou eram influenciados de forma inusitada justamente pelos beijos que naquela hora ocupavam sua cabeça.
Mas vamos contar a história de forma mais completa. JC de Moraes era o nome pelo qual José Carlos Almeida de Moraes era conhecido. O nome de batismo havia sido substituído por “JC” já durante a infância, e o “de Moraes” foi incluído durante os primeiros anos como professor universitário.
            Ele havia passado no vestibular de sociologia de uma universidade pública federal. Os motivos de ter escolhido esse curso eram bastante simples: nota de corte baixa. O que levou JC a sociologia era simplesmente o fato de que era uma das notas mais baixas para aprovação no vestibular e ele precisava fazer algo agora que havia terminado o segundo grau.
            Passou na primeira tentativa e pouco tempo depois estava perdido em meio aos demais calouros do curso. E foi justamente no primeiro semestre que havia conhecido uma garota chamada Amanda. Pode-se dizer que ela seria quase o contrário dele: politizada, filha de professores universitários, havia escolhido aquele curso por vocação, apesar da capacidade estar até em cursos mais concorridos. Por não saber desse segredo de JC com relação a escolha do curso acabaram ficando amigos e de amigos em pouco tempo se tornaram namorados.
            A troca de beijos entre eles acabou por deixar algo em JC. Parecia que cada vez que dividia seu tempo com Amanda, mais ele se aproximava da sociologia e mais parecia gostar do assunto. Já na metade do curso, mesmo com o fim do namoro, algo de Amanda havia ficado em JC, e ele acreditava que era a paixão pela sociologia.
            Um tempo depois engatou outro relacionamento, desta vez com Paula. Alguém que ansiava pela carreira do magistério superior e os planos para depois de formada eram um curso de mestrado e posteriormente um doutorado. JC nunca havia pensado seriamente sobre esse assunto, mas a cada momento passado com Paula, a cada beijo trocado, a vontade de ser professor universitário parecia tomar conta dele. Era como se o contato entre as línguas trouxesse um desejo oculto de seguir carreira acadêmica, e mesmo com o fim desse relacionamento, JC prosseguiu com o mestrado e posteriormente um doutorado, este feito fora do país.
            A vida fora do Brasil estudando não é tão fácil como se pensa. Viver na França, estudando com bolsa, apesar de certas compensações, é difícil... Mas mesmo em meio a tantas dificuldades, um outro relacionamento surgiu. Ele estava no doutorado, ela no mestrado, ele brasileiro, ela francesa. Sophie, era uma bela loira européia, inteligente, mestranda em literatura que sonhava em escrever seu primeiro romance. O relacionamento entre os dois foi intenso e durou apenas o tempo do doutorado de JC. Distâncias impedem muitos relacionamentos, e a volta ao Brasil dele impediu a continuidade desse...
            De volta ao Brasil JC passou a subitamente se interessar por literatura. Era como se algo tivesse ficado dentre dele, a vontade de escrever um livro, um romance, algo fora do mundo dos livros técnicos. E essa vontade ficou dentre dele por um longo tempo e era concretizada nesta noite, com aqueles autógrafos que vinha dando.
            E era por esse motivo que ele pensava sobre o beijo. Todas as mulheres com quem tinha se relacionado haviam deixado um pouco delas nele. As três descritas aqui eram apenas as mais importantes, que duraram mais tempo, mas as que deixaram as maiores marcas. O amor pelo curso, a vontade de carreira acadêmica, a vontade de publicar seu livro... Tudo não estava nele de início e parecia ter sido transmitido por simples beijos.
            E ele estava ali, já passado dos 40, autografando seu primeiro romance e pensando em como tudo havia chegado até ali. Nos beijos que o haviam levado até ali, e pensar nisso só comprovava sua teoria de que beijo é mias íntimo que sexo. O sexo pelo sexo não era capaz de deixar tantas marcas como os beijos em seu passado o haviam marcado, trazendo vontades que até então não existiam.
            E esses pensamentos aos poucos se tornaram quase que uma verdade para JC. Em pouco tempo passou a ter certeza de que somente estava ali, autografando seu romance, por conta das marcas deixadas pelos beijos do passado. E dessa certeza veio outra, bem mais complexa. JC percebia por meio de seus alunos que cada geração era mais volúvel que a anterior e isso tinha explicação. Cada vez mais o momento íntimo do beijo era afastado em troca do simples prazer, e assim cada um adquiria cada vez mais experiência de cada vez mais pessoas. Se um pouco da pessoa fica em cada beijo dado, um pouco de muitas pessoas havia ficado nos jovens que agora eram seus alunos (e que muitos também estavam ali para o lançamento de seu livro) e que estavam trocando intimidades com cada vez mais pessoas. E a cada troca, novos desejos entravam, e a grande quantidade de desejos que entravam, cada vez mais constante e cada vez mais diferentes, tornavam as pessoas apenas mais volúveis. E isso explicava muitas coisas que ele via acontecendo ao seu redor.

Uma Crônica de Segunda #2

segunda-feira, 7 de novembro de 2011 | Published in | 0 comentários

Quase todo contrato de leasing costumava ter uma cláusula prevendo a cobrança do chamado “ressarcimento de despesa de serviços bancários”. Tratava-se da cobrança de cerca de R$ 4,50, as vezes um pouco mais outras vezes um pouco menos, mas que na prática nada mais era do que uma cobrança para que a financeira lhe enviasse o boleto bancário para pagamento. Não precisa dizer o absurdo que isso era, tanto é que após várias decisões judiciais declarando a ilegalidade dessa cobrança o Conselho Monetário Nacional a proibiu. 
Sim, eu tinha um contrato de leasing ainda vigente, e sim, nos meus boletos bancários vinha essa maldita cobrança. Mas que grande surpresa eu tive quando recebi uma carta de uma instituição financeira dizendo que, devido a ilegalidade da cobrança, eles iriam me ressarcir de todos os valores pagos por mim a título de “ressarcimento de despesa de serviços bancários”. A princípio eu não conseguia acreditar, afinal de contas a carta me orientava a ir numa agência bancária para receber dinheiro, e eu nunca tinha sequer ouvido falar de coisa parecida. 
Meio cético, procurei a uma agência desse banco e soube que a carta era verdadeira.Foi confirmado que eu tinha direito a receber tudo que paguei a mais, e com correção.
Feliz, me dirigi ao caixa para receber o dinheiro. Valor total: R$ 77,41. Mas o valor em si para mim não importava, também não importava o fato de que eles simplesmente estavam me devolvendo algo que eu já havia pago. O que importava de verdade era que pela primeira vez na minha vida eu fui a um banco para receber dinheiro. Saí de uma agência bancária com mais dinheiro do que quando entrei. Tenho a impressão de que isso nunca mais acontecerá de novo. 

Fútil

sexta-feira, 4 de novembro de 2011 | Published in | 0 comentários

Ana Carolina era o nome feminino mais comum que se pode imaginar, mas aquela “Ana Carolina” não tinha nada de comum. Era alta, longos cabelos pretos, corpo de quem passava horas na academia, uma verdadeira gostosa. Se vestia bem e mesmo com roupas ditas “sérias” para o trabalho, ela abusava de decotes e saias que moldavam seu belo corpo. Ninguém sabia ao certo os motivos pelos quais ela tinha sido contratada na empresa, mas haviam algumas suspeitas: ela era filha de um dos superintendentes, ela era comida por um dos superintendentes, ela era filha de um político e um superintendente estava fazendo um “favor’... enfim, várias eram as especulações, mas uma coisa era certeza: ela não tinha sido contratada por sua competência.
O momento que ela se levantava para buscar água ou café era um dos mais esperados do dia. Quase todo mundo parava para vê-la atravessar a área de trabalho com aquele rebolado que só ela tinha. Era um espetáculo que tornava difícil olhar para qualquer outra coisa. Até mesmo conversar com ela era difícil, pois por conta dos fartos seios e do amplo decote que sempre usava, muitos homens que a conheciam a anos não saberiam dizer sequer a cor dos olhos dela.
E como ela lidava com tudo isso? Bem, ela adorava ser o centro das atenções. Cada uma das roupas era cuidadosamente escolhida de manhã para provocar o maior número de homens possível. Ela era gostosa, sabia disso e não ligava se a achavam vulgar. Não tinha sido contratada por sua competência e sabia disso, era muito bonita e também sabia disso. Tinha todas as armas, armas que deveriam ser usada sempre que possível. E justamente por ser sempre o alvo das atenções de todos os homens (e muitas vezes alvo de inveja de várias mulheres) que aquele novo estagiário tinha lhe chamado tanta atenção. Ele foi o único que, enquanto ela desfilava em direção ao café, foi o único que a olhou, balançou a cabeça e voltou ao trabalho.
Ser ignorada por um homem era inacreditável. Ele simplesmente a olhou, e em seu olhar não havia desejo, não havia nada, e ele só voltou a cabeça para os papeis que estava lendo. Nenhum homem jamais a havia ignorado daquela forma, até mesmo os gays da empresa olhavam para ela, estonteados com sua beleza, e não seria um estagiário novo que ficaria sem contemplar toda a sua beleza.
No dia seguinte vestiu-se para matar. A roupa vermelha, o amplo decote e a saia grudada ao corpo era para chamar mesmo a atenção. Nesse dia ouviu comentários por toda a empresa sobre como ela estava linda, mas aquele estagiário nem mesmo se deu ao trabalho de olhá-la, e voltou a ficar compenetrado com seus papeis e no computador a sua frente.
Era um absurdo! No dia seguinte mais uma vez tentou chamar a atenção do rapaz e mais uma vez foi ignorada. E assim foi por quase uma semana, até que ela resolveu tirar satisfações, afinal não era possível que alguém a ignorasse daquela forma. Reservou um tempo durante o almoço para conseguir falar com o estagiário sem a presença de outras pessoas. Ele trabalhava apenas meio expediente, sempre depois do almoço, e sempre chegava cedo, ouvia um pouco de música e começava a trabalhar. Geralmente na hora que ele chegava a empresa estava vazia. E foi nessa hora que a conversa aconteceu.
Ana não sabia como começar a conversa, o que acabou fazendo com que optasse por uma abordagem mais direta. Puxou uma cadeira para o lado do estagiário e lhe disse com uma voz que faria qualquer outro suspirar de tesão:
- Oi tudo bom?
            Ele respondeu com um breve “oi”, e voltou a ler alguns papeis. Ela insistiu:
            - Por que você não olha pra mim quando eu passo? Tem algo errado comigo?
            Nessa hora o estagiário respirou fundo, deixou os papeis de lado e disse:
            - “Eu não acredito nas mulheres que não estão ao meu alcance”
            Ana ficou sem entender e deixou isso transparecer em seu rosto (não que conseguisse evitar). Mais uma vez o estagiário respirou fundo e continuou.
            - Esse é um trecho de uma música antiga. Olha para você, não vou negar que você é bonita, e eu por outro lado não sou. Também não sou rico, muito menos sou uma pessoa muito simpática. Admirar você é como o cachorro parado em frente a uma máquina de frango assado, desejando algo que nunca vai ter. Pra que vou admirar você tanto assim se sequer o pensamento de você querer alguma coisa comigo irá passar pela sua cabeça? Não sou rico, não sou o seu tipo, é perda de tempo te admirar.
            Nessa hora Ana se sentiu incomodada, indiretamente havia sido chamada de fútil e superficial. Respondeu meio que contendo a raiva:
            - Quer dizer então que você me acha tão superficial ao ponto de não quer nada com alguém se o cara não for bonito e rico?
            E ele respondeu prontamente:
            - Qual é o problema nisso? Você é fútil, todos somos fúteis. Eu apenas admito que isso é normal, e sigo o meu caminho sem me importar muito com isso.
            Nessa hora Ana ficou calada e saiu. Realmente nunca iria sair como um rapaz como aquele, mas mesmo assim sentia que ele deveria admirá-la, desejá-la...  Era como se algo não mais estivesse encaixando. Não era assim que o mundo dela funciona, ela era admirada e ponto, aquelas palavras ecoavam em sua mente e isso não a deixava em paz.
Voltou mais cedo do trabalho para casa e ficou com as palavras daquele jovem rapaz ecoando na sua mente. No dia seguinte voltou ao trabalho, não usava mais roupas tão provocantes. De repente, era como se chamar tanta atenção tivesse perdido completamente a graça. 

Uma Crônica de Segunda

segunda-feira, 31 de outubro de 2011 | Published in | 0 comentários

Esse é a primeira de uma série de crônicas semanais que pretendo fazer, agregando um pouco de minhas insanidades diárias. Por ser dia 31 de outubro, nada melhor do que esta primeira crônica tratar justamente sobre o famoso dia das bruxas.
Sei que as festas de halloween foram introduzidas aqui no Brasil por conta de filmes e seriados norte-americanos, e justamente por isso, alguns dizem que se trata de uma aculturação. Mas foda-se, este não é o assunto que eu quero tratar.  
Vou falar sobre algo realmente importante. O tema de hoje é sobre a primeira vez que ouvi falar desse tal de “halloween”.
Eu tinha por volta de 07 anos, e como era muito comum, passava muito tempo em frente a uma televisão. A televisão me mostrava a imagem de crianças fantasiadas e saindo de casa em casa pedindo “doces ou travessuras”, e eu, com aquela idade, ficava sem entender do que se tratava. Lembro que resolvi perguntar o que era o halloween para a única pessoa que, na época, parecia ter todas as respostas que eu precisava: minha mãe.
Me lembro que fui bem direto, virei para a minha mãe e perguntei: “O que é halloween?”. Minha mãe, meio sem saber como me explicar e, sendo uma pessoa mais velha que conhecia a tradição dessa festa apenas pela imagem passada por filmes, ficou um tempo em silêncio sem saber o que me responder. Ela estava pensando, tentando encontrar uma resposta para me explicar do que se tratavam as imagens de crianças fantasiadas pedindo doces que víamos na TV. Após esse breve silêncio, minha mãe encontrou uma resposta simples e baseada no que ela conhecia sobre o halloween. Ela me disse: “Ah, halloween é uma mistura de carnaval com Cosme e Damião”. Até hoje nunca encontrei definição melhor. 

A Vida Triste

sexta-feira, 16 de setembro de 2011 | Published in | 0 comentários

A vida não tinha sido das mais fáceis para João. Nasceu numa cidade do interior do Ceará, mudou-se para São Paulo quando criança, pois o pai buscava um emprego melhor do que a lida na roça. Trabalhou de pedreiro a vida inteira, acordando cedo, chegando em casa cansado e sem muita perspectiva de melhora. Nunca se casou, apesar de já ter tido algumas mulheres, também nunca teve filhos, pelo menos não filhos que sabia existirem. Agora aos 68 anos estava velho, cansado e completamente sozinho. Vivia triste e solitário, amargurado, seu único contato com outros seres humanos costumava ser em filas de hospitais e brigando com as crianças da rua que insistiam em jogar futebol justamente em frente sua casa. Ele era um velho solitário e rabugento, que vivia dizendo que a vida havia sido dura demais com ele. Esse tipo de vida que levava acabou por ser um problema, afinal, quando João morreu, sozinho em sua cama durante o sono, só descobriram o corpo quase uma semana depois, apenas por conta do mal cheiro. Enfim, aquela não tinha sido uma vida fácil.

Em outro lugar em outro plano de existência, algumas criaturas, cuja forma nossas mentes humanas são incapazes de imaginar, conversavam animadamente entre si:

- E aí? Como foi essa sua última vida?

- Ah, eu achei divertido, nunca tinha vivido uma vida triste. Foi a primeira vez que vivi uma vida desse jeito...

- Tá, mas conta mais.

- Bem, eu fui um cara chamado João. Solitário, sem filhos nem esposa que passou um monte de problemas na vida. Um sujeito bem besta na minha opinião. Ele sofreu muito e tal. Foi legal ser ele, porque foi diferente, mesmo quando encontrava uma vaga em vidas ruins sempre tinha alguma coisa que era divertida. Essa foi ruim do início ao fim, hehe.

- Sério? Achei que você tinha dito que gostou.

- Mas eu gostei. Foi como disse, foi divertido fazer algo diferente. Mas e você? Como foi a sua última?

- Ahh, eu acabei sendo um empresário bem sucedido, até bem feliz. Não gostei muito não. Te recomendei essa vida triste porque eu gosta mais dessas. Tipo, já vivi muitas vidas felizes, hoje em dia só essas tristes me dão emoção de verdade. Pra falar a verdade essa minha última vida foi bem sem graça...

- Não sei como você pode dizer isso. O drama todo que eu vivi foi legal e tal, mas nem é tão divertido assim. Acho que nunca vou entender essa sua fixação pela tristeza, hehe.

- Não é fixação pela tristeza. Na verdade é só porque ela costuma ser mais interessante de ser vivida. Esse povo que escolhe vidas felizes e tal, acaba que no final é tudo muito parecido. Apenas vivendo as vidas tristes é que conseguimos algum tipo de emoção de verdade.

- Ahh, fale por você. Eu gosto de umas vidas mais alegres. Gostei da experiência, tem seu charme e tal. Mas as vidas felizes parecem que passam mais rápido e você me conhece, eu adoro ficar mudando de vidas. Muito tempo em uma vida só me enjoa.

- Já eu acho que todos são muito curtas. Acho que você ta falando besteira. As tristes são mais divertidas, tem mais opções. A felicidade é sempre uma só, enquanto a dor e o sofrimento ocorrem de várias formas.

- Creio que nós não vamos conseguir convencer um ao outro né?

- Pelo visto, acho que sim. Vamos deixar essa conversa de lado. Acabou de sair a lista das novas vidas que vamos poder escolher, tô de olho em uma que parece que vai ser divertida: um cara que ao final da vida morre abandonado pelos filhos, não li o resumo completo, mas só esse pedaço já me chamou a atenção.

- Você e essas suas vidas tristes, hehe. Eu ainda não sei o que escolher, vou dar uma olhada na lista, mas com certeza, não tenho os mesmos gostos que você.

- É uma pena, mesmo porque você sabe que eu sou maioria. A maioria de nós acha mais divertido as vidas tristes, por isso essas sempre tem de sobra pra escolher.

Na saúde e na doença

sexta-feira, 3 de junho de 2011 | Published in | 1 comentários

O dia amanheceu e ele pode sentir os primeiros raios da manhã entrando pelo quarto. Não importava se era dia da semana, feriado ou domingo, ele sempre acordava na mesma hora, anos acordando sempre cedo acostumaram o seu corpo a isso. Olhou pro lado e viu a esposa deitada, ainda dormindo e roncando baixinho. Ainda a amava tanto quanto na primeira vez que a olhou dormir ao seu lado e sabia que eram um caso cada vez mais raro nesse mundo.

Já estavam juntos a mais de cinqüenta anos. Ele era Arnaldo José, o “seu Arnaldo”, ela era “dona Maria” sua esposa, e juntos tinha sete filhos, mais de trinta netos e já contavam com alguns bisnetos. Muitos anos juntos, muitos momentos compartilhados, e no saldo geral mais bons momentos do que ruins.

Seu Arnaldo se levantou com as dores no corpo que a velhice traz. Ainda estava bem forte para a idade que tinha, e achava que isso se devia as caminhadas logo pela manhã, aos livros que costumava ler e as palavras cruzadas, paixão que tinha vindo com a aposentadoria.

Trocou de roupa e saiu para sua caminhada matinal. Ao retornar, abriu a porta e sentiu o cheiro de café penetrando suas narinas. Dona Maria já tinha se levantado e estava com um roupão velho e puído, mas que ela adorava, e mesmo com os sinais da idade marcados no rosto, seu Arnaldo ainda achava sua esposa linda. Lhe deu um beijo e passou a ler o jornal em cima da mesa da cozinha. Moravam os dois sozinhos naquela casa simples mais confortável que ele tinha construído. Os filhos cresceram e foram embora criar sua própria família, mas sempre voltavam para aquela casa, trazendo os netos nos fins de semana.

Os netos... Bem, tinha-os de todas as idades. Alguns não moravam mais na mesma cidade que eles, outros ainda passavam lá depois da escola, e outros ainda nem tinha idade para saber direito o que acontecia ao redor. Ele e a esposa amavam a todos, vivam em função dos netos e até mesmo aprenderam a usar um computador para estar sempre em contato com os mais distantes... E justamente por conta desse amor não só aos netos como também a toda a grande família que a tragédia daqueles dias tornou tudo mais difícil.

Era um dia calmo, no meio da semana e no meio da manhã, seu Arnaldo estava deitado no sofá da sala fazendo algumas palavras cruzadas quando o telefone tocou. Era um de seus filhos, um que morava em outra cidade ligando. Estava ofegante, desesperado e com voz chorosa e perguntava se os dois idosos estavam bem. Seu Arnaldo respondeu que sim, deu um estranho olhar para dona Maria que tricotava ao seu lado, e perguntou o porquê de todo aquele desespero. Seu filho se limitava a pedir para ligarem a televisão.

Um noticiário, desses plantões urgentes, estava passando. Uma repórter, no centro da cidade onde viviam, informava que algum tipo de doença tinha atingido algumas pessoas. Ao fundo via-se dezenas de pessoas correndo desesperadas, cada uma numa direção, e ao fundo algumas outras pessoas pálidas, mancando, vinha em direção das outras. Aquela cena não fazia sentido algum, e a repórter falava coisas completamente sem sentido, como “mortos vivos”, “zumbis” e sabe-se lá o que mais. Para seu Arnaldo era algo completamente absurdo, e a única coisa que ele pensava é que deveria ser uma doença ou coisa assim. Falou com o filho que não tinha com que se preocupar, que a casa deles era longe do centro, que eles estavam bem e que a policia não ia deixar nada acontecer. O filho se acalmou, se despediram e desligaram o telefone.

Seu Arnaldo ficou pensando no que vira. Era uma doença estranha a daquelas pessoas e não conseguia entender porque corriam dos infectados. Tentou assistir um pouco mais daquela notícia, mas chegou a conclusão de que não fazia sentido e que o desespero era exagerado. Desligou a TV, terminou as palavras cruzadas e depois foi ajudar a esposa com o almoço, afinal alguns dos netos iriam para lá logo após saírem do colégio que ficava não muito longe.

Foi uma tarde normal, apesar das notícias vistas de manhã. Brincou com os netos durante a tarde e no começo da noite dois de seus filhos estiveram lá para buscar as crianças. Recebeu ligações de familiares durante toda a tarde, perguntando se estavam bem, respondeu que sim, que as coisas do noticiário eram num local longe, e que a policia já devia estar cuidando daquilo. Tudo parecia bem.

De noite, ligou a televisão novamente, a mesma notícia nos jornais. Mas as pessoas pareciam agora mais preocupadas. O centro da cidade era um caos, com carros virados e pegando fogo. A repórter falava sobre o caso, mas ao fundo os tiros chamavam mais atenção, ouviam-se muitos e a polícia parecia ter problemas para controlar a multidão que corria, bem como as pessoas infectadas com aquela estranha doença. Avisos foram dados para que ninguém saísse de casa e seu Arnaldo começou a ficar preocupado. Ligou para os filhos para ver se estavam bem, trancou as portas de casa, deu um beijo na esposa e ambos foram dormir.

Foi uma noite estranha. Não se ouviam muitos barulhos naquela região da cidade, mas algo parecia estar errado e o sono vinha difícil, agitado, isso quando vinha. Na manhã seguinte seu Arnaldo se levantou com os primeiros raios de sol da manhã, ainda estava preocupado e foi ligar a televisão.

Ainda se falava daquela estranha doença. Uma outra repórter dizia que a praga havia se alastrado e que a policia não conseguia impedir a confusão, e nesse momento seu Arnaldo achou melhor não sair de casa para caminhar. Ficou vendo o jornal, preocupado com sua família, tentou usar o telefone para ligar para os filhos, mas estavam mudos... Pegou o celular, ligou para um dos filhos, era estranho, mas o celular funcionou. Falou com os filhos que moravam naquela mesma cidade, estavam todos com medo, trancados em suas casas, e conversando decidiram que o melhor era esperar. A essa altura o exército já deveria estar fazendo alguma coisa.

Seu Arnaldo deixou portas e janelas trancadas e foi continuar a ver o noticiário. Sua esposa já havia levantado e via as notícias junto com ele. Conversavam e dividiam a preocupação com o restante da família. Ainda com medo e, a essa altura já sem muita vontade de conversar, almoçaram e dessa vez sem esperar a chegada dos netos, pois sabiam que estes estavam com os pais, trancados em suas casas esperando essa onda de terror passar. Tentou ligar novamente para os filhos, mas agora os celulares estavam mudos... Não sabia o que tinha acontecido e a preocupação só aumentava...

Pensou em sair e ir até a casa de um dos filhos que morava nas proximidades, mas enquanto tentava superar o medo e se preparar para sair começou a ver pela janela sinais de fumaça, negras, erguendo-se no horizonte e barulhos do lugar onde vinha a fumaça. Parecia que a confusão e aquela doença tinham chegado até eles. O medo tomou conta e o casal achou melhor não sair e esperar as coisas se resolverem. Se abraçaram e ficaram vendo as notícias na televisão...

O barulho apenas se aproximava deles, cada vez mais alto, mais forte, com mais gritos de dor e medo. Os dois idosos choraram abraçados, vendo as notícias. Eram mais estranhas ainda, a doença contaminava outras pessoas por meio de mordidas e arranhões, e os novos contaminados passavam a ficar também com a pele pálida, lábios escuros e olhos amarelados e sem vida, e depois disso passavam a ir atrás de novas pessoas que ainda não tinha a doença. Falava-se muito de como a doença agia e que deveriam correr de quem a tivesse, mas não falavam de onde essa doença tinha vindo. E no meio de uma dessas explicações, a televisão subitamente saiu do ar. Chuviscos preenchiam a tela e antes mesmo que pudessem trocar de canal, a luz da casa acabou.

Ficaram os dois ali abraçados, em silêncio, ouvindo o som de pessoas correndo na rua e gritando, e ambos tinham medo até de olhar pela janela. Pensavam nos filhos, nos netos, nos bisnetos e até em parentes distantes que não viam a anos.

Nessa hora ouviram o som de algo ou alguém batendo na janela. Olharam para o local e viram uma das pessoas infectadas, com todas as características que a televisão disse que tinham. Essa pessoa tentava entrar, e seu Arnaldo, mesmo com muito medo, se levantou, pediu para a esposa fica de olho e foi até os fundos casa. Ia procurar alguma coisa pra defender sua mulher caso aquela pessoa entrasse, ele estava velho, mas ainda era um homem que sabia defender sua família. Não tinham armas de fogo em casa e a melhor coisa que seu Arnaldo encontrou foi uma grande chave inglesa dentro de sua caixa de ferramentas.

Pegou a ferramenta, e medindo o peso, achou que seria o bastante para afastar alguém que lhes tentasse fazer algum mal. Nessa hora ouviu o som de vidro se quebrando e o grito de sua esposa. Correu para a sala onde estavam e viu a pessoa infectada mordendo o braço de dona Maria. Sem pensar duas vezes, seu Arnaldo bateu forte na cabeça daquela pessoa, mais monstro que humano, acertou a chave inglesa uma, duas, várias vezes, até aquilo cair no chão e parar de se mexer. O sangue escuro, quase negro, escorria pelo chão junto com pedaços do cérebro de um homem... Seu Arnaldo passou a tremer, nunca tinha matado uma pessoa, e mesmo tremendo pediu para sua esposa ter calma, pegou um kit de primeiros socorros e fez um curativo no braço machucado de dona Maria.

Depois de estancar o sangramento, choraram abraçados após se trancarem num depósito, um quarto sem uso e sem janelas onde guardavam algumas coisas velhas. Depois de um tempo, seu Arnaldo sentiu a pele da esposa ficando cada vez mais fria, ela tremia, e ele tentou confortá-la, e pouco tempo depois, dona Maria olhou para ele com aqueles olhos amarelados e sem vida e tentou mordê-lo. Seu Arnaldo se afastou rapidamente, aquela não parecia mais ser sua esposa, ela tinha sido infectada por aquela estranha doença.

Ela voltou a atacá-lo, ele a empurrou para longe. Ela se levantou e tentou atacá-lo de novo, e ele, mais por medo do que por qualquer outro motivo, agarrou a chave inglesa e acertou com força na cabeça da esposa. Destrancou a porta, saiu, trancou sua esposa dentro e foi tentar conseguir ajuda. Ter feito aquilo o abalou bastante, em mais de 50 anos nunca tinha seque ameaçado bater em dona Maria, e justamente naquele momento de desespero havia feito aquilo. Resolveu sair para a rua e ver se conseguiria alguma ajuda.

Na rua, parecia que o caos havia tomado conta. Poucas pessoas haviam, e essas corriam desesperadamente. As pessoas que tinham sido infectadas estavam parecendo animais, devorando algo que a muito parecia ser um dos vizinhos da rua. Seu Arnaldo sentiu nojo e quase vomitou, voltou em desespero para dentro de sua casa. Tentou os telefones, todos mudos. Não havia energia elétrica, num antigo rádio a pilha que encontrou, somente conseguia ouvir estática. Parecia que o mundo estava acabando, era o Apocalipse bíblico chegando até eles. Pensou nos filhos, nos netos, na esposa trancada e começou a chorar. Um turbilhão de emoções tomou conta dele e chegou a conclusão de que jamais veria sua família de novo. O fim dos tempos finalmente havia chegado e não havia nada do que ele pudesse fazer.

Nessa hora e com tais pensamentos em mente, seu Arnaldo tirou a camisa que usava. Nesta hora percebeu que era uma camisa azul, de manga curta e de botões, havia ganhado a mesma no seu aniversário do ano anterior, e havia sido justamente presente de sua esposa. Chorou mais ainda ao se lembrar disso. Pensou nos bons anos de casamento que tivera, nos bons momentos com a família, no sorriso dos netos...

Foi em direção ao quarto no qual a esposa estava trancada. Abriu a porta e o monstro que estava lá dentro olhou para ele e foi em sua direção. Deixou ser atacado e enquanto sentia os dentes de sua esposa entrando em seu pescoço, conseguiu repetir apenas para si mesmo: “na saúde e na doença”.

Amor e Cigarros

sexta-feira, 29 de abril de 2011 | Published in | 0 comentários

Aquele provavelmente era o boteco mais sujo e feio que ele já tinha entrado. Era impressionante: sujo do chão ao teto, paredes mofadas e descascando tanto quanto as velhas mesas de metal espalhadas pelo local, homens gordos e sem camisa tomavam cervejas baratas e falavam alto vendo um jogo de futebol numa televisão velha. Fabiano tinha entrada apenas para comprar uma carteira de cigarros. Um cigarro dos mais fortes para lidar com aquilo que ele sentia.

Tinha andado a esmo por um tempo, dirigindo sem rumo e remoendo antigos pensamentos. No meio desses pensamentos surgiu uma súbita e inesperada vontade de fumar, algo que ele não fazia já tinham 5 anos. Era estranho, porque o motivo pelo qual ele viria a voltar a fumar era exatamente o mesmo motivo pelo qual ele havia parado de fumar...

Quando adolescente, aconteceu a Fabiano o que acontece com qualquer adolescente fã de rock. É difícil não fumar num ambiente onde os seus maiores ídolos são fumantes inveterados e que qualquer ambiente de show possui um ar viciado em cigarros. O tempo passou e o vício foi ficando e se instalando, ao ponto de que a companhia do cigarro estava sempre presente. Amigos e mulheres iam e vinham, mas os cigarros sempre estavam lá com ele, isso é, até ela entrar na vida dele...

Ela era Natália, uma namorada que foi entrando na vida de Fabiano tão sorrateiramente quanto o cigarro havia entrado e que causava tantos problemas quanto este. Namoraram por 5 anos, e ela, por ser asmática, não podia com cheiro de cigarro. As vezes ela passava mal se Fabiano chegasse perto dela com aquele cheiro mais do que característico.

Desse jeito foi difícil o começo do namoro. Fabiano sempre com os cigarros ao seu lado e Natália passando mal até mesmo com a menção da palavra “cigarro”. Acabou que Fabiano, por ser início de namoro, passou só a fumar quando sabia que não iria encontrar com ela. Mas com o tempo, e com eles se vendo cada vez mais, gradualmente Fabiano foi deixando o cigarro de lado até ter totalmente parado. E exatamente no dia em que Fabiano e Natália tinham terminado, ao sair da casa dela, e andando a esmo ainda absorvendo o fim do namoro, ele sentiu a já mencionada súbita vontade de fumar. E foi assim que a relação de Fabiano com o cigarro, que já havia esfriado a anos retornou com força total.

As primeiras tragadas foram diferentes do esperado. Uma sensação da garganta sendo arranhada, a fumaça voltando a entrar nos pulmões, uma tosse que insistia em denunciar que havia tempo que ele não fumava... tudo isso não conseguiu impedir a volta da vontade, e em pouco tempo, a carteira de cigarros voltou a ser a companheira inseparável, quase como um amigo que a muito não se vê mas que quando se encontra com ele de novo parece que a amizade nunca acabou.

E assim continuou a vida de Fabiano e seus cigarros.

O tempo passou, e, como dizem, o tempo é capaz de curar todas as feridas. Contudo, ainda existia dentro de Fabiano uma ferida que parecia estar mal curada, uma ferida que possuía nome: Natália. Pensava muito pouco nela, mas nas poucas vezes que pensava, um sentimento forte, misto de agonia, dor e saudade, ainda lhe brotava no peito. O rosto dela de vez em quando aparecia em meio a fumaça do cigarro expelida por Fabiano.

E foi justamente num dia desses, de saudade repentina e inexplicável, que Fabiano encontrou com Natália. Coincidência, estavam ambos no mesmo bar, cada um com seu respectivo grupo de amigos.Em situações como essa ninguém nunca sabe o que fazer, mas podemos dizer que ambos sentiram a mesma coisa: um susto, seguido por um súbito calafrio, um suor repentino e por fim uma sensação de desconforto enorme. Como não havia outra forma de agir e ambos sabiam que ambos haviam se visto, sobrou apenas a opção de se cumprimentarem. Se cumprimentaram como manda o protocolo, trocaram sorrisos e uma conversa de breves amenidades e, não se sabe por iniciativa de alguém, acabou que ambos continuaram conversando, até que estavam a sós numa das mesas desse bar. O protesto de cada um dos grupos de amigos foi feito, mas por motivos inexplicáveis, tais protestos foram solenemente ignorados.

Natália se sentia bem conversando com Fabiano, somente uma coisa lhe chamava atenção: o maço de cigarros que estava sobre a mesa, ao lado do telefone celular de Fabiano. Ela não conseguia entender, afinal de contas, por várias vezes ela ouvira ele dizer que havia parado de fumar, pelo menos durante o namoro dos dois. Fabiano não conseguiu não perceber o olhar de Natália sobre o já habitual maço de cigarros e nessa hora ele percebeu que ela não sabia da volta de sua “antiga paixão” e assim antigas feridas de Fabiano se abriram de vez. Nessa hora ele pegou o maço de cigarros, olhou para eles, depois olhou no fundo dos olhos de Natália e assim soltou um longo monólogo:

- sabe Natália, eu havia parado de fumar por sua causa. Mas no dia em que terminamos, a primeira coisa que fiz foi comprar um novo maço de cigarros. Ao acender o primeiro, tinha uma sensação estranha... me fez mal, mas aos poucos eu sentia que a medida que soltava a fumaça era como se parte do que sentia por você fosse embora. Você sabia que eu tinha parado de fumar unicamente por sua causa, e durante todo nosso tempo juntos eu não senti mais falta nenhuma de cigarros. Mas foi só terminarmos que a vontade voltou com força total. Desde então voltei a fumar, e o cigarro está comigo sempre. Ele é meu companheiro e a única coisa que as vezes aplaca a dor que eu sinto no meu peito quando penso em você. Ainda sinto um pouco de raiva, de medo, de frustração, mas fumar afasta você da minha mente, afinal era uma das coisas que você mais odiava em mim.

Natália ouviu esse longo discurso, e fitou os olhos de Fabiano. Cabe aqui mencionar uma detalhe, a visão de Fabiano e Natália olhando um para o outro era um pouco desconcertante, afinal Fabiano tinha quase dois metros de altura, pele morena e cabelo sempre raspado, enquanto Natália tinha oficiais um metro e sessenta (sua verdadeira altura era inferior a isso, mas era um mistério nunca desvendado) cabelos castanhos claros e pele branca. Eles pareciam perfeitos opostos quando se encaravam.

Mas voltando a história. Como disse, Natália ouviu atenta o discurso de Fabiano e sua reação foi a mais inesperada possível. Ela se levantou, encaminhou-se em direção ao balcão do bar, sempre sob os olhares atentos de Fabiano. Ela voltou para a mesa, desembrulhou uma embalagem de chiclete, o qual tinha ido buscar no balcão, e colocou na boca de Fabiano e mandou-o mastigar. Ele obedeceu, em pouco tempo ela, com um guardanapo nas mãos, mandou Fabiano cuspir o chiclete fora. Ao cuspir o chiclete, Natália emendou um longo beijo em Fabiano. Fabiano nunca mais fumou novamente.

Infelicidade Compartilhada

domingo, 24 de abril de 2011 | Published in | 1 comentários

Ele estava com sérios problemas. Um relacionamento que ele não gostava, um emprego que ele não queria mais e uma família que lhe acabava com a paciência. O namoro começara e continuara ali, como quem não quer nada, e acabou ficando longo, tedioso, com sentimentos mortos e que somente continuava porque terminar e partir para outra era algo que dava muito trabalho e medo. O trabalho era tedioso, chato, mas pagava as contas e, infelizmente, por este motivo, o obrigava a continuar. E por fim a família, com suas insistentes cobranças de casamento e carreira não lhe davam apoio e somente serviam para aumentar o número de frustrações na qual vivia.

Ela já tinha sido muito bonita, mas o tempo e os problemas ajudaram a levar parte da beleza embora. Já estava formada a alguns anos, mas não conseguia arrumar um emprego. Tudo era sempre ou fora demais de sua área ou algo que ninguém mais queria fazer. Tinha a impressão de que os anos de faculdade haviam sido jogados no lixo e que sua vida seria para sempre uma sucessão de frustrações. Os sonhos da faculdade agora eram estranhas e distantes sombras que agora pareciam inalcançáveis. E comer acabava sendo uma boa forma de escapar dos problemas.

Ele teve a sorte de ser bem nascido. Família tradicional, rica, com bastante influência em diversos órgãos do governo. Toda a sua vida havia sido planejada desde o nascimento: o colégio onde estudou, a faculdade que cursou, o emprego que conseguiu e a rápida promoção que sucedeu. Contudo, ele sabia que quase tudo em sua vida fora escolha de seus pais. Não tinha noção da última vez que havia feito uma escolha por si mesmo, e vivia sem saber se vivia uma vida plena ou se simplesmente vivia por inércia, seguindo aquilo que seus pais indicavam. Havia chegado a uma posição que muitos invejariam, mas nunca teve certeza se era ali que queria estar.

Ela teve um filho jovem, com apenas 16 anos, e por conta disso teve que abrir mão de quase todos os seus planos. Os cursos fora do país, a faculdade em outra cidade, as experiências que teria... tudo tivera que ser jogado por fora por conta de uma gravidez indesejada. Possuía grande apoio de seus pais, mas a gravidez precoce a fez ter que abrir mão de todos os sonhos e se dedicar a outra vida, um filho cujo o pai agora parecia ignorar e a contribuição na criação era uma mísera pensão. O pai de seu filho ainda podia seguir todos os seus sonhos, e ela era obrigada a arcar com o peso da criação do filho.

Ele afogava as mágoas em copos de bebidas e relacionamentos efêmeros. Nada parecia ser permanente, a não ser o trabalho, a única coisa que era estável em sua vida. Tudo lhe era chato, e suas frustrações amorosas o levavam a cada vez mais se concentrar apenas em trabalho e aos poucos ele se afastava das pessoas. Copos de cervejas e mulheres saiam de sua vida, mas o trabalho era constante e cada vez mais saia menos. O trabalho virava sua única válvula de escape.

Os cinco tinham em comum apenas a infelicidade que cercava suas vidas e a amizade que os unia. Os encontros não eram tão freqüentes quanto deveriam nem tão divertidos quanto as lembranças mostravam, mas a amizade que tinham uns com os outros era a única coisa que alivia a infelicidade comum a todos. Juntos eles tinham o único sorriso em muito tempo, a única felicidade em muito tempo e a única real companhia em muito tempo. A amizade entre eles os dava força para continuar, e nas poucas vezes que se viam, os problemas que os cinco possuíam pareciam diminuir em frente a efêmera felicidade que tais encontros causavam.

A infelicidade de todos era compartilhada e assim a pouca felicidade que ainda possuíam e as lembranças desses bons momentos serviam de força para seguirem em frente por mais uma semana.

Cinema

segunda-feira, 4 de abril de 2011 | Published in | 4 comentários

Eu adoro cinema. Não tem jeito, não importa o quanto uma televisão fique grande, a maior TV do mundo nunca irá ser tão legal quanto ver um filme numa sala de cinema. É simples assim, um fato incontestável, a tela grande do cinema é incomparável.

Contudo, esse simples prazer vem se tornando cada vez menos prazeroso. Não que haja alguma coisa errada com o cinema em si, muito pelo contrário, o que atrapalha o cinema hoje em dia é o todo o ritual que agora se tornou obrigatório para se assistir um filme. E esse ritual está tirando toda a graça de ver um filme na tela grande.

Mas que ritual é esse? Você me pergunta, e eu respondo. Mas para isso vamos contar uma pequena história.

Você decidiu sair de casa para ver um filme. Pois bem, os problemas começam antes mesmo de sair de casa, afinal de contas escolher a sessão do filme é parte importante do ritual. Em qualquer filme, se a sessão for antes das 22 horas, você corre o risco de ficar cercado por adolescentes com hormônios em fúria, os quais irão gritar quando verem qualquer cena de beijo, de sexo ou quando um determinado ator e/ou atriz aparecer. Como eu detesto essa gritaria toda, e sei que, por mais bagunça que esses moleques façam o máximo irá acontecer com eles é ter um gerente que gentilmente irá pedir para eles se comportarem, só me resta ter a certeza de que é impossível ver um filme antes das 22 horas sem se irritar. Após as 22 a probabilidade desses problemas ocorrerem é menor, mas ainda existem.

Pois bem, escolhida a sessão das 22 horas, podemos passar a outro problema: ter que sair de casa pelo menos às 20 horas. Sim, duas horas antes. Como não mais existem cinemas que não estão dentro de shoppings, temos sempre que contar com o congestionamento para se chegar ao shopping, afinal não existe shopping em Brasília que não tenha congestionamento para chegar. Após o congestionamento para chegar ao shopping, temos a fila do estacionamento, a fila para comprar ingressos, a fila para entrar na sala de cinema, isso sem mencionar a fila para comprar pipoca a qual eu geralmente deixo de lado, afinal já estou de saco cheio de enfrentar filas.

Depois disso, finalmente podemos sentar para ver o filme. Vamos ignorar completamente o chão sujo e grudento do cinema e o fato de que cada passo é difícil, afinal os pés sempre ficam grudados na sujeira do chão.

Passemos direto pra parte boa, de sentar e ver o filme. Lembro de uma época que só existiam trailers antes do filme, agora é propaganda de bancos e sei lá mais o que. Sério, são quase meia hora de propaganda antes do filme começar de verdade.

Após ver o filme, o qual vamos supor aqui que foi tranqüilo e não teve nenhum imbecil gritando dentro da sala do cinema, vamos a mais filas: para sair da sala de cinema, para pagar o estacionamento, para sair do shopping...

São dezenas de filas para um simples ato de ver um filme. Chegamos ao ponto de que ver um filme no cinema se tornou uma atividade estressante. Precisamos passar por todo esse ritual apenas para vermos um simples filminho.

Sinceramente, depois de tudo isso, ainda tem gente que vem reclamar de pirataria. Um filme pirata me afasta desse ritual moderno e bizarro. Mas eu admito, se resolvessem os problemas acima descritos eu pagaria até o dobro pra ver um filme.