Uma Crônica de Segunda #10

segunda-feira, 27 de fevereiro de 2012 | Published in | 1 comentários

Nunca fiz amigos bebendo leite! Essa frase é quase um jargão comum a todas as pessoas que bebem (no sentido de ingerir bebida alcoólica). Eu, como bom bebedor, sou adepto dessa frase, afinal de contas já fiz grandes amigos a medida que virávamos copos de cerveja.
O problema é que essa frase as vezes soa meio pesada, quase que exagerada. É como se as pessoas que não bebessem não pudessem ter amigos.
Admito que as pessoas que não bebem são menos felizes, pelo menos no meu ponto de vista. Tem menos histórias para contar, menos momento divertidos. Mas isso não quer dizer que não sejam pessoas que não tem amigos, grandes amigos.
E pensando nas pessoas que não bebem, tentei me lembrar dos amigos que fiz sem qualquer ajuda do álcool, e cheguei a conclusão de que existe um outro fato socializador, tão forte quanto qualquer bebida que você possa ingerir. Algo que também serve para fazer amigos e que me ajudou a conhecer ótimas pessoas; Estou falando de vídeo games.
Tenho bons amigos que fiz por meio dos jogos eletrônicos (e muitos outros feitos por outros tipos de jogos) e esses amigos soa tão bons quanto os que fiz nos bares da vida.
Então a frase correta deveria ser: nunca fiz amigos bebendo leite, mas já fiz alguns bons amigos jogando vídeo-game. 

Olhares

sexta-feira, 3 de fevereiro de 2012 | Published in | 1 comentários

Ele tinha acabado de receber um convite para uma happy hour, um encontro com os amigos do trabalho numa sexta feira após o expediente. Era óbvio que ele ia aceitar: solteiro e morando sozinho não tinha motivos para chegar cedo em casa, além disso a semana tinha sido estressante, com milhares de problemas para serem resolvidos... Bem, se não eram milhares de problemas, eram no mínimo muitos, e os muitos problemas iriam dar um tempo pelo fim de semana. Essa simples situação merecia uma comemoração que só uma cerveja gelada pode trazer.
Também tinha um outro motivo para empolgar a saída, só que esse motivo era mais obscuro. Na verdade não era tão obscuro assim, as trocas de olhares, as brincadeiras, os flertes, todo mundo sabia que ele tinha uma queda pela Larissa, a que trabalhava no financeiro. E ela parecia ter uma queda recíproca, pois sempre respondia aos gracejos. Ela tinha confirmado que ia, e aquela poderia ser sua grande chance para transformar alguns olhares em beijos e algo mais, se tudo desse certo.
As horas demoraram a passar, mas as 18 horas chegaram. Saíram todos juntos em direção aos seus carros, de lá iriam para um bar perto dali.
O bar estava cheio, parecia que muitas outras pessoas tinham tido a mesma idéia de comemorar a chegada do final de semana. Com muito custo o grupo de colegas de trabalho, uns 10 ao todo, conseguiram encontrar uma mesa que os acomodasse.
Ele tinha conseguido um lugar bem ao lado da Larissa do financeiro. E a conversa seguia animada, ela rindo, ele também, parecia que a noite iria terminar bem. Mas algo estava chamando atenção demais dele, algo além de Larissa. Sentado atrás dela, numa outra mesa, tinha um homem. Olhava de relance, de canto de olho, e a cada olhada não sabia dizer se o conhecia ou não.
Deixou a conversa com Larissa esfriar um pouco enquanto se perdia no fundo da mente tentando pensar onde poderia conhecer aquele homem. O rosto não era estranho, mas por mais que tentasse não conseguia descobrir se o conhecia ou não.
A conversa com Larissa esfriava mais e mais, e ele nem ligava. Estava remexendo sua mente, atrás do lugar de onde conhecia aquele cara. Faculdade? Amigo de ex-namorada? Antigo trabalho? Não tinha mais nenhuma idéia e aquilo o estava irritando. De vez em quando o homem semi-desconhecido olhava em direção a sua mesa ou para a rua, e mesmo assim não conseguia reconhecê-lo.
A curiosidade já estava se transformando em agonia. Tinha que descobrir de onde conhecia aquele cara. Não é possível que alguém de rosto tão familiar pudesse ser apenas um desconhecido. E assim a mente voltou a remexer antigos rostos do passado no fundo da memória para tentar encontrar algum resquício de quem era aquele cara.
Quando já estava quase desistindo, chegando a conclusão de que jamais descobriria quem era aquele homem, o garçom veio e trouxe um guardanapo com um recado. Ele olhou e cometeu o erro de deixar as pessoas ao lado, incluindo a Larissa do financeiro, lerem também. No guardanapo estava escrito:
Vi que você me olhou o tempo todo. Também te achei lindo, vem conversar comigo gato.
            Não houve como conter os risos que se espalharam pela mesa. Não adiantou explicar que não era nada disso, que ele apenas tentava se lembrar quem era aquele cara, que o rosto lhe era familiar. Nenhuma das explicações dadas funcionou e todas pareciam igualmente mentirosas.
            Foi uma pena isso ter acontecido, nunca mais Larissa do financeiro flertou com ele de novo.