tag:blogger.com,1999:blog-75219016784319228312023-12-14T01:16:00.367-08:00Substantivo ColetivoContos e Crônicas de mais um na multidãoThiagohttp://www.blogger.com/profile/06811524587699682485noreply@blogger.comBlogger66125tag:blogger.com,1999:blog-7521901678431922831.post-41867704078162358722014-11-24T14:05:00.002-08:002014-11-24T14:10:39.482-08:00A Risada do Bode<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
Nota do Autor: O presente conto é continuação de <a href="http://www.osubstantivocoletivo.blogspot.com.br/2014/11/sangue-negro.html">Sangue Negro</a> (parte 01) e <a href="http://www.osubstantivocoletivo.blogspot.com.br/2014/11/crime-ambiental.html">Crime Ambiental</a> (parte 02) </div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
Brasília é uma
cidade planejada, toda dividida <st1:personname productid="em setores. Quadras" w:st="on">em setores. Quadras</st1:personname> residenciais tem seu lugar certo
e entre elas as quadras comerciais, isso sem falar nas quadras destinadas a
funções específicas. Uma dessas “quadras específicas” é um grande local chamado
apenas de “Setor Policial”, pois num mesmo espaço delimitado podemos encontrar
a sede da Policia Militar do Distrito Federal, a sede do Corpo de Bombeiros
Militares do Distrito Federal, a sede do Departamento Nacional de Polícia
Federal e a sede da Agência Brasileira de Inteligência. Se andar um pouco mais,
por dentro desse setor, é capaz de encontrar alguns prédios que normalmente não
seriam vistos num dia normal, e num desses prédios se passa essa história. Nas
entranhas do Setor Policial, depois de atravessar uma longa avenida e fazer
algumas curvas em ruas pouco movimentadas, você irá encontrar um edifício
baixo, de cerca de três andares. A construção parece ser antiga, e em sua
entrada está uma placa com uma inscrição que diz apenas “ABIN – Arquivo”, mas
isso é apenas a fachada do que acontece de verdade nesse local. </div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
Na verdade
esse prédio esconde uma extensa instalação, com pelo menos uma dezena de
andares subterrâneos, e no último andar, no mais baixo dos níveis, encontra-se
o órgão vital da mais secreta organização do governo brasileiro. Eles não tem
um nome fixo, seus relatórios são secretos e poucas pessoas, até mesmo do alto
escalão do governo, sabem que eles existem. E no fundo de uma sala
propositadamente mal iluminada, um general que já passou a idade de se
aposentar fica polindo sua mão de mecânica de metal enquanto dá ordens que
implicam a vida e morte de seres humanos e alguns outros que são quase isso. </div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
Era o início
da noite e o general estava polindo sua prótese. Apenas a mesa na ponta da sala
estava iluminada diretamente e ele estava sentado atrás dela. A prótese brilhava
refletindo a luz fraca do lugar. Era uma mão esquerda, de cor metálica prateada,
e não tinha nenhum movimento sendo apenas estética. O general estava com um
uniforme impecável, tinha um porte físico excelente para a sua idade além de
poucos cabelos brancos bem aparados que contornavam a sua cabeça, já que em
cima nenhum pêlo mais crescia. A chegada de seu convidado fora anunciada por um
tenente que lhe auxiliava como secretário. O general se levantou, ajeitou o
uniforme e foi dar boas vindas ao recém chegado:</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
- Boa noite Dr. Fernando Ueshiba.</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
- Boa noite General Otávio Castro</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
No
tom de voz utilizado e no cumprimento formal era possível notar o desprezo que
sentiam um pelo outro. Ali estavam dois homens que se odiavam profundamente e
não tinha a menor vergonha em esconder esse ódio. O Dr. Fernando Ueshiba,
aparentava estar beirando os 50 anos, descendente de orientais como o sobrenome
dava a suspeita, estava usando um terno bem cortado preto e na lapela brilhava
em dourado a insígnia de Delegado da Polícia Federal. </div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Sem
muita cerimônia o Dr. Fernando se aproximou mais, sentou-se numa das poltronas
em frente a mesa do general e disse ainda com tom de desprezo na voz:</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
- Por que o você me chamou aqui?
Sabe que não temos nenhum assunto a tratar, não desde aquele episódio no Mato
Grosso onde os seus monstros de estimação quase acabaram com a minha operação.</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
- Também não gosto da sua
presença aqui Doutor Fernando e não o teria chamado se não fosse essencial –
completou o general – Além disso, meus “monstros” ainda são mais efetivos do
que qualquer um dos seus agentes. </div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
A
tensão tomou conta do ar entre aqueles dois homens. Um breve momento de
silêncio tomou conta da sala, silêncio que só foi quebrado com o som da mão
metálica do general batendo na mesa. Logo após o general respirou fundo e
começou:</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
- Pois bem Doutor Fernando. Eu
sei da sua história, acompanhei-a de perto e apesar de não nos darmos bem,
agora temos objetivos em comum.</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Nisso
o delegado bufou e prontamente respondeu:</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
- Não general, não temos
objetivos <st1:personname productid="em comum. Voc↑" w:st="on">em comum. Você</st1:personname>
dirige uma agência secreta de psicopatas comprometidos em fazer a sua vontade.
Já eu comando uma delegacia especializada, subordinada à Casa Civil e comprometida
com a democracia. </div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
- Ora Doutor, no fundo sabemos
que nossa função é a mesma, e que a sua Delegacia foi criada apenas para
afrontar a mim – Respondeu o general com um sorriso nos lábios. </div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Antes
mesmo que o delegado pudesse responder, o general completou:</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
- Doutor Fernando, eu conheço sua
história, eu sei quem você é. Começou como agente da Polícia Civil de São Paulo
a mais de vinte anos atrás. Durante o seu tempo de agente você se formou em
direito e logo depois foi aprovado no concurso para delegado federal. Olha, seu
caso é raro, pouquíssimos delegados podem dizer que se formaram em direito no
Largo do São Francisco e você é um desses poucos.</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Para
o Doutor Fernando era estranho ter um quase inimigo sabendo tanto sobre sua
vida. E como delegado ele não poderia deixar por menos, e assim, com uma voz
igualmente incisiva, retrucou ao general:</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
- Eu também conheço você general.
Foi aprovado para a Escola Preparatória de Cadetes do Exercito, e com pouco
mais de 18 anos saiu de lá direto para a Academia Militar das Agulhas Negras. Após
4 anos saiu de lá, no auge da ditadura, como Aspirante à Oficial e em pouco
tempo já estava como tenente ajudando os outros militares a se manterem no
poder. Ainda como tenente foi designado para acompanhar a caça aos guerrilheiros
na Guerrilha do Araguaia e foi aí que você perdeu a mão. </div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
O
delegado nesse momento bufou, e mantendo o tom sério de sua voz, continuou: </div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
- Um jovem oficial é designado
para interrogar uma pessoa que estava ajudando os guerrilheiros a se esconderem
em meio ao pantanal. Como que por instinto, o jovem oficial viu uma pessoa, que
parecia ser um homem de cabelos ruivos, e tentou agarrá-lo pelos cabelos. O
oficial não se atentou para o fato de que o cabelo dele estava esvoaçante,
mesmo numa noite sem vento e dentro de um barracão do exército. Também não se
atentou que os pés do rapaz estavam virados para trás. Simplesmente foi lá,
achando que ele era só mais um guerrilheiro, sem camisa, amarrado a uma cadeira.
Tentou agarrá-lo pela nuca, puxando-lhe os cabelos e nesse momento a mão foi
completamente carbonizada. Torrada até os ossos. E em meio a dor, apenas viu a
criatura se soltar das algemas, como se nunca tivesse sido preso. Viu a
criatura ir em sua direção, rir e desaparecer num piscar de olhos. Como visto
General, eu também sei a sua história!</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
O
general tinha que admitir para si mesmo que estava impressionado. Lendas sobre
como ele havia perdido a mão esquerda se proliferavam pelo exército, todas
completamente erradas. Aquele homem ali na sua frente sabia a verdade e fazia
questão de contá-la ali naquele momento. </div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Então
o general se levantou, colocou sua mão metálica sob a luz, fazendo com que
brilhasse mais forte, e disse:</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
- Doutor, esse foi meu único
erro. Carrego-o por toda a vida, e você sabe muito bem que nunca mais errei
novamente.</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Ambos
ali se sentiam desconfortáveis. Duas pessoas que investigaram a fundo a vida um
do outro, que sabiam coisas que poucos sabiam. Cada um era um risco para o
outro e mesmo assim estavam ali. Nesse momento, o general resolveu colocar as
cartas na mesa e encerrar aquela discussão sobre quem sabia mais sobre o outro:</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
- Pois bem doutor. Apesar de você
negar, nossos trabalhos são parecidos. Depois do meu contato com uma criatura
que eu acreditava só existir em lendas, o Comando do Exército resolveu me
colocar para lidar diretamente com esses monstros. E assim eu comecei a ajudar
um outro general, que na época comandava esse departamento ainda no antigo SNI.
Com a morte dele, eu assumi, antes mesmo do fim da ditadura. Algumas pessoas
acharam que eu estava tendo influência demais nesse assunto, e então, no início
dos anos 90 foi criada a sua Delegacia de Assuntos Sobrenaturais, ligada a
Inteligência da PF. Você está nessa delegacia desde a sua época de academia,
mas tem somente 10 anos que você chefia esse trabalho, logo eu tenho muito mais
experiência que você. Tanto o meu departamento ligado a ABIN quanto a sua
Delegacia ligada à PF se prestam para apenas um serviço: contenção. </div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
A
expressão no rosto do Dr. Fernando era de estranheza, ele com certeza não via
seu trabalho dessa forma. E diante disso o general continuou:</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
- Sim, fazemos um trabalho de
contenção. Quando uma criatura sobrenatural começa a interferir demais num
determinado local, é nossa vez de entrar <st1:personname productid="em a ̄o. Essas" w:st="on">em ação. Essas</st1:personname> “lendas”
acabam prejudicando a população normal, e nosso trabalho é garantir que elas
continuem sendo apenas lendas para a maioria da população, e assim evitamos
pânico. Porém, meu trabalho é mais amplo que o seu. Eu não me limito apenas a
seres sobrenaturais, eu me livro de tudo aquilo que começa a chamar atenção
demais. As vezes um serial killer some, um estuprador aparece morto dentro de
uma cadeia, tudo isso é trabalho meu. Eu sumo com aquilo que a sociedade
hipócrita se recusa a punir de verdade. E para tudo isso, eu tenho a ajuda dos
meus operativos, por assim dizer. </div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
O
rosto do general estava duro e frio. E continuou falando calmamente:</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
- Sei que você acha absurdo, mas
nem sempre as regras conseguem resolver o problema. As vezes a única solução é
sumir com aquele que causa a discórdia. Como eu disse, meu trabalho é retirar
da sociedade de forma definitiva aqueles que atrapalham o <i>status quo</i> ou que chamam atenção demais sobre si. Um assassino que
se recupera ou um ser sobrenatural que quer se esconder dos seres humanos não
me incomoda, mas um <i>serial killer</i>
prestes a ser solto unicamente por uma limitação ridícula de 30 anos de prisão
ou um Pé-de-Garrafa matando e arrancando a língua de seres humanos, isso passa
a ser problema meu e eu resolvo do meu modo. E é por isso que lhe chamei aquiDr.
Fernando, você não está aqui por conta de seu trabalho na PF, mas sim por algo
que lhe atormenta desde os seus anos como agente da Polícia Civil <st1:personname productid="em S ̄o Paulo." w:st="on">em São Paulo.</st1:personname> </div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Nisso
o general estalou os dedos da única mão que lhe restava. Do meio das sombras do
gabinete mal iluminado saiu um jovem negro, aparentando ter 17 anos. Esse jovem
possuía um pequeno fiapo de barba negra crescendo no queixo, usava um terno
completo de excelente corte e que não condizia com sua idade aparente. Sobre o
bolso do paletó havia um bordado em dourado, três estrelas, formando um arco.
Ele carregava uma pasta nas mãos. O delegado olhou de soslaio para o jovem, e a
raiva transbordava em seus olhos, e nisso disse entre dentes num tom de voz
carregado de desprezo:</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
- Bode!</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Calmamente
o jovem virou para o delegado e disse num tom cortês:</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
- Senhor Fernando – cabe aqui
mencionar que ele enfatizou cada sílaba da palavra “senhor” – Me chamo Emiliano
Cândido da Silva, esse nome pelo qual o senhor me chamou não me agrada. Prefiro
ser chamado de “Dr. Emiliano”, pois após todos esses anos, doutorados não me
faltam, ao contrário do senhor bacharel em direito. </div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Sem
se importar muito com a reação do delegado federal, Emiliano jogou a pasta em
seu colo e continuou:</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
- Como o senhor sabe, eu dispenso
apresentações. Essa pasta em seu colo é a ficha criminal e algumas informações
de José Caetano Ferreira Sousa, conhecido como “Terror do ABC”. Nos anos 80 ele
foi conhecido por seqüestrar, violentar e matar jovens no grande ABC paulista.
E como o senhor também sabe, foi o senhor quem localizou e capturou esse
bandido ainda na sua época de policial civil <st1:personname productid="em S ̄o Paulo. Ele" w:st="on"><st1:personname productid="em S ̄o Paulo." w:st="on">em São Paulo.</st1:personname> Ele</st1:personname>
foi considerado insano pelo judiciário e recolhido a um manicômio, porém em
alguns meses ele completará 30 anos de reclusão e terá de ser solto, conforme
entendimento do STF. Porém, ele mesmo já afirmou que assim que sair, a primeira
coisa que fará será matar e violentar novamente. O general me incumbiu de
coordenar a missão que levará a morte desse bandido antes mesmo que ele faça
mais uma vítima, porém não temos informações sobre para onde ele irá após sua
saída do manicômio judicial. O que nos leva ao senhor, a única pessoa que ainda
tem informações sobre esse caso e tem contato com os familiares dele. Pelo que
sei, as pistas que levaram a captura foram dadas por pessoas da família desse
“terror”. </div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
O
Delegado estava perplexo. Uma informação como essa com toda certeza teria sido
difícil de conseguir. Ele ainda guardava na cabeça o nome de alguns parentes do
“Terror do ABC”, uma mãe já idosa e alguns irmãos que simplesmente resolveram
esquecer a existência desse membro da família. Era uma família que já havia
sofrido muito, tendo de mudar de estado para se livrar da imagem que o
assassino tinha deixado. Viviam agora no interior da Bahia e apenas o Delegado
sabia os seus nomes de cabeça. </div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Eram
nomes que ficaram na sua memória. Difícil esquecer uma mãe, que desesperada
comparece a uma delegacia de madrugada para denunciar o próprio filho,
assassino e pedófilo. Ele, escondido dos demais colegas da policia, ajudou
aquela senhora e sua família a abandonarem o ABC e começar de novo em outro
local, mas isso ninguém da polícia sabia. Eles ainda trocavam esporádicas
cartas. Ou alguém da família tinha falado demais ou alguma dessas cartas havia
sido interceptada, não tinha como saber. </div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Restava
apenas esquecer como eles tinham aquela informação e agir de verdade conforme
sua consciência. Nisso, o Delegado disse:</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
- Não vou colaborar com vocês.
Vocês me pedem para que eu ajude em um assassinato a sangue frio. As leis podem
não ser perfeitas, mas estão ai para serem cumpridas, ainda mais por mim, um
delegado da PF. Não vou compactuar com isso. Eu faço um trabalho, mas ajo
dentro da lei e seguindo as regras. Saber que vocês me pedem que colabore num
assassinato vai contra tudo que eu acredito. Prefiro o peso na consciência do
que matar alguém pelo simples risco dessa pessoa existir. Não é isso que eu
aprendi na faculdade, não é isso que aprendi com o direito criminal e não é isso
que aprendi em meus anos como policial. </div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
- Ora Doutor. Essa não deve ser a
primeira vez que o senhor precisa violar alguma regra. Só pedimos algumas
informações, suas mãos continuarão limpas. – Disse Bode com um sorriso nos
lábios. </div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
- Não!Vocês simplesmente acabaram
me provando que eu estou certo. O General aqui realmente comanda um grupo de
monstros sanguinários. Não vou ajudar vocês. Você Bode, e seus amigos não são
diferentes das criaturas que capturamos. E saibam que pela forma como vocês
agem, mais cedo ou mais tarde eu receberei ordens de vir atrás de vocês. </div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Nisso,
Dr. Fernando Ueshiba jogou a pasta no chão, levantou-se e saiu da sala,
escoltado pelo silêncio das duas outras pessoas ali presentes. </div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
- Eu sabia que ele iria se
recusar a ajudar. </div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Foi
o que Bode disse, com um leve sorriso nos lábios.</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
- Se sabia que ele não iria
ajudar, por que me pediu para marcar essa reunião com ele?</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
- Ora general, parece que você
não sabe se divertir. Ao ver as notícias na televisão sobre a morte do “Terror
do ABC” ele saberá que fomos nós que fizemos e irá ficar se remoendo por não
ter tentado nos impedir.</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
- Você é louco. Todo mundo acha
que você é o mais sensato dos três, mas você é o mais cruel. </div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
E
após dizer essas palavras, o general sentou-se em sua poltrona e riu, dizendo:</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
- É por isso que gosto mais da
sua companhia do que da companhia dos outros. Mas não vá contar isso a eles. </div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
- Eu sou um gênio louco e você
gosta disso, general. E tudo é culpa de um velho padre. Na fazenda todo mundo
sabia que eu era mais esperto que os demais, mas quis o destino que um velho
padre resolvesse me ensinar a ler e escrever, o que aprendi bem rápido. Quis o
destino também que um bando desgarrado de lampião fosse até a fazenda onde eu
estava com o padre, e quis ainda o destino que eles precisassem de alguém que
soubesse ler as instruções de um mapa...</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
- E eles te obrigaram a ir com
eles e você estava com os outros dois quando do meteoro. E você usou todos os
seus anos a mais para estudar sobre tudo e mais um pouco. Você tem doutorados
em dezenas de áreas diferentes nas mais diferentes universidades do mundo. Emiliano,
eu já ouvi essa história dezenas de vezes. </div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
- Ahh general, vocês militares
tem o problema de sempre irem direto ao ponto. Em pouco tempo o bandido vai
sair livre, eu vou matá-lo e com isso mexer um pouco com a cabeça do nosso
delegado pelo simples prazer de fazer isso. </div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
No noticiário da noite de um
grande canal de televisão a notícia foi a principal manchete. O Terror do ABC
havia sido assassinado em Feira de Santana, interior da Bahia, menos de um mês
após ter saído do manicômio judicial. O assassino era um jovem de 17 anos que
ele havia encontrado na rua e tentou abusar sexualmente. Não precisa nem dizer
que o jovem sumiu sem deixar qualquer rastro. </div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
E vendo essa notícia, Emiliano
Cândido da Silva, o Bode, soltou uma risada que ecoou por todo o apartamento
funcional em que morava na Asa Sul em Brasília. </div>
Thiagohttp://www.blogger.com/profile/06811524587699682485noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7521901678431922831.post-58702323360214082102014-11-24T14:02:00.003-08:002014-11-24T14:02:31.774-08:00Crime Ambiental<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
Nota do Autor: O presente texto é continuação do conto <a href="http://www.osubstantivocoletivo.blogspot.com.br/2014/11/sangue-negro.html">Sangue Negro</a></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
Para o
restante do país chega a soar estranha uma afirmação como essa, mas um dos
maiores eventos de samba do Brasil é realizado <st1:personname productid="em Manaus. Anualmente" w:st="on">em Manaus. Anualmente</st1:personname>
o “Samba Manaus” no sambódromo da cidade atrai uma multidão para curtir um
samba, se divertir e dançar; por óbvio o clima de namoro entre os presente é
forte. Dificilmente um homem consegue sair da festa sem conseguir beijar pelo
menos uma bela mulher. E justamente por esse motivo que aquela era a
oportunidade perfeita para conseguir mais uma vítima. </div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
Tudo bem,
“vítima” era uma palavra excessivamente forte, afinal de contas ele não fazia
nada demais. Conseguir sexo, consensual diga-se de passagem, dar um nome falso,
um número de telefone mais falso ainda, e depois sumir, ainda não era
considerado crime, apesar de ser uma conduta reprovável... para algumas pessoas,
é claro. </div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
Aquela noite,
indo para a festa, ele tinha se arrumado para chamar atenção da mulherada. Era
alto, ombros largos e um corpo que parecia ter sido construído a base de muita
academia. Não era excessivamente forte, mas na medida. Por onde andava as
mulheres paravam e olhavam para ele. Estava vestindo uma bermuda de alfaiataria
comprida até pouco abaixo dos joelhos e uma camisa com gola em “V” de cor clara
que, por ser justa, salientava ainda mais a beleza do seu corpo. Além disso,
usava também um belo chapéu de abas curtas, branco com listras pretas, e que
compunha muito bem o visual. </div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
Quando chegou
ao evento, o lugar estava lotado. Milhares de mulheres, lindas, praticamente
desfilavam pelo lugar, dançando, sorrindo e bebendo, e todas elas eram alvos <st1:personname productid="em potencial. Ele" w:st="on">em potencial. Ele</st1:personname> com
toda certeza sairia dali acompanhado por alguém, e alguém linda, afinal de
contas seus padrões eram altos. </div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
E
foi num momento como esse, andando meio que sem rumo, observando a beleza das mulheres
que ali estavam que viu a escolhida daquela noite. Ela deveria ter por volta de
1,75 de altura, tinha a pele escura e os cabelos lisos e negros, lábios carnudos
e olhos também negros e profundos. Algo nela revela que seus antepassados eram
negros e índios, numa combinação de genes que não se poderia dizer qual
predominavam. Usava um vestido branco com detalhes em vermelho, colado ao corpo
escultural. Ela estava dançando sozinha no meio da multidão e a luz do local
parecia iluminar apenas a ela, fazendo com que ela fosse o objeto de desejo de
todos os homens e a inveja de todas as mulheres (se bem que algumas das
mulheres ali presentes desejavam seu corpo e alguns dos homens lhe tinham
inveja). Era uma mulher espetacular, que chamava atenção mesmo não querendo
fazer isso. Era uma gostosona, uma delícia, que conseguia ser ao mesmo tempo
bonita, sensual e voluptuosa. </div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Ele
foi em direção a ela e entrou em seu campo de visão. Quando seus olhares se
cruzaram, ele deu um sorriso e ela sorriu de volta, e esse era o sinal de que
ele precisava. Se aproximou e começaram a dançar. Eles nunca tinham estado
juntos antes, mas dançavam como se já fizessem isso a anos. Dançando, eles
transmitiam um tremendo desejo e sem mal trocarem um palavra estavam se beijando.
Os beijos eram cada vez mais intensos, parecendo que iriam fazer sexo ali
mesmo, as mãos percorriam os corpos um do outro demonstrando desejos que em
breve seriam saciados. </div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Saíram
dali e foram em direção a zona portuária do Rio Amazonas por exigência dele.
Pegaram um taxi e praticamente fizeram um show particular para o taxista.
Desceram, ele pagou a corrida. Continuaram se beijando enlouquecidamente, se
agarrando, deixando o desejo transparecer para quem quisesse ver. Num momento ele a agarrou pelos ombros e
olhou no fundo de seus olhos, e foi nessa hora que um forte e bem colocado
golpe acertou sua jugular, interrompendo o fluxo de sangue e o levando ao
desmaio em poucos segundos. Sua visão ficou turva e foi escurecendo, ele foi
caindo no chão, e antes de apagar completamente pode ver um sorriso de vitória
no rosto daquela bela mulher. </div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
O
lugar era uma casa de madeira que parecia ser longe da cidade, afinal o único
barulho que se ouvia era o correr das águas do Amazonas. Ainda era noite, mas
não faltava muito tempo para o amanhecer, e por isso estava ainda muito escuro e
o fato de estarem longe da cidade deixava o local mais escuro ainda. Ele fora
amarrado numa cadeira no meio do único cômodo da casa e estava desmaiado. Na
outra ponta, estava ela, não mais usando o vestido e sim uma calça preta e uma
camisa tipo pólo feminina, também preta. Na camisa chamava a atenção uma imagem
sobre o peito, um arco horizontal com três estrelas bordadas <st1:personname productid="em dourado. Ela" w:st="on">em dourado. Ela</st1:personname> estava
mexendo numa mesa, a qual continha um grande aquário cheio de água do rio, mas
sem nenhuma criatura viva, além de algumas facas, armas de fogo e um telefone
via satélite. </div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Ela
se espreguiçou, como se fosse iniciar um trabalho simples e monótono, estralou
os dedos e depois agarrou uma das facas que estava sobre a mesa. Aproveitou que
sua vítima ainda estava apagada, amarrado na cadeira, e resolveu conseguir
algumas informações a mais. Tirou o chapéu do homem e confirmou a sua certeza,
vendo um orifício no topo da cabeça dele, o qual se mexia levemente e de forma
ritmada. Não havia dúvidas de que aquele homem respirava por aquele orifício.
Nisso olhou fixamente para o chapéu dele que ainda estava em sua mão esquerda.
Levantou o chapéu até a altura de seu rosto, apontou a faca que estava em sua
mão direita para o chapéu e disse numa voz firme e direta, com um leve sotaque
do nordeste:</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
- Me conte a história dele e
talvez eu te deixe ir embora. Quero saber algumas respostas.</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Nisso
o chapéu aos poucos foi se transformando numa arraia de água doce. Ela mais do
que depressa jogou a arraia no grande aquário que estava sobre a mesa. A água
entrou pela boca da arraia e saiu pelas guelras, parecia que a criatura voltava
a respirar. Após algumas respiradas, a arraia projetou parte do corpo para for
do tanque e disse:</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
- Finalmente aconteceu... eu
sabia que mais dia ou menos dia as merdas que ele fez acabariam por colocar a
gente em encrenca. – E nisso voltou-se para dentro do tanque novamente para
continuar a respirar.</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Então
ela se aproximou do aquário, abaixou-se quase colando seu rosto no vidro, e
numa voz mais autoritária ainda disse:</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
- Eu não quero saber o que ele
fez. Tudo que ele fez eu sei, mas o único motivo dele ainda estar vivo, e você
também, é que eu não sei por que ele faz isso. Eu quero uma resposta e uma
resposta agora. </div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Bolhas
saíram do aquário, quase como um suspiro da arraia, que então, projetou-se
novamente para fora do aquário e começou a falar:</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
- Bem, você já deve saber que ele
não é humano. E já deve saber também que ele é um boto. Não um boto qualquer,
mas um boto que pode se transformar em humano nas noites de festa e procurar se
acasalar com mulheres humanas. As lendas são reais, e ele deve ter uma
quantidade razoável de filhos espalhados por aí que jamais saberão quem é o
pai. </div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Nitidamente
sem paciência, a mulher retrucou:</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
- Você só está me dizendo coisas
que eu já sei. Me conte logo o que eu quero saber. Não tô aqui pra perder meu
tempo descobrindo que certas lendas são reais, disso eu sei a muito tempo. Não
é por ele ser boto que ele está aqui, ele está aqui pelo que fez com aquelas
meninas, e é isso que eu quero saber. </div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Mais
uma vez a arraia tinha voltado para dentro do aquário para respirar. A arraia
abriu a boca e deixou entrar uma quantidade de água maior que o normal, e então
projetou seu corpo para fora do aquário novamente e disse:</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
- Tudo bem. Não vou mais enrolar.
Ele é diferente dos demais botos. Como reza a lenda, uma arraia sempre
acompanha o boto para ser o seu chapéu e já fazem mais de 50 anos que eu
acompanho esse aí. No começo era divertido, eram tempos mais simples, com
pessoas mais inocentes, íamos as festas, ele dançava, arrumava uma mulher e
satisfazia suas necessidades. Eu nunca senti atração por fêmeas humanas, mas
acabei me acostumando a ele, antes eu era um simples animal nadando pelo rio...
Junto dele eu passava a ter consciência, pensar, passava a ter essa dádiva que é
ser consciente sobre mim e sobre o mundo. </div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
A
bela mulher parecia cada vez mais sem paciência. Respirava fundo, quase bufando
de raiva. A arraia não se mostrou insensível a isso, e com medo, continuou:</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
- Depois de algumas andanças ele
simplesmente resolveu que não voltaria mais para o rio. Ao invés de esperar as
festas acontecerem ele iria ir atrás das festas, acho que foi nessa época que
ele se viciou em sexo, mas não sei ao certo. Com o passar dos anos ele pôde
perceber que envelhecia de forma diferente, algumas vezes ele passava muito
tempo sem demonstrar nenhum sinal de envelhecimento, outras vezes ele parecia
envelhecer anos numa única semana, e o mesmo acontecia conosco. Demorou um
pouco, mas percebemos que todas as vezes que ele fazia sexo com uma virgem ele
não envelhecia, porém quando a garota já havia sido tocada por outros homens
ele parecia envelhecer mais rápido. Durante anos foi fácil nos mantermos
jovens, sempre haviam garotas jovens por aqui. Não que ele dispensasse as
outras, para ele sempre era bom fazer sexo, mas pelo menos uma vez por semana a
garota deveria ser virgem se não, nós envelhecíamos. Só que os tempos mudaram,
veio esse revolução sexual e as mulheres pararam de se importar em estarem
imaculadas para os futuros maridos. Ficava cada vez mais difícil encontrar uma
mulher virgem e passamos a envelhecer mais rapidamente. Num ato de desespero
para se manter sempre jovem, ele teve uma idéia. Resolveu procurar mulheres que
ele sabia que com certeza ainda mantinham sua virgindade. E assim ele passou a
procurar mulheres cada vez mais novas, muitas vezes meninas. E os anos se
passaram e as meninas foram ficando cada vez mais jovens, até que ele começou a
usar a força para ter o que queria. Já a alguns anos que ele usa da violência
contra meninas, muitas com menos de 10 anos, tudo isso para se manter jovem e
poder continuar fazendo sexo com as mulheres da região. A décadas que ele não
precisa assumir a forma do boto e tudo isso por conta da virgindade que ele
toma dessas meninas. </div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Um
súbito ódio tomou conta daquela mulher. Ela precisou se controlar para poder
falar. Aquele boto era um monstro, violentando meninas, tirando sua inocência,
apenas para continuar sempre jovem e sair por aí engravidando outras mulheres
mais velhas que caiam na sua lábia. Fizeram bem em enviá-la para caçar essa
criatura, pelo menos as meninas da região poderiam não ser mais incomodadas por
ele. Porém algo mais a incomodava, algo que parecia ter passado despercebido...
E então lembrou-se e disse para a arraia:</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
- Você sempre fala em “nós”. Há
mais alguém além de você e o boto?</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Nisso,
a mulher foi agarrada por trás e sentiu um aço frio tocar sua garganta. O boto
havia cortado as cordas que o prendiam e agora estava com a lâmina de um punhal
apontado para a garganta dela pronto para cortá-la. O boto disse rindo de
prazer:</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
- Um boto sempre anda com uma
arraia que usa como chapéu e com um poraquê* que transforma em punhal e foi com
ele que eu cortei as cordas e me soltei. Agora quem vai te matar sou eu, mas
antes vamos nos divertir um pouco, estou te desejando desde a hora na festa e
ainda não me satisfiz com você. E aquelas meninas, ora, todas gostam do boto, garanto
que elas se divertiram, todas as centenas que eu tirei a virgindade nos últimos
anos. Elas deveriam se sentir honradas, o boto não faz sexo com qualquer uma.</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Após
essas palavras o boto gargalhou. As gargalhadas cresciam cada vez mais, assim
como o ódio dentro daquela mulher. Ela respirou fundo e pisou com força no pé
do boto, e num movimento rápido agarrou o braço que segurava o punhal e
afastou-o de sua garganta. Com mais espaço para agir, virou-se de acertou uma
cotevelada na garganta do boto, depois torceu seu braço e tomou-lhe a faca,
jogando a arma o mais longe que podia. Afastou-se um pouco, apenas a distância
para acertar um chute forte no estômago daquela criatura. O boto caiu no chão
gritando de dor, e logo em seguida a mulher montou em cima dele, despejando
dezenas de socos em seu rosto, até que ele parasse de se mexer. </div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
O
boto ainda respirava apesar do rosto encharcado de sangue, estava semi
consciente. Ela se levantou, enfiou dois dedos no respiradouro no alto da
cabeça e ergueu o boto, que voltou a consciência plena e gritou
desesperadamente. Levou-o de volta a cadeira da qual ele havia se soltado, e no
meio do caminho pegou outro pedaço de corda para amarrá-lo. </div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Amarrou-o
ainda mais forte que na primeira vez e dessa vez revistou-o completamente atrás
de outros objetos que pudessem ser utilizados para que ele se soltasse. O sol
nascia ao fundo, sobre o rio. Ela respirou, se limpou um pouco da sujeira do
chão, se aproximou da criatura que ainda tinha forma humana, olhou no fundo dos
olhos dele e disse:</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
- Olha, não gosto de falar sobre
mim. Mandacaru sempre conta sua história de vida para quem ele vai matar, mas
eu detesto fazer isso, acho completamente ridículo, irrelevante desnecessário.
O problema é que de alguma forma ele se diverte fazendo isso e eu nunca entendi
por que. Eu prefiro ser mais direta, fazer o serviço logo e depois ir embora.
Só que no seu caso eu vou abrir uma exceção e assim você vai saber o porquê de eu
te fazer sofrer antes de te matar. </div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Ela
se afastou um pouco. Olhou para o lado e viu que a faca voltou a ser o poraquê,
que agonizava num canto da cabana por não estar dentro da água. Ela sorriu com
a agonia do peixe e sua morte lenta, então começou sua história:</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
- O dia ao certo em que nasci eu
não sei, mas na minha antiga certidão de batismo dizia que foi no dia 17 de
dezembro de 1921, perto do natal, numa casa simples em Imperatriz, Maranhão.
Provável que eu tivesse nascido antes, mas isso não faz mais muita diferença.
Com o tempo a época que você nasceu deixa de ser tão importante, ainda mais
quando não mais se pode morrer. Minha mãe era descendente de índios e meu pai
negro, filho de ex escravos. Acabei recebendo um nome por sugestão da minha
mãe, o padre não gostou muito mas acabou aceitando que meu nome fosse Iaciara
da Silva. Simples e direto, como eu costumo ser. </div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
- A minha vida foi dura como a de
qualquer pessoa pobre no Brasil. Meu pai trabalhava carregando trens na
ferrovia da região. Sabe, Imperatriz sempre foi um entroncamento comercial do
Maranhão, muita coisa passava por lá: madeira e produtos da terra, além da
produção de várias fazendas de cidades próximas. A vida era dura com meu pai
trabalhando de sol a sol e minha mãe costurando roupas, mas eu dei sorte e cresci
sem ter passado muita fome na vida. À medida que fui crescendo passei a chamar
a atenção dos homens. Na época eu não entendia porque, era muito inocente...
Mas a inocência é feita para ser perdida. </div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
- Eu devia ter por volta de 13
anos de idade, pouco mais do que uma criança, mas já uma moça, como diziam por
lá. Ele era mais velho que eu, filho de um fazendeiro de uma região próxima,
nem mesmo morava na mesma cidade que eu... Simplesmente me viu na rua, logo
após ter entregado o almoço para o meu pai na estação de trem... Ele me agarrou
pelo braço e me levou pro meio do mato... E foi lá que ele me violentou. Eu não
sabia direito que estava acontecendo, apenas sentia vergonha, e sentia muita,
muita dor... Mas tinha algo que eu sentia mais do que tudo isso: era ódio.
Nunca odiei tanto uma pessoa como aquele homem. Ele estava lá em cima de mim, e
eu não podia fazer nada, a não ser chorar e odiá-lo com todas as minhas forças.
Depois de ter me usado da forma como quis, ele se levantou, se vestiu e jogou
algumas notas de dinheiro em cima de mim. Fiquei vagando pela cidade, com minhas
roupas rasgadas e completamente humilhada. Achava que a culpa tinha sido minha,
que eu deveria ter dito “não” com mais força. Rezei pedindo para que Deus me
explicasse porque aquilo tinha acontecido comigo, mas minhas preces não foram
atendidas. Somente cheguei em casa a noite, ainda coberta com a vergonha do que
tinha acontecido. Meus pais me esperavam
e ao olharem para mim já sabiam o que tinha acontecido. Meu pai, com toda a
simplicidade que lhe era característica me perguntou o que tinha acontecido,
apenas para confirmar sua suspeita, e eu lhe contei. Vi seus olhos se encherem
de lágrimas, junto com os olhos de minha mãe, quando lhes disse quem havia
feito aquilo comigo e uma tristeza sobrenatural parecia ter se abatido sobre
eles. Mas as coisas ainda poderiam ficar muito piores. Nesse momento vi meu pai
se levantar, e a tristeza havia se transformado <st1:personname productid="em fria. Antes" w:st="on">em fúria. Antes</st1:personname> mesmo de
a primeira palavra sair de sua boca eu sabia que ele iria me acusar de ser
culpada por tudo, e foi exatamente isso que aconteceu. Fui xingada de palavras
tão baixas que ainda ecoam na minha mente em noites de insônia. Meu pai me bateu
e me arrastou pelos cabelos por toda a cidade, me chamando de “puta”,
“vagabunda” e coisas piores. Naquela hora achei que meu destino ia ser passar o
resto dos meus dias num bordel vagabundo de beira de estrada, tendo que servir
a homens mais nojentos do que aquele que havia me violentado. </div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Iaciara
parou para respirar um pouco. Contar essas velhas lembranças ainda doía. Ainda
podia sentir as grossas mãos de seu pai lhe batendo por algo que ela não tinha
culpa nenhuma. Porém, também pensavam na vingança perpetrada anos depois contra
o homem que a havia violentado, e isso sempre lhe dava um sorriso e força para
continuar:</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
- Mas algo inesperado aconteceu
naquele dia. Um homem que passava pela cidade, um árabe caixeiro viajante viu meu
pai me espancando no meio da rua e perguntou o que acontecia. Meu pai contou
como eu havia me entregado para o filho de um rico fazendeiro, como a culpa era
minha, como eu havia desgraçado sua honra. E nessa hora eu vi um lampejo de
piedade no rosto do árabe. Ele sorriu e disse ao meu pai que ficaria comigo e
me levaria embora da cidade. Sem uma única muda de roupa, subi no carroção dele
e puxada por dois jumentos, sai da única cidade que conhecia e da única família
que tinha. </div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Já
era dia e ele continuava sua história. O calor impregnava a cabana e o sangue
no rosto do boto havia secado. Ele ainda estava consciente e ouvia o relato. E
nos olhos dele o orgulho havia sido substituído por desespero. O boto
finalmente descobriu que não havia forma de sair daquele lugar vivo. Iaciara
continuou:</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
- Sabe, o árabe era gordo. Gordo
demais para uma pessoa que trabalhava andando de cidade <st1:personname productid="em cidade. O" w:st="on">em cidade. O</st1:personname> nome dele não
importa muito, da mesma forma que o nome do coronel e do filho dele não
importam agora... Mas quando o árabe me levou, era óbvio que não apenas a
piedade o havia incentivado. Na primeira noite que passei com ele na estrada,
eu senti suas mãos por baixo de meu vestido, me acariciando. O toque dele era
delicado, gentil, suave, mas depois do que havia acontecido aquilo me
assustava. Eu ainda estava com medo, atormentada com as lembranças do que havia
acontecido naquele dia e me retrai. Ele, gentil como sempre, me disse que não
deveria ter medo. Ele me disse que aquilo poderia ser bom, desde que eu me
acalmasse. Não sei se era a natureza dele ou a minha situação, mas naquela
noite ele apenas dormiu junto a mim, e eu senti o calor de seu corpo junto ao
meu e me senti reconfortada por conta disso. Alguém finalmente estava me
protegendo. Aos poucos nossa intimidade foi aumentando, ele me fazia leves
carícias durante a noite e eu fui começando a me habituar aquilo e a gostar do
seu toque. O que me causava medo passou a me causar um certo prazer. Não
demorou muito para que eu acabasse me entregando a ele, dessa vez com uma
pequena noção de consentimento, e pela primeira vez pude sentir prazer com um
homem. No dia seguinte, quando acordei, ele havia separado um vestido, dentro
os melhores que ele vendia, e o deu para mim. Era um vestido simples, mas o
melhor que já tinha usado na vida. Nossa relação continuou dessa forma, sempre
que ele fazia sexo comigo, no dia seguinte eu acaba por receber um presente.
Sexo passou a ser uma espécie de moeda de troca, e não demorou muito para que
eu soubesse que poderia exigir dele o que eu quisesse em troca de uma noite de
carícias. Eu não amava aquele árabe velho, mas gostava muito dele. Ele foi bom
pra mim e me mostrou que sexo poderia ser prazeroso. </div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
- Passamos alguns anos juntos,
rodando por cidades do interior do nordeste, vendo pequenos utensílios que as
pessoas usavam. Até que, andando pelo interior de Pernambuco eu o vi. Sua
imagem era imponente, um homem forte, de pele bronzeada, montado num cavalo e
usando um gibão de couro. Os anéis em seus dedos brilhavam com o luz do sol e o
sorriso que ele me deu quando me viu trouxe a mim desejos que nunca tive com o
árabe. Eu olhava o cangaceiro pelas ruas, admirando-o, desejando-o. E o velho
parecia ter percebido isso no meu olhar. Ao invés de me bater ou me expulsar,
ele percebeu que nosso tempo juntos tinha acabado. O árabe era um homem integro
e após me dar um longo abraço, me deixou partir com o cangaceiro. </div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
As
lembranças de Iaciara ficavam menos amargas nesse pedaço da história e um
esboço de sorriso parecia surgir de seus lábios. </div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
- Montei com ele em seu cavalo e
fomos embora dali. Ele fazia parte do bando de Lampião, não era um dos membros
importantes mas ainda assim estava no bando e era um homem bonito. Naquela
época eu já tinha mais formas de mulher e a menina medrosa havia ficado para
trás. Aquele homem estava comigo, sabia o que queria e ao lado dele parecia que
nada de mal iria me acontecer. O problema é que com a mesma facilidade com que
ele me conquistou, parecia que havia enjoado de mim. Tive com ele momentos de
felicidade muito intensa, uma época de doces lembranças, mas ele passou a não
mais me procurar e a ir atrás de outras mulheres assim que estava perto o
suficiente de uma cidade. Isso me magoou, mas serviu para me fazer perceber que
ele não era o único homem que me olhava com desejo. Outros homens do bando me desejavam
e isso mostrou ter sua utilidade. Os homens que passavam a me desejar tentavam
me agradar de todas as formas, um presente, um perfume roubado, um vestido
novo. Sempre que iam para algum lugar, sempre voltavam com algo para mim e tudo
isso em troca de um pequeno sorriso ou da simples possibilidade de eu insinuar
que poderia querer algum deles comigo a noite. Óbvio que estive com alguns, mas
nenhum deles me tomou a força, foram apenas porque eu queria tanto quanto eles.
Eu percebi que estava no controle e que poderia fazer com eles o que eu
quisesse. E com um deles era melhor do que com qualquer outro. Ele tinha uma
brutalidade aparente, mas poucos homens foram tão gentis comigo enquanto
estávamos a sós. Não era amor, era só desejo. Um desejo forte, que ambos
adorávamos satisfazer. Ele me colocou um
apelido ridículo, “Sininho” apenas por conta dos gritos de prazer que costumava
dar. Mais tarde ele descobriu um personagem infantil com esse mesmo nome, e
para ele, apenas aumentou a graça desse nome. Nunca gostei do apelido, mas certas
marcas somos obrigados a carregar por toda a vida, e esse nome ridículo foi uma
dessas marcas.</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
- Numa noite estava acompanhando ele, o bando o
chamava de Mandacaru, e com a gente estava um rapaz novo que havia acabado de
entrar para o bando, chamado de Bode. Íamos para Angicos, encontrar com
Lampião. Deixamos o Bode arrumando o fogo e nos afastamos para realizarmos
nossos próprios desejos e quando voltamos foi a hora que aconteceu. Alguma
coisa riscou o céu, uma estrela cadente ao algo assim, nos jogamos no chão e o
pó que caia daquela coisa nos cobriu. Na hora não percebemos nada de errado,
mas uns dias depois, quando já estávamos com Lampião em Angicos eu descobri o
que havia acontecido conosco. O bando foi massacrado, eu mesmo tomei alguns
tiros e apaguei achando que ia morrer, apenas para acordar um tempo depois como
se apenas tivesse caído no sono. Tentaram nos matar outras vezes, mas era
sempre a mesma coisa, acordando como se nada tivesse acontecido. Fomos levados
para o Rio da Janeiro e nessa hora o presidente da época, Vargas, teve sua
grande idéia. Na época o Brasil ainda era bastante despovoado, lugar fácil para
certas criaturas extrapolarem. Eu mesmo, já havia ouvido histórias sobre
monstros que só conhecida da literatura de cordel. Esses monstros eram reais,e
descobri que haviam abusos sendo cometidos. Famílias inteiras mortas por um
lobisomem, pessoas perdidas na florestas que morriam de fome unicamente por
conta de caprichos de curupiras. Meu trabalho, o de Bode e de Mandacaru deveria
ir atrás daquelas criaturas que apareciam demais, que chamavam atenção demais
sobre si ou que incomodavam as pessoas erradas. Também fazíamos alguns serviços
mais sujos, eliminando cidadãos indesejados. Criaram uma divisão pra gente
dentro do órgão de Inteligência da época. Sabe, esse órgão já mudou de nome
tantas vezes que eu nem ligo mais, apenas faço meu trabalho. Fui treinada pelos
melhores, eu e meus companheiros, por assim dizer, e sinceramente, sou ótima no
que eu faço pelo que você pôde perceber. O problema é que as vezes eu tenho uma
tendência a ser cruel demais. Sabe, por ter sido violentada eu tenho um ódio
especial por pessoas que fazem esse tipo de coisa, ainda mais quando o filho da
puta faz isso com crianças. </div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Nesse
momento um brilho cruel brotou nos olhos de Iaciara, e ela parecia estar
voltando a se divertir com aquilo. Pegou uma das facas sobre a mesa e rasgou o
rosto do boto de forma humana. O rasgo foi feito da testa ao queixo da
criatura, que gritou de dor ao ter a metade direita do rosto retalhada. O
sangue escorria e manchava a roupa suja do Boto. </div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Iaciara
se afastou, adorando cada momento, vendo a expressão de dor no rosto dele.
Ainda com a faca nas mãos, voltou em direção a criatura e rasgou sua calça.
Pegou aquele órgão sexual que havia violado tantas meninas inocentes, cravou a
faca na altura da base e veio rasgando por todo o corpo em direção ao prepúcio,
dividindo o pênis em duas metades. </div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
O
boto gritava, chorava e se contorcia de dor, e ela apenas olhava, vendo o
sofrimento e a poça se sangue que se formava ao redor da cadeira na qual ele
estava preso. A arraia, ainda no tanque, apenas via aquilo, estava paralisada
em silêncio e pânico, já o poraquê estava morto, sufocado pela falta de água. </div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
O
boto implorou por sua vida, dizendo que nunca mais faria nada com nenhuma outra
criança. Implorou dizendo que voltaria para o rio e jamais tomaria a forma
humana novamente, mas isso não era suficiente. Ele havia estuprado crianças em
troca de longevidade e precisava pagar por isso. Centenas de crianças haviam
sido abusadas e ele iria sofrer por cada uma delas.</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Ao
fim de toda uma manhã de gritos, dor e sangue, Iaciara finalmente se deu por
satisfeita. Enfiou a faca fundo no respiradouro no topo da cabeça humana do
boto, torceu, e esperou os últimos espasmos antes da morte. </div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Soltou
o corpo da cadeira, que caiu inerte no chão. Aos poucos o corpo do homem voltou
a ser um boto rosa do Amazonas, jazendo morto no chão da cabana. </div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Nesse
momento Iaciara, vendo o animal morto no chão, soltou um riso e repetiu para si
mesmo:</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
- Merda, espero não ter problemas
com o IBAMA. Acabei de matar uma espécie <st1:personname productid="em extin ̄o. Acho" w:st="on">em extinção. Acho</st1:personname> que
cometi um crime ambiental. Mas isso é um problema para o General resolver. </div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
E
saiu em direção a porta da cabana, não sem antes quebrar o aquário de vidro
onde a arraia estava, deixando-a sufocando até a morte no chão. </div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
* Poraquê é um peixe eletrônico
da região do Amazonas. Procure no Google. </div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
Thiagohttp://www.blogger.com/profile/06811524587699682485noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7521901678431922831.post-23257788912009955672014-11-24T14:00:00.002-08:002014-11-24T14:00:39.984-08:00Sangue Negro <div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Na hora que
acordou ele tinha certeza apenas de uma única coisa: era noite! Ele sabia que
era noite porque estava acordado, e ele só acordava de noite, não importava o
que acontecia. Aos poucos seus olhos se abriram e ele pode encarar o local, que
parecia ser um pequeno galpão sabe-se lá onde, com uma única fonte de luz que
estava sobre sua cabeça. </div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Tentou
se levantar e foi a hora de descobriu que estava preso, pior ainda, estava
sentado numa cadeira e preso por grossas correntes, que nem sua força sobre-humana
conseguia partir. Também sentia todo o seu corpo dolorido, sendo que haviam
hematomas por todo o seu corpo extremamente branco. Ele nem sabia que ainda era
capaz de ter hematomas, afinal a última vez que tinha entrado numa briga ainda
morava nos arredores de Belfast e não tinha sua condição, digamos, “peculiar”.</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Demorou
pouco para perceber que a pessoa que o prendera ali sabia muito sobre sua
condição. Sabia sobre sua força e principalmente sabia sobre suas limitações.
Como durante o dia seu corpo ficava completamente inerte, não reagindo a nenhum
estímulo, quem o prendera ali deveria tê-lo pego durante o dia, espancado
brutalmente seu corpo, e, antes do por do sol, tê-lo prendido ali. Admitia que
essa era uma estratégia muito esperta, mas não tinha idéia de como tinham
chegado até o seu esconderijo, afinal depois de todos aqueles anos ele já sabia
como se esconder. </div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
A suas costas
conseguia ouvir o barulho de ferro e algo sendo afiado num esmeril, e foi nessa
hora que começou a ficar assustado com toda aquela situação. Tinha certeza que
ali estava uma pessoa pronta para matá-lo. Pensou seriamente que aquela poderia
ser a sua última noite, e sem nem pensar direito chegou a conclusão de que
deveria tentar conversar com seu captor, ou pelo menos pensava que aquela
pessoa era seu captor, se tivesse uma brecha, um pequeno “vacilo”, poderia usar
essa oportunidade para escapar. </div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
Tentou gritar,
mas sentiu uma dor na garganta, como se alguém lhe tivesse batido com força
nesse lugar. O máximo de som que conseguia era um leve sussurro, rouco, mas
ainda assim, audível. Nisso, uma voz veio de algum lugar as suas costas:</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
- Se apoquente não. Daqui a pouco
vou ai falar contigo. </div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Essa
voz parecia tranqüila, monótona, quase como se estivesse falando algo de
rotina. Era grave e possuía um forte sotaque do nordeste do Brasil. </div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Tentou
mais uma vez se debater e tentar escapar, mas apenas sentiu o peso das
correntes que o prendiam. Nessa hora, a voz as suas costas voltou a soar:</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
- Se eu fosse você não tentava
sair não. Você ta fraco, sem sangue e muito bem preso. Nem com reza você sai
daí. </div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Não
havia mais o que pudesse fazer, não havia uma forma de escapar dali, pelo menos
não naquele momento. Se resignou e esperou que aquela pessoa que estava com ele
nesse lugar fosse em sua direção. </div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Pouco
tempo depois, ouviu passos vindos de trás de si. Vinha devagar e soava
despreocupado e mais uma vez a idéia de rotina veio a sua cabeça. Finalmente,
seu captor, ao que tudo indicava, parou a sua frente. Era um homem alto e
magro, com mais de 1,90 de altura, a pele era morena e os cabelos bem pretos e
lisos na altura do pescoço. Aparentava não ter 30 anos, mas um início de
calvície despontava em sua testa. Usava uma calça preta e uma camisa social de
mangas compridas dobradas até os cotovelos da mesma cor, os botões da camisa
também eram pretos, e o único adorno que a roupa possuía era um pequeno símbolo
no lado esquerdo sobre o peito: três estrelas, bordadas com linha dourada, duas
no mesmo nível e uma acima, em conjunto as estrelas formavam um arco na
horizontal. Contrastando com a sobriedade da roupa, aquela figura usava anéis
dourados e prateados em todos os dedos de ambas as mãos, todos com pedras
brilhantes que pareciam ser verdadeiras e as vezes mais de um anel em cada
dedo. Usava um perfume de marca boa, provavelmente importado, mas numa
quantidade acima da aceitável. Também trazia em sua mão um punhal com lâmina de
secção triangular, o cabo era muito bem trabalhado e parecia ser incrustado de
algumas pedras preciosas vermelhas, provavelmente rubis. Ao todo o punhal
deveria ter uns <st1:metricconverter productid="80 cm" w:st="on">80 cm</st1:metricconverter>.
Essa figura chegou, se aproximou e disse calmamente:</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
- Você ainda consegue falar, mas
vai ter que falar baixo. Você não vai conseguir gritar. Agora me diz qual seu
nome.</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Aquilo
não era uma pergunta, era uma ordem. Com esforço e ainda com muita dor respondeu
numa voz carregada de sotaque irlandês:</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
- Sou Seamus. Seamus O’Donovan</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
A
resposta veio junto com um sorriso:</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
- Diabo de nome complicado que
você tem. Agora tenho certeza que você não é desse país. Me chamo Francisco
José da Silva, mas pode me chamar de Mandacaru. O nome não é por conta dos
espinhos e sim por conta da altura. Sempre fui mais alto do que as pessoas que
eu conhecia, e um mandacaru pode chegar a ter mais de <st1:metricconverter productid="5 metros" w:st="on">5 metros</st1:metricconverter>. O apelido foi
inevitável durante os anos no cangaço. </div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Mandacaru
estava sendo sincero, e isso podia ser percebido pelo tom de sua voz, na
maneira como falava. Ele parecia não ter motivos para esconder aquelas
informações. Nesse momento Mandacaru continuou:</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
- Olha, nós vamos passar um tempo
aqui até eu estiver com tudo pronto pra te matar. Então que tal me contar um
pouco sobre você? Vai contando sua história que eu vou ouvindo. Você pode até
não me ver, mas tenha certeza que eu to de ouvido ligado pra tudo que você
falar. Eu já sei teu nome, mas de onde você veio? O que te traz aqui, aos
arredores de Brasília?</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Seamus
não sabia o que dizer. Aquele homem não tinha motivos para querer aquelas
informações, afinal ele havia confirmado de que ia matá-lo. Mas essa poderia
ser a brecha que estava esperando, se contasse a sua história de vida quem sabe
poderia distrair aquele homem todo vestido de negro e assim conseguir escapar
dali. Como uma última tentativa de preservar sua vida, resolveu contar parte de
sua história, mesmo tendo dificuldades em falar:</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
- Você quer realmente saber a
minha história? Isso é algo estranho de alguém que já disse que quer me
matar... mas tudo bem. Eu nasci numa fazenda perto de Belfast, Irlanda, acho
que por volta de 1820, não haviam registros de nascimento para pessoas pobres
como eu. Na época essa história de Irlanda ou Irlanda do Norte não fazia a
menor diferença, o que importava é que eu vinha de uma família de 11 irmãos e
plantávamos batatas. As terras não eram nossas, eram arrendadas de um rico proprietário
que ficava com boa parte do que produzíamos e na época produzíamos muito pouco.
A fome matou metade dos meus irmãos, mas não a mim. Sobrevivi, casei, e com
vinte e poucos anos eu já estava como meu pai: tinha cinco filhos, uma esposa
grávida e quase nada pra comer. </div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Mandacaru
parecia realmente interessado, mas não parecia dar nenhuma brecha para um
ataque. O punhal reluzia sob a única fonte de luz do lugar e Seamus estava
fraco. O irlandês não conseguiria se soltar e pode apenas continuar a história
pensando em seu interior numa forma de escapar: </div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
- E aí veio a Grande Fome. Alguma
doença matava todas as plantações de batatas, e isso eram as únicas coisas que
tínhamos para comer. A fome levou minha mulher e a criança que ela tinha dentro
de si. Desesperado tentei encontrar algo nas cidades para comer, mas todos
também estavam famintos. Já era noite quando um homem bem vestido se aproximou
de mim e disse que poderia saciar a minha fome. Ele veio pra cima de mim, e com
muita força me agarrou e me mordeu. Não lembro de muita coisa depois disso, mas
assim que ele me soltou eu corri o máximo que pude e voltei para casa. Apaguei
durante todo o dia seguinte e meus filhos acharam que eu estava morto, porque
eu não mais respirava. Acordei com o cair da noite, e com uma tremenda fome,
que nenhuma comida poderia saciar. Eu estava irracional, como um animal, e
acabei matando e bebendo o sangue de cada um dos meus cinco filhos e de um
padre que estava benzendo meu corpo. </div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Nessa
hora Mandacaru olhou para Seamus. O olhar não tinha nenhum tipo de piedade,
apenas estava curioso para saber o resto. Mandacaru perguntou:</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
- Mas e o que você ta fazendo
aqui? Brasília é meio longe de onde você morava? O que te trouxe ao Brasil?</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
O
vampiro respondeu:</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
- Bem, eu havia matado meus
filhos. Achei que não mais conseguiria viver naquelas terras. Sai daquele lugar
e me dirigi ao porto mais próximo. Arrumei um caixote velho e todo fechado,
desses para transporte de carga. Me enfiei dentro e me despacharam. Ratos me
serviram de alimento durante os meses que a viagem durou. Queria chegar <st1:personname productid="em Buenos Aires" w:st="on">em Buenos Aires</st1:personname>, mas
quando vi, fui descarregado no Rio de Janeiro. Vivi um tempo naquela cidade,
aprendi português, matei algumas pessoas... Eu já havia matado meus filhos,
matar outras pessoas era fácil, ainda mais que, com o passar do tempo, eu as
via como alimento apenas. Alguns anos depois encontrei com outras criaturas
como eu, outros vampiros. Eram um ou dois, mas eles deixaram claro que iam
acabar comigo se eu continuasse naquela cidade. Disseram que existiam poucas
pessoas para alimentar todos nós sem chamar atenção. Pensei em enfrentá-los,
mas era estranho, ao olhar para eles me senti impelido a fugir dali. Olhar para
eles fez com que eu sentisse um medo que eu nunca mais senti igual, era um medo
irracional. Não poderia ficar ali e arriscar um novo encontro pois tinha
certeza que eles poriam um fim na minha existência. Nisso fugi e fiquei vagando
pelo país todo. Há uns cem anos atrás cheguei a essa região. Era erma,
distante, pessoas desapareciam com facilidade e havia pouca policia. O problema
é que construíram Brasília nesse meio tempo, e sabe, isso não foi um problema
de verdade, pelo menos não no começo. </div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Seamus
parou um pouco por conta da dor na garganta. Sentiu a garganta queimando, mas
continuou:</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
- Brasília ainda estava sendo
construída, e muita gente, do país todo veio para cá em busca de trabalho na
construção da nova capital. Acabou que ficava mais fácil sumir com as pessoas.
Diziam que um havia caído no meio de uma obra, outro havia desaparecido no
mato. Respostas simples e que as pessoas acreditavam. Nunca me alimentei tão
bem na minha vida. Mas o tempo passou e a cidade cresceu, e já não era mais tão
fácil sumir com alguém sem levantar suspeitas. Por sorte, a pobreza empurrou as
pessoas para esse tal de “entorno”, essas cidades pobres do Estado de Goiás que
ficam ao redor do Distrito Federal. Essas eram outras terras, terras sem lei,
onde pessoas sumiam e os outros mal se perguntavam o que tinha acontecido por
medo de serem alvo de bandidos, e mais uma vez pude ficar bem alimentado. Conseguia
me esconder em casas abandonadas no meio de fazendas ou em algumas cavernas que
existem por aqui. Com os anos, eu meio que me tornei uma lenda. As pessoas mais
simples contam histórias de uma criatura branca que some com aqueles que andam
no meio do mato sozinhos. E sabe? Essa fama é boa, ajudava a esconder meus
refúgios e ajudava a encobrir meus rastros. E minha vida foi assim, até que
você chegou. Nem sei como você me capturou nem como me prendeu aqui. Mas será
que agora não é a sua vez de contar a sua história? Será que você não pode me
dizer como me achou? A caverna onde eu estava não era conhecida por ninguém
dessa região. </div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Mandacaru
sorriu, pois sabia que mais cedo ou mais tarde ia acabar chegando a essa
situação. Quando ele pedia que eles lhe contassem suas histórias, no fim eles
sempre pediam a mesma coisa: que ele contasse a história dele. Mas isso não era
incômodo algum, era sempre divertido lembrar-se de como tudo havia acontecido.
E então, começou:</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
- Se você quer mesmo saber, eu
nasci no interior de Alagoas, numa fazenda que a muito já deve ter
desaparecido. Também não sei direito a época em que nasci pelos mesmos motivos
que você, mas foi por volta de 1920. E também como você, eu sabia o que era
fome. Desde menino não se tinha muito para comer, só os coronéis é que tinham
fartura e pro povo só sobrava migalha. Com uns 14 anos eu sai de casa e fui me
juntar a um bando de cangaceiros. Sai no meio da noite para minha mãe não
descobrir e nunca mais vi nem ela, nem meu pai nem nenhum dos meus 13 irmãos.
É, é muito irmão, mas televisão só foi inventada muito tempo depois e diversão
de pobre sempre foi fazer menino. O cangaço foi uma época boa, mas não pense
que nós éramos heróis. Não éramos, éramos bandidos. Mas ser bandido no cangaço ainda
era melhor do que trabalhar de sol à sol e ainda passar fome. Como cangaceiro
pelo menos eu comia três vezes por dia. Nesse ponto minha vida não era das mais
interessantes, uns crimes aqui, umas ameaças ali e ia levando a vida. A coisa
toda mudou em 1938. Nessa época eu já fazia parte do bando de Lampião. O
Capitão já era conhecido no Brasil todo e fazer parte do bando dele era uma
honra, mesmo porque ele nunca andava com mais de 50 homens. Eu era um deles, e
me enchia de orgulho estar ao lado dele...</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Nesse
momento Seamus interrompeu, com um misto de curiosidade e dissimulação:</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
- Então você é igual a mim?
Porque você parece ser novo demais para ter todos esses anos. </div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
Nisso
Mandacaru respondeu:</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
- Com certeza não sou como você.
Não tenho essa pele branca de defunto nem fico bebendo sangue e matando gente
por aí. Mas como eu fiquei assim era algo que eu ia te contar, mas você me
interrompeu. Continuando, num dia estava eu acampado no meio do mato com
Sininho e o Bode. Sininho era uma linda mulher que acompanhava a gente de vez
em quando, sempre que ela aparecia no meio de um bando estava com um homem
diferente, e pra minha sorte naquele dia o homem dela era eu. O nome dela eu
não sabia, mas o nome Sininho vinha porque o homem que soubesse como tocar o
sino que ela tinha no meio das pernas fazia com que ela gritasse mais alto que
o sino de qualquer igreja. E como ela gritava gostoso quando tava comigo. Já o
Bode era um rapaz novo, meio franzino, com pouco tempo de cangaço e uma barba
que só crescia no queixo, daí o apelido. Era noite e o Bode estava ao redor da
fogueira e eu tinha acabado de voltar do meio do mato com Sininho. Estávamos
reunidos ali, em Sergipe, indo pra Angicos pra encontrar com o Capitão Lampião.
Mas algo estranho aconteceu. Uma estrela riscou o céu, e vinha descendo, só que
vinha descendo em nossa direção. Ela crescia cada vez mais, uma bola de fogo
vindo do firmamento. Caímos no chão, achando que aquilo ia cair em cima da
gente, mas ela se desfez no ar e virou apenas um pó dourado que caiu por cima
de nós três. Rimos, praguejamos e depois rimos de novo. Nenhum de nós era muito
religioso, por isso ninguém falou de Deus naquela noite, mas com certeza tinha
algo do tinhoso naquilo, o que só descobrimos um tempo depois. </div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Mandacaru
parou e foi tomar um gole de água numa mesa atrás de Seamus. Não parecia
preocupado com qualquer tentativa de fuga. Continuou, sabendo que o vampiro
estava bem preso numa cadeira as suas costas.</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
- Nos encontramos com o Capitão
uns dias depois, mas isso não foi algo bom. Estávamos já a uns dias na fazenda
Angicos, era noite, dia 27 de julho de 1938, um dia triste que eu nunca vou esquecer... Fomos traídos e um bando de
macacos, policiais da volante de caçava Lampião, nos cercaram. O capitão foi um
dos primeiros a morrer e eu tomei um monte de tiros. Sininho também. Lembro que
ainda vi o Bode chorando perto de Sininho e pagando a arma dela. O mundo ficou
escuro e eu achei que ia morrer. Mas acordei umas horas depois. Os homens da
volante estavam jogando nossos corpos numa carroça e eu me vi cercado por
amigos mortos. Só que o Bode e a Sininho também acordaram nessa hora. Os
macacos ficaram assustados e atiraram na gente de novo e eu apaguei mais uma
vez, só pra acordar algumas horas depois. Acordei e tentaram me matar, dessa
vez com uma facada e mais uma vez eu apaguei e acordei de novo um tempo depois.
Aqueles homens eram meio burros, porque demoraram um tempo pra entender que eu
simplesmente não morria. Nem eu, nem Bode nem Sininho. O Coronel João Bezerra,
líder da volante, não sabia o que fazer com a gente. Nos prenderam e nos
mandaram pro Rio de Janeiro, não sem antes obrigar a gente a assistir aquele
bando de filho de uma égua cortar a cabeça do Capitão Lampião e de Maria
Bonita. </div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Lágrimas
pareciam brotar nos olhos de Mandacaru. Não importa o número de vezes que ele
contasse aquela história, sempre tinha vontade de chorar quando falava do
finado Capitão. Enxugou as lágrimas e voltou para a frente de Seamus, sabendo
que ele não poderia ter visto seus olhos marejados. Continuou:</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
- No Rio de Janeiro fomos levados
para uma base do exército. Ainda não sabiam o que fazer com a gente, até que o
presidente em pessoa tomou a iniciativa. Visto pessoalmente Vargas não era
assim tão impressionante, mas nos fez uma proposta irresistível. Ele estava
preocupado com algumas questões políticas, alguns casos de bagunça pelo país
todo e nós três seríamos uma espécie de força especial de inteligência para
combater algumas ameaças. A gente ia trabalhar pro Conselho de Defesa Nacional,
um troço que mudou muito de nome de lá pra cá, sendo que já foi SFICI, SNI e
agora chamam de ABIN, Agência Brasileira de Inteligência. No começo foi difícil
pra mim, afinal eu era um bandido que agora ia ser polícia, mas minha família
não se lembrava de mim, não tinha ninguém no mundo que realmente ligasse pra
mim, meu preço para aceitar aquilo foi até baixo, disse que sim se me dissessem
que foi que traiu Lampião. Me disseram, e sabe, eu demorei uns três dias para
matar o filho da puta. Ele pediu pela vida e sangrou feito um porco. O que os
outros pediram eu não sei, eles nunca me contaram, mas sei que depois daquilo
começamos a ser treinados. Estados Unidos, França, Inglaterra e mais
recentemente Israel e Alemanha, já treinei com forças militares desses lugares
todos e nenhum homem deles dá dentro comigo, sou muito bom no que eu faço. Meu
trabalho é acabar com gente como você, que acha que não está sendo notado.
Assassinos e outros incômodos, sobrenaturais ou não, quando chamam atenção
demais eles sempre somem e somos nós que fazemos eles sumirem. Em serviço
sempre usamos esse símbolo, as três estrelas em arco, são as estrelas que
tinham em todo chapéu de cangaceiro, um lembrança nossa para sempre sabermos de
onde viemos. E quanto a você, bem, você andou matando gente demais, lendas são
contadas sobre você nessa região, sobre um monstro branco que mata a noite. Você
chamou atenção demais e está na hora de sumir. Você deixa rastros e marcas por
aí, um policial comum não seria capaz de seguir, mas eu sou. Encontras a sua
caverna foi fácil, te espancar enquanto você tava dormindo mais fácil ainda.
Difícil foi te trazer pra cá durante o dia sem deixar o sol te queimar. Eu
poderia deixar você esturricar ao sol, você ia morrer de qualquer jeito, mas aí
eu não ia ter o prazer de ouvir a tua história e, é claro, ter o prazer de te
matar olhando no teu olho.</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Nesse
momento Mandacaru pegou seu punhal, cravou no peito do vampiro e torceu,
cortando o coração da criatura. Um sangue negro e viscoso escorreu pela lâmina e
impregnou a mão de Mandacaru, que nesse momento exclamou:</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
- Inferno de criatura lazarenta.
A porcaria desse sangue negro sempre dá trabalho pra limpar. </div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
As esperanças de fuga de Seamus
foram <st1:personname productid="em v ̄o. Sua" w:st="on">em vão. Sua</st1:personname>
existência se encerrou e seu único consolo na morte foi ter ouvido a história
do homem que o capturou. </div>
Thiagohttp://www.blogger.com/profile/06811524587699682485noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7521901678431922831.post-70505839602020334082012-04-02T08:25:00.002-07:002012-04-02T08:25:38.654-07:00Uma Crônica de Segunda #15<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span> </span>Tem dias que são assim. Sem nem saber ao menos o por que, acordei me sentindo estranho. Era uma sensação de que algo estava fora do lugar, como se eu estivesse sentindo falta de algo que eu nunca conheci, algo inexplicável, algo distante que por breves momentos esteve em minhas mãos e eu não fui capaz de agarrar com todas as minhas forças e agora passarei o resto da minha vida correndo atrás de saber o que eu perdi...</div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span> </span>Essa sensação parece inexplicável, ou pelo menos parecia. Após pensar um pouco eu descobri o que aconteceu para que eu me sentisse assim tão estranho. Com toda certeza Morpheus me encontrou ontem e não sei porque eu acabei tomando a maldita pílula azul. </div>Thiagohttp://www.blogger.com/profile/06811524587699682485noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7521901678431922831.post-43818691935155682772012-03-30T14:07:00.000-07:002012-03-30T14:07:53.604-07:00Doce Vingança<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"> Era mais um dia de audiências na justiça do trabalho. Como é absolutamente normal, as audiências estavam atrasadas e isso gerava uma certo mal estar na sala de espera, afinal de contas, constantemente a parte Autora da ação ficava obrigada a ficar no mesmo ambiente que a parte ré, e quando havia uma certa inimizade oriunda da relação de trabalho o clima sempre ficava meio tenso. Pareciam que os segundos se arrastavam e o relógio quase ia para trás, mas o tempo sempre passa, mesmo devagar, e pelo alto-falante as partes foram chamadas para a audiência, era hora da conciliação.</div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"> Era um caso de assédio moral no trabalho. O autor da ação, chamado na justiça do trabalho de Reclamante, era um senhor com cerca de 40 anos tinha uma expressão cansada e amargurada no rosto, parecia muito magro, como se não dormisse bem há muito tempo, tinha os olhos fundos e uma pele ressecada. Ele entrou na sala de audiência seguido por seu advogado. Logo após, entrou na sala de audiência o representante do réu e seu advogado. </div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"> Normalmente, as empresas grandes como aquela que era ré no processo, mandam representantes para as audiências da justiça do trabalho. Naquele caso era diferente. Quem acompanhava o advogado era um homem de óculos grossos cujos cabelos começavam a rarear, era magro mas não cadavérico, e meio pálido como se não visse muito a luz do sol, trajava um excelente terno que parecia ser feito sob medida. Ele com certeza não era apenas um “preposto”, ali estava presente o dono da empresa ré. E cabe esclarecer aqui que na justiça do trabalho o réu era chamado de Reclamado. </div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"> As partes se sentaram e foi iniciada uma tentativa de acordo. Mas havia uma tensão no ar, o dono da empresa estava com um leve sorriso no rosto e olhava diretamente nos olhos do autor do processo. Isso era uma provocação, velada, mas incisiva, que somente aqueles dois entendiam. O juiz, sentado em sua cadeira, lia algumas páginas do processo para melhor se inteirar do que acontecia e por fim perguntou:</div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">- Há alguma possibilidade de acordo?</div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"> O dono da empresa, se antecipando ao advogado, simplesmente disse que não havia a menor possibilidade de acordo, e mantinha aquele sorriso provocador nos lábios. Nessa hora, o Reclamante não agüentou e explodiu:</div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">- EU TE ODEIO! Você acaba com a minha vida e mesmo assim chega aqui sem nenhuma proposta de acordo? Você é um tremendo canalha.</div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">Não adiantou o juiz pedir calma para aquele homem, ele parecia estar claramente transtornado. O reclamante tremia com uma raiva que estava contida já tinha muito tempo, estava quase chorando em meio a uma sala de audiência lotada de jovens estudantes de direito. Com um certo custo, o juiz, que se mantinha calmo mas firme, juntamente com o advogado do Reclamante, conseguiram fazer com que este se acalmasse. </div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">Nessa hora, o dono da empresa, pediu a palavra. O juiz relutou, mas o Reclamado disse que era importante e que poderiam resolver o processo ali mesmo, no que o juiz assentiu. Então ele disse:</div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">- Sim excelência, não tem acordo nesse processo unicamente porque eu irei pagar exatamente a quantia que ele pediu na petição inicial. </div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"> E assim pegou um talão de cheque e começou a preenchê-lo, sob os olhares perplexos de todas na sala de audiência. Cabe aqui lembrar que era uma quantia alta, e aquele homem preenchia o cheque como se aqueles valores não lhe fizessem a menor diferença. </div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"> O juiz nunca havia visto uma cena como aquela, e se viu obrigado a perguntar, movido por uma curiosidade incontrolável, o que havia feito aquele homem acatar o pedido do Reclamante sem nem mesmo tentar reduzir o valor a ser pago. Nisso, o Reclamado, com calma e uma certa elegância orgulhosa respondeu:</div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">- Excelência, eu sempre fui considerado um nerd, um fracassado, looser, cdf, e qualquer outros desses adjetivos que são muito comuns em colégios de ensino médio. Sempre fui alvo de gozações, brincadeiras de mal gosto, o tal do bullying que se fala hoje <st1:personname productid="em dia. O Reclamante" w:st="on">em dia. O Reclamante</st1:personname> com certeza não se lembra de mim, mas eu com certeza me lembro dele pois, durante todo o meu ensino médio a pessoa que mais me humilhou foi ele. Por várias vezes tive vontade de chorar, de matá-lo, de me matar ou de nunca mais voltar ao colégio de novo. Mesmo depois de ter saído do colégio, o rosto dele e as humilhações me perseguiam. Demorei anos para voltar a ter confiança em mim mesmo de novo. Mas o tempo passou, me formei, abri minha empresa que atualmente está passando ao largo de toda essa crise econômica mundial. A uns anos atrás, qual não foi a minha surpresa quando o currículo desse homem chegou na minha mesa. Eu me lembrava dele, de seu rosto, das humilhações... Ele com certeza não era qualificado, mas eu resolvi contratá-lo unicamente para devolver tudo o que ele fez comigo. E nos últimos 5 anos fiz questão de fazer isso, transformei a vida dele num inferno. Sempre tratei bem meus funcionários, ele era o único que não. Era humilhado, cobrado, exposto, ridicularizado em tudo que fazia, exatamente como ele fez comigo a vários anos atrás. Se para devolver tudo que sofri tenho que pagar essa quantia, o faço com muito prazer, pois valeu cada centavo.</div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"> A perplexidade era geral. Ninguém na sala era capaz de dizer coisa alguma. O juiz, muito sério, mandou seu assistente redigir a ata, mas resolveu tentar moralizar a conduta do Reclamado:</div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">- Sr. Creio que essa não foi a melhor forma de resolver o problema. Sua atitude foi horrível em guardar rancor por tantos anos de algo que era feito por meras crianças. </div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"> Nisso, o Reclamante retrucou, mas de forma educada:</div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">- Ora excelência, e se o sr. pudesse humilhar todas as pessoas que já te fizeram algum mal na vida? O senhor faria isso? Eu apenas agarrei a oportunidade que a vida me deu. Acho que a maioria das pessoas faria o mesmo que eu. </div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"> A ata da audiência havia ficado pronta. Todos se mantinham ainda num silêncio perplexo. O Reclamado se levantou, assinou a ata de audiência, entregou o cheque ao Reclamante, e ainda com o seu elegante sorriso disse a ele:</div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">- Tenha uma boa vida. </div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"> E assim o Reclamado saiu da sala de audiência, com um doce sabor de vingança dentro de si e um sorriso incontido nos lábios. </div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><br />
</div>Thiagohttp://www.blogger.com/profile/06811524587699682485noreply@blogger.com4tag:blogger.com,1999:blog-7521901678431922831.post-73273758878291782792012-03-26T07:16:00.001-07:002012-03-26T07:16:39.892-07:00Uma Crônica de Segunda #14<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">Alguns livros me deixam deprimido quando eu termino de lê-los. Não porque a história seja triste, mas simplesmente porque terminar de ler o livro faz com que você nunca mais veja aquela história de forma inédita de novo. A empolgação de ler cada página, a vontade de ler cada vez mais para se chegar ao final da história, tudo isso termina na última página do seu livro. E não adianta tentar ler novamente, nunca mais será a mesma coisa. </div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">Passei a classificar os livros em bons, médio ou ruins, baseado no quanto eles me dão essa sensação descrita acima. E “Jogador N.º 1” de Ernest Cline conseguiu me dar essa sensação com uma força como a muito tempo não sentia.</div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">Esse livro me deixou obcecado. Pelo tempo que demorei para lê-lo, eu não conseguia pensar em mais nada. O trabalho era difícil, os estudos eram difíceis, e o livro ficava ali, ao meu lado, como uma ameaça para que eu nunca o deixasse e como um convite sedutor para que eu largasse tudo e o lesse. </div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">E ao final, quando fechei a última página, uma tremenda sensação de tristeza e solidão se abateu sobre mim. Senti que perdia um grupo de amigos, com uma história que jamais seria inédita para mim de novo. E ao final, o único consolo que tenho é saber o quanto o livro me divertiu e a obrigação de fazer com que mais pessoas se tornem fãs dele. </div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">Creio que para finalizar, um resumo da história se faz bem. Não é o suficiente para descrever a minha empolgação com a obra, mas serve de aperitivo para os que aceitarem essa minha recomendação. </div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">(Sinopse do Submarino): <i>Um mundo em jogo, a busca pelo grande prêmio.Você está preparado? O ano é 2044, e o mundo real está numa terrível situação!<br />
<br />
Como a maioria das pessoas, Wade Watts escapa de sua desanimadora realidade passando horas e horas conectado ao Oasis, que é uma utopia virtual que permite a seus usuários ser o que eles quiserem, um lugar onde você pode viver e se apaixonar em qualquer um de seus milhares de planetas. <o:p></o:p></i></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><i><br />
E, como a maioria da humanidade, Wade sonha em encontrar o grande prêmio que está escondido nesse mundo virtual. Em algum lugar desse playground gigante, o criador do Oasis escondeu uma série de enigmas que premiará com uma enorme fortuna e um poder muito grande aquele que conseguir desvendá-los.<o:p></o:p></i></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><i><br />
Durante anos, milhões de pessoas tentaram, sem sucesso, encontrar esse prêmio, sabendo apenas que os enigmas de Halliday se baseiam na cultura pop da época que ele adorava: o fim do século XX. E, durante anos nessa busca, milhões descobriram outra válvula de escape, estudando de modo obsessivo os símbolos de Halliday. Como muitas pessoas, ele discute os detalhes da obra de John Hughes, joga Pac-Man e canta as músicas do Devo enquanto ganha terreno no Oasis, assim encontrando o primeiro desafio. <o:p></o:p></i></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><i><br />
De repente, o mundo todo se volta para acompanhar seus passos, e milhares de competidores se unem na busca, entre eles, jogadores poderosos e dispostos a cometer assassinatos para tirar Wade do caminho. Agora, a única maneira de Wade sobreviver e proteger tudo que ele conhece é vencer, mas para isso, talvez tenha que deixar para trás sua perfeita existência virtual e encarar a vida no mundo real do qual ele sempre fugiu desesperadamente.</i></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><br />
</div>Thiagohttp://www.blogger.com/profile/06811524587699682485noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7521901678431922831.post-92015040135904442592012-03-23T11:23:00.000-07:002012-03-23T11:23:02.094-07:00A avó da minha irmã morreu<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="color: #222222; font-family: Arial; font-size: 10.0pt;">É absolutamente normal a reunião de grupos de amigos em colégios, e mais normal ainda é que esses grupos marquem de se reunir fora do colégio. Toda a história começou com uma conversa para saber onde aquele grupo de três amigos, adolescentes, <span class="apple-converted-space"> </span>iriam passar a tarde jogando vídeo-game. Os nomes não importam muito, afinal de contas os assuntos ali falados poderiam acontecer em milhares de locais diferentes e em nenhum deles essa história mudaria uma única vírgula.<o:p></o:p></span></div><div class="MsoNormal" style="background-color: rgba(255, 255, 255, 0.917969); text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="color: #222222; font-family: Arial; font-size: 10.0pt;">Quem começou com a idéia de passar a tarde jogando era algo que nem mesmo eles sabiam. Só sabiam que ainda não tinha decidido onde iriam fazer isso. Viraram para o primeiro deles, o que tinha mais espaço em casa e, mais importante, não dividia quarto com ninguém. Por esse motivo a casa dele costumava ser o local mais comum para a jogatina eletrônica. Porém garoto respondeu:<o:p></o:p></span></div><div class="MsoNormal" style="background-color: rgba(255, 255, 255, 0.917969); text-align: justify;"><span style="color: #222222; font-family: Arial; font-size: 10.0pt;">- Dessa vez não dá. Ta um clima chato lá <st1:personname productid="em casa. A" w:st="on">em casa. A</st1:personname> avó da minha irmã morreu e vocês sabem como é, né?<o:p></o:p></span></div><div class="MsoNormal" style="background-color: rgba(255, 255, 255, 0.917969); text-align: justify;"><span style="color: #222222; font-family: Arial; font-size: 10.0pt;"> <span class="apple-converted-space"> </span>Os outros dois amigos se solidarizaram, e prontamente disseram que sentiam muito pelo que havia acontecido com a avó do primeiro. E esse primeiro, também prontamente, respondeu:<o:p></o:p></span></div><div class="MsoNormal" style="background-color: rgba(255, 255, 255, 0.917969); text-align: justify;"><span style="color: #222222; font-family: Arial; font-size: 10.0pt;">- Não, não foi minha vó que morreu. Foi a vó da minha irmã. Minha irmã é filha da minha mãe com o meu padrasto, e quem morreu foi a mãe do meu padrasto. Ou seja, ela era só avó da minha irmã.<o:p></o:p></span></div><div class="MsoNormal" style="background-color: rgba(255, 255, 255, 0.917969); text-align: justify;"><span style="color: #222222; font-family: Arial; font-size: 10.0pt;"> <span class="apple-converted-space"> </span>“ahhh” dito em tom de compreensão foi a resposta dos outros amigos.<o:p></o:p></span></div><div class="MsoNormal" style="background-color: rgba(255, 255, 255, 0.917969); text-align: justify;"><span style="color: #222222; font-family: Arial; font-size: 10.0pt;"> <span class="apple-converted-space"> </span>Então olharam para o segundo deles, que não tanto quanto o primeiro, também tinha em sua casa uma jogatina de vez <st1:personname productid="em quando. E" w:st="on">em quando. E</st1:personname> ele respondeu:<o:p></o:p></span></div><div class="MsoNormal" style="background-color: rgba(255, 255, 255, 0.917969); text-align: justify;"><span style="color: #222222; font-family: Arial; font-size: 10.0pt;">- Não dá. Essa semana eu acabei discutindo com o babaca do namorado da minha mãe. E por causa disso eu estou meio que de castigo sem poder levar ninguém lá em casa e nem jogar vídeo-game lá.<o:p></o:p></span></div><div class="MsoNormal" style="background-color: rgba(255, 255, 255, 0.917969); text-align: justify;"><span style="color: #222222; font-family: Arial; font-size: 10.0pt;"> <span class="apple-converted-space"> </span>Outra “ahh” de compreensão foi compartilhada pelos outros dois amigos. E por fim olharam para o terceiro, aquele no qual eles nunca haviam ido jogar na casa. E ele respondeu:<o:p></o:p></span></div><div class="MsoNormal" style="background-color: rgba(255, 255, 255, 0.917969); text-align: justify;"><span style="color: #222222; font-family: Arial; font-size: 10.0pt;">- Também não pode ser lá <st1:personname productid="em casa. Meu" w:st="on">em casa. Meu</st1:personname> pai e minha mãe viajaram e minha vó ta lá <st1:personname productid="em casa. Até" w:st="on">em casa. Até</st1:personname> ai nada de mais, mas meus pais disseram que eu não podia levar ninguém pra lá enquanto eles não estivessem...<o:p></o:p></span></div><div class="MsoNormal" style="background-color: rgba(255, 255, 255, 0.917969); text-align: justify;"><span style="color: #222222; font-family: Arial; font-size: 10.0pt;"> <span class="apple-converted-space"> </span>Mais uma vez o “ahh” de compreensão tomou conta dos outros amigos. Um breve momento de silêncio se abateu. Esse silêncio foi interrompido pelo primeiro, aquele cuja avó da irmã havia morrido, que disse:<o:p></o:p></span></div><div class="MsoNormal" style="background-color: rgba(255, 255, 255, 0.917969); text-align: justify;"><span style="color: #222222; font-family: Arial; font-size: 10.0pt;">- Peraí, você disse que seu pai e sua mãe viajaram? Eles ainda são casados?<o:p></o:p></span></div><div class="MsoNormal" style="background-color: rgba(255, 255, 255, 0.917969); text-align: justify;"><span style="color: #222222; font-family: Arial; font-size: 10.0pt;"> <span class="apple-converted-space"> </span>Nessa hora o terceiro, com uma certa naturalidade respondeu que sim, afinal seus pais eram casados a mais de 20 anos já. E nessa hora o segundo, aquele do namorado da mãe, disse:<o:p></o:p></span></div><div class="MsoNormal" style="background-color: rgba(255, 255, 255, 0.917969); text-align: justify;"><span style="color: #222222; font-family: Arial; font-size: 10.0pt;">- Cara que coisa mais estranha. Seus pais ainda são casados. Isso é esquisito pacas...<o:p></o:p></span></div><div class="MsoNormal" style="background-color: rgba(255, 255, 255, 0.917969); text-align: justify;"><span style="color: #222222; font-family: Arial; font-size: 10.0pt;">Os dois primeiros amigos riram. E o primeiro apenas pode se sentir constrangido e ficou em silêncio, afinal de contas ele realmente sabia que fazia parte de uma minoria. </span><span style="background-color: transparent;"> </span></div>Thiagohttp://www.blogger.com/profile/06811524587699682485noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7521901678431922831.post-11191345981903927722012-03-19T12:48:00.002-07:002012-03-19T12:48:48.137-07:00Uma Crônica de Segunda #13<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"> Algumas pessoas já ouviram falar, outras não, mas uma banda que eu gosto muito é a Banda das Velhas Virgens. Trata-se de uma banda de blues rock formada no interior de São Paulo e que já contam com mais de vinte anos de carreira. As músicas giram sempre em torno dos mesmos temas: sexo, mulher e bebida. É um som divertido, mas muitas pessoas (principalmente mulheres) não suportam, alegando que a banda só faz músicas machistas. Machistas ou não, não é o que mais importa pra essa crônica. O que realmente importa é a sabedoria contida numa determinada música.</div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"> A música que estou falando é “Tudo Que a Gente Faz É Pra Ver Se Come Alguém”. O nome da música é o refrão, repetido a exaustão em todas as estrofes, afinal “a gente toma banho pra ver se come alguém”, “ agente faz a barba pra ver se como alguém”, “tudo que a gente faz é pra ver se come alguém”. Essa frase, recheada de sexo, é a melhor explicação já feita até hoje sobre a criminalidade em todo o Brasil. </div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"> Pode parecer estranho, mas essa frase consegue fazer mais sentido do que dezenas de teses de sociologia discutidas à exaustão <st1:personname productid="em universidades. Pense" w:st="on">em universidades. Pense</st1:personname> bem, a partir dos 12 ou 13 anos existe somente um pensamento que ocupa a mente do homem: comer alguém. E isso independe de classe social ou até mesmo de sexualidade. Com essa idade tudo que você quer é comer alguém. Agora pense num bairro pobre, com 13 anos e completamente sem dinheiro comer alguém não é uma das tarefas mais fáceis. E aí quem é que tem dinheiro nesses bairros pobres e, consequentemente, tá sempre comendo alguém? A resposta é óbvia, é o traficante, o bandidão, o dono do morro. </div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"> Ou seja, quem sempre come alguém é o traficante que tem dinheiro. Logo, o maior incentivo para que alguém entre no mundo do crime é a vontade de comer alguém. </div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"> Esqueçam todas as teorias sobre vulnerabilidade social, situação de risco ou o que mais de fala hoje em dia, pois essas teorias não servem de nada e não explicam o que realmente acontece.. Tudo que a gente faz é pra ver se come alguém, inclusive entrar para o mundo do crime. </div>Thiagohttp://www.blogger.com/profile/06811524587699682485noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7521901678431922831.post-8671535341307602472012-03-16T11:51:00.001-07:002012-03-16T11:51:20.971-07:00Forma Alternativa de Resolução de Conflitos<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span> </span>A idéia por trás de todo o ordenamento jurídico é sugerir uma forma pacífica de resolução de conflitos, contudo essa idéia foi um pouco posta de lado nas primeiras décadas dos anos 2000. </div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">Ninguém sabe ao certo como começou, mas as lendas urbanas contam sobre dois jovens, sócios de uma academia de artes marciais. Como acontece com muitas sociedades, eles brigaram e resolveram encerrar a parceria, mas a forma como a parceria seria encerrada gerou mais discussões do que os motivos que os levaram inicialmente a brigar. Ambos procuraram advogados e, devidamente orientados, começaram a se movimentar para juntar as provas e darem entrada num processo. Porém, ambos sabiam que o processo seria longo, desgastante e cansativo. Um belo dia, ao se encontrarem na academia, que a essa altura já estava fechada, um deles propôs resolverem o conflito com uma luta. O outro, meio relutante acabou topando. Chamaram amigos para servir de testemunhas, contrataram um juiz isento, e sob as regras do MMA resolveram seus conflitos legais. Quem ganhou a luta não importa muito, o importante é que essa história acabou abrindo um precedente. </div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">As pessoas que viram essa luta acharam que aquela poderia ser uma boa forma de resolver um conflito. Podia não ser a mais justa, mas com certeza era mais rápida do que um processo judicial. E assim, a solução de alguns conflitos envolvendo as testemunhas daquela primeira luta acabaram também sendo decididas em cima de um ringue e sob as regras do MMA. </div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">Pouco tempo depois, essa idéia acabou indo parar até mesmo em pessoas que nada sabiam sobre lutas. Essas pessoas acabavam por contratar lutadores profissionais para lutarem por elas, tudo sob regras rígidas. Os combates iam somente até o nocaute dos contendores, afinal se houvessem mortes isso algo bem mais grave. <span> </span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">Essa forma de resolução de problemas acabou se tornando um meio popular para a solução de controvérsias. Era mais rápido e principalmente não submetia as partes a terem que se deslocar a fóruns onde pessoas que não as conheciam ficavam no alto de um palanque usando uma capa preta e dizendo quem tinha razão. Resolver as coisas em cima de um ringue, seja diretamente ou por meio de um representante, parecia ser mais natural, menos burocrático. Era com certeza algo mais próximo das pessoas do que os protocolos exagerados do judiciário comum. E o mais estranho é que quando as contendas eram resolvidas assim a parte derrotada nunca procurava o judiciário, parecia que um vestígio de honra ainda existia nas pessoas que resolviam os conflitos daquela forma.</div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">Devido a essa simplicidade, as assim chamadas “lutas judiciárias” se tornaram bastante populares. Lutadores profissionais acabavam fazendo um bom dinheiro participando de lutas clandestinas para resolver conflitos em nome de outras pessoas. </div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">A popularidade das lutas judiciárias, após alguns anos, chegou a ponto de que não mais poderiam ser ignoradas. Quase todos os juristas eram unânimes em dizer que era um absurdo se resolver os problemas assim, e em pouco tempo essas lutas foram proibidas. Mas a proibição não coibiu, e o número de lutas só crescia a medida que os velhos processos de papel diminuíam. </div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">Então, após longos anos de discussões acirradas, pareceres contrários e a favor. Foi aprovada a Emenda Constitucional n.º 93, que declarava como sendo uma “legítima forma de solução de conflitos” as lutas judiciárias.</div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">Pouco tempo depois da Emenda, foi aprovada a lei n.º 19.385 que dispunha sobre as formas como a luta judiciária ocorreria. Um decreto regulamentador serviu para unificar as regras, fixando as formas de combate, os limites, os golpes que poderiam ser aplicados e tudo necessário para a preservação dos combatentes e a manutenção das decisões e resultados das lutas. </div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">A OAB, como não poderia deixar de ser, entrou com uma Ação Direta de Inconstitucionalidade contra a lei mencionada acima. Não por achar cruel ou desumana aquela forma de solução de conflitos, mas sim porque as pessoas estavam sendo contratadas para subir ao ringue e representar as partes não eram advogados. </div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">Após alguns meses de discussão, no qual as lutas deveriam ser suspensas (pelo menos oficialmente) o STF firmou posicionamento favorável a tese da OAB. Os lutadores contratados para representar as partes deveriam ser formados em direito e inscritos nos quadros da OAB da localidade em que atuavam. Os lutadores estavam submetidos as mesmas regras que os advogados que trabalhavam com papel e deveriam pagar anualmente sua contribuição para a ordem. </div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">Essa decisão causou um rebuliço nas lutas. Centenas de lutadores correram para se inscrever na primeira faculdade de direito que encontraram. Tentavam de todo modo conseguir se qualificar como estagiários e assim conseguirem uma carteira da ordem compatível com essa condição e poderem voltar aos ringues. Grandes escritórios viram nisso uma oportunidade e passaram a cooptar esses lutadores e a criaram academias dentro do próprio escritório para servirem de base para aqueles que optarem pela “forma alternativa de resolução de conflitos”, expressão pela qual as lutas judiciárias passaram a ser conhecidas. Em outros casos, pequenos escritórios eram abertos no mesmo local que academias de MMA, e assim as pessoas poderiam avaliar se seria melhor uma defesa na justiça comum ou optar pela forma alternativa.</div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><br />
</div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">O tempo passa e os seres humanos costumam se adaptar rápido as mudanças sociais, e com essa não foi diferente. Após um período inicial de discussão, a forma alternativa de resolução de conflitos passou a fazer parte do dia à dia da sociedade. Após ser citado, a parte podia optar em procurar um advogado comum ou escolher um “causídico pugnatorum”, como ficaram conhecidos os advogados lutadores (o fato de lutadores em latim ser <i>pugnatorum</i> com certeza influenciou a escolha do nome). Se a outra parte concordasse (essa concordância era condição necessária para que a forma alternativa fosse possível), o julgamento seria feito dentro do ringue. Os autos seriam remetidos para uma vara especializada nesse tipo de conflito e a luta seria agendada. O juiz da luta seria um juiz togado, aprovado em concurso público de provas e títulos que tinha conhecimento tanto em direito quanto nas regras do MMA. A parte poderia escolher entre contratar um desses advogados lutadores ou ela mesma entrar no ringue, o que não costumava ser muito comum nem recomendável. </div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">Se a luta ocorresse dentro das regras, o resultado era irrecorrível. Se o lutador fosse desclassificado por alguma conduta ilegal, era possível recurso para uma turma julgadora que iria analisar se a desclassificação fora correta ou não. Da decisão da turma julgadora cabia recurso apenas para o STF. </div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">Essa forma alternativa de resolução de conflitos trouxe a vantagem de tornar o judiciário um pouco mais acessível e interessante ao cidadão comum. As audiências de luta costumavam ser eventos disputados pelo público, sejam estudantes de direito ou não. As matérias relativas aos <i>pugnatorum</i> eram ensinadas desde a faculdade e a decisão se seria um causídico comum ou lutador era tomada pelo estudante na época de fazer o estágio obrigatório. </div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">De outro lado, essa forma era criticada por juristas mais antigos, além de organizações voltadas para os direitos humanos. Outro problemas era que, as vezes, as lutas eram marcadas para 6 meses após a concordância das partes, o que fazia com que a característica original de rapidez fosse por água abaixo. Mas mesmo assim, as lutas continuaram, e passaram a fazer parte do judiciário como qualquer outra forma de solução de conflitos. </div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><br />
</div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">João das Neves nunca tinha acompanhado muito essa questão das lutas judiciárias (ou forma alternativa de resolução de conflitos como os mais técnicos gostavam de chamar). Ele preferia uma boa e velha partida de futebol, e quando via algo sobre as lutas pensava se não seria mais interessante contratar um time de futebol para resolver os conflitos. Contudo, ele não iria mais ficar alheio as lutas por muito tempo. </div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">João tinha alguns apartamentos em seu nome. Todos alugados e lhe dando uma renda razoável que complementava sua aposentadoria de servidor público de nível médio. Mas recentemente começou a ter problemas com um dos seus inquilinos. </div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">Havia alugado um apartamento de dois quartos para um jovem e sua mãe. O jovem era um cara alto e forte, dizia que fazia direito e que pretendia ser um dos tais <i>pugnatorum</i>, mas João nunca ligou muito pra isso. Ele ligava para o fato de que o aluguel estava atrasado já haviam 2 meses. O jovem respondia que não iria pagar o aluguel, pois a parede estava com infiltrações e o apartamento estava mal conservado. Essas afirmações não eram mentiras, mas João não ia arrumar nada no apartamento enquanto o aluguel não fosse pago. E assim formou o impasse.</div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">Não teve outro jeito, João contratou um advogado e entrou com uma ação de despejo por conta do aluguel <st1:personname productid="em atraso. Esse" w:st="on">em atraso. Esse</st1:personname> jovem, que ele nunca conseguiu decorar o nome, contestou a ação e fez a proposta de resolver os conflitos nessa forma alternativa. Ao consultar seu advogado, eles avaliaram a possibilidade de aceitar a proposta. </div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">O escritório do advogado de João ficava num prédio de três andares, ou melhor um térreo, um andar acima e um terceiro andar subterrâneo. No térreo ficava uma recepção e algumas salas de reunião. No primeiro andar tinham as salas dos advogados e dos sócios que atuavam em formas mais tradicionais do direito. Já o subsolo era um imenso vão aberto, com o chão todo de tatame, um ringue no meio e diversos sacos de areia espalhados. Lá ficavam os advogado lutadores. </div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">Ao conversar com seu advogado analisaram as vantagens do combate. O rapaz adversário atuava em causa própria, era estagiário num escritório e podia lutar conforme recente entendimento do STF, e aquela seria sua primeira luta. Na mesma categoria de peso que o rapaz, havia no escritório um experiente lutador, pouco passado dos 30 anos, mas com um excelente cartel de “sentenças” favoráveis, havia perdido apenas uma luta. As chances eram boas e a solução assim seria mais rápida que um processo normal.</div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">Aceitaram a proposta e a luta foi marcada para dali 3 meses, um prazo rápido levando em consideração a demora naquela época para a marcação. </div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">No dia, como sempre, as arquibancadas do ringue de audiência estavam lotadas. Vários estagiários e estudantes viam as lutas, alguns advogados esperavam sua vez de entrar no ringue, outro reclamava do fato de que um juiz novato é quem estava conduzindo as audiências. </div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">Após pouco tempo chegou a hora da luta do advogado de João. Ele se levantou, tirou o roupão com o símbolo do escritório e entrou no ringue. O rapaz, seu adversário fez o mesmo. </div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">A luta foi rápida, mas nem por isso menos brutal. O advogado mais experiente massacrou o jovem no ringue. O rapaz teve que ser levado de maca, desmaiado para o serviço médico. E vendo aquela cena, uma súbita sensação de justiça se abateu sobre João. Seu advogado havia ganhado a luta e vendo o jovem ser levado ensangüentado, João teve um único pensamento: “Não é que essa tal de forma alternativa é interessante! Acho que foi feita justiça.”</div>Thiagohttp://www.blogger.com/profile/06811524587699682485noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7521901678431922831.post-59907124138210648772012-03-12T13:42:00.001-07:002012-03-12T13:42:40.817-07:00Uma Crônica de Segunda #12<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">Confesso que não sou fã do Paulo Coelho. Tenho pra mim que as histórias dele são um misto de misticismo, esoterismo, um pouco de história acrescidas de um contexto que ninguém entende, e por ninguém entender direito ele passa a imagem de ser inteligente. Mas recentemente esse mesmo autor que eu gosto de criticar disse algo que sou obrigado a concordar completamente. </div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">Durante toda a movimentação por conta do S.O.P.A., P.I.P.A. e A.C.T.A., Paulo Coelho se posicionou contra esse projetos e disse que não via problemas nas pessoas baixarem seus livros de graça. Em resposta, algumas pessoas disseram que ele não se importava com os downloads ilegais pelo simples fato de já ser rico, e ele prontamente respondeu que escrevia por necessidade, e que o dinheiro veio apenas depois. Acrescentou ainda que mesmo se não ganhasse nada, continuaria escrevendo.</div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">E é nesse ponto que concordo com ele: escrever é uma necessidade. Mesmo com poucas visitas, mesmo passando despercebido, expor as idéias que fervilham na minha mente me incentiva a escrever, mesmo que eu não tenha mais do que 3 leitores habituais. As palavras apaixonam e criá-las é um movimento que simplesmente não pode ser parado. </div>Thiagohttp://www.blogger.com/profile/06811524587699682485noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7521901678431922831.post-83916076039488117212012-03-05T06:18:00.001-08:002012-03-05T06:18:11.995-08:00Uma Crônica de Segunda #11<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">Acredito que as cidades têm personalidades, assim como a maioria das pessoas. E as personalidades de cada cidade se refletem na relação intima que cada um possui com o lugar que mora. </div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">Brasília é o melhor exemplo disso. Brasília é uma amante ciumenta e cruel, que te maltrata, te traí e te faz passar raiva e tempo todo, mas basta uma única pessoa falar mal dela para que você vá correndo defendê-la com todas as suas forças. Você adora criticá-la, mas ao sair de perto dela começa a falar sobre ela com o maior orgulho que sua voz consegue impor.</div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">Brasília é seca, e quanto mais você diz que quer se ver livre dela, mais ela te agarra e te puxa para viver aqui. Os que nascem aqui se recusam a deixá-la, os que vieram para ela não tem vontade de voltar para o lugar de onde vieram. Mas enquanto aqui estiverem vivendo, as reclamações sobre dificuldades e críticas a cidade imperam e qualquer conversa que se tenha. </div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">Durante muito tempo, tive minhas birras com essa cidade. Queria deixá-la, e por mais que tentasse ir para outro lugar, mais Brasília me prendia em seus longos braços que permeiam qualquer lugar desse país. Mas o tempo passa, sempre passa, e com o tempo vi que toda a minha raiva pela cidade era apenas a forma que melhor demonstrava meu amor por ela e aos poucos minhas birras são deixadas de lado e passo a admitir que gosto desse lugar. E ao admitir que a amo, talvez assim ela me deixe partir, pois sabe que sempre irei voltar. </div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><br />
</div>Thiagohttp://www.blogger.com/profile/06811524587699682485noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7521901678431922831.post-56655225535928125422012-03-02T06:59:00.000-08:002012-03-02T06:59:19.834-08:00Fuga<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">Ele já era adulto fazia algum tempo, mas nunca havia tido uma experiência sexual. A cada dia que se passava o desejo só crescia ao ponto de se tornar incontrolável. Cada uma das coisas que fazia para se distrair eram incapazes de lhe tirar o desejo monstruoso que tinha.</div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">Sua vida era restrita. Conhecia apenas aquele lugar e nunca fora além daquelas grades. O mundo era grande e ele sabia disso, mas durante muito tempo não importava. Ou melhor, continuava não importando, a não ser é claro pela tremenda vontade de dar vazão a um imperativo biológico. A vida era confortável, a comida farta, mas só lhe faltava satisfazer seus desejos. </div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">Um dia, depois de muito se segurar, não pode mais se controlar. Viu uma chance e correu o máximo que podia, para longe, rápido, e em pouco tempo estava no meio da rua num território complementa desconhecido. Fugiu, essa era a palavra certa para descrever o que tinha acabado de fazer. Tudo era diferente ali fora, os cheiros, os lugares e a forma como o tratavam. Os perigos eram enormes, pois os carros não paravam para ele, poderia morrer a qualquer momento e por conta disso pensou <st1:personname productid="em voltar. Seus" w:st="on">em voltar. Seus</st1:personname> desejos íntimos de se satisfazer brigavam com o medo dos perigos que estava enfrentando e a cada momento não sabia se ia em frente ou se voltava para a vida que conhecia. </div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">Foi nesse momento, em meio a tais devaneios que a viu. Ela não era bonita, mas o cheiro dela era inesquecível, inebriante, entorpecente... Sem nem mesmo pensar duas vezes foi em direção a ela e sem lhe dizer qualquer palavra a agarrou. Começaram ali mesmo, a se amar no meio da rua sem se importar com o que as outras pessoas estivessem vendo. Ela era a primeira dele, e ele sabia que não era o primeiro dela, mas isso não importava. A única coisa que importava era dar vazão aos seus próprios desejos, aquilo que a muito tempo guardava dentro de si.</div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">Ele foi bruto, foi violento, agressivo, fazia sons animalescos e nem ligava para o que ela estava sentindo. Tudo aquilo ali visava satisfazer apenas ele mesmo e a mais ninguém. Quando terminou, saiu de cima dela e sem nem mesmo dar um último olhar foi embora. Ela não mais o interessava, o cheiro doce que ela tinha havia se perdido no meio do ato que eles acabaram de praticar e ela agora era apenas mais uma ali, perdida no meio daquela rua. </div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">Ele voltou para casa, cansado e sujo. Não sabia ao certo quanto tempo havia passado fora, mas sabia que mesmo que se tivesse sido pouco, algumas pessoas estariam preocupadas com ele. </div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">Estava certo, ao chegar na porta de casa foi recebido com sorrisos e afagos, e até mesmo com lágrimas nos olhos. Deram-lhe um bom banho, e logo após pôs-se a comer bastante, afinal tinha fome. Ser cachorro daquela família era uma vida fácil, melhor do que de muitos cachorros que ele via passar pelo portão da frente de sua casa. O único motivo de sua fuga fora para satisfazer seus instintos, seus desejos mais impuros, e agora com os desejos satisfeitos ele voltava para casa e para a vida tranqüila que nunca quis abandonar de verdade. </div>Thiagohttp://www.blogger.com/profile/06811524587699682485noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7521901678431922831.post-63194949651248738582012-02-27T12:33:00.003-08:002012-03-02T06:40:00.405-08:00Uma Crônica de Segunda #10<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">Nunca fiz amigos bebendo leite! Essa frase é quase um jargão comum a todas as pessoas que bebem (no sentido de ingerir bebida alcoólica). Eu, como bom bebedor, sou adepto dessa frase, afinal de contas já fiz grandes amigos a medida que virávamos copos de cerveja. </div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">O problema é que essa frase as vezes soa meio pesada, quase que exagerada. É como se as pessoas que não bebessem não pudessem ter amigos. </div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">Admito que as pessoas que não bebem são menos felizes, pelo menos no meu ponto de vista. Tem menos histórias para contar, menos momento divertidos. Mas isso não quer dizer que não sejam pessoas que não tem amigos, grandes amigos. </div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">E pensando nas pessoas que não bebem, tentei me lembrar dos amigos que fiz sem qualquer ajuda do álcool, e cheguei a conclusão de que existe um outro fato socializador, tão forte quanto qualquer bebida que você possa ingerir. Algo que também serve para fazer amigos e que me ajudou a conhecer ótimas pessoas; Estou falando de vídeo games. </div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">Tenho bons amigos que fiz por meio dos jogos eletrônicos (e muitos outros feitos por outros tipos de jogos) e esses amigos soa tão bons quanto os que fiz nos bares da vida.</div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">Então a frase correta deveria ser: nunca fiz amigos bebendo leite, mas já fiz alguns bons amigos jogando vídeo-game. </div>Thiagohttp://www.blogger.com/profile/06811524587699682485noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-7521901678431922831.post-54547583826773453772012-02-03T11:12:00.003-08:002012-02-03T11:12:10.152-08:00Olhares<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">Ele tinha acabado de receber um convite para uma <i>happy hour</i>, um encontro com os amigos do trabalho numa sexta feira após o expediente. Era óbvio que ele ia aceitar: solteiro e morando sozinho não tinha motivos para chegar cedo em casa, além disso a semana tinha sido estressante, com milhares de problemas para serem resolvidos... Bem, se não eram milhares de problemas, eram no mínimo muitos, e os muitos problemas iriam dar um tempo pelo fim de semana. Essa simples situação merecia uma comemoração que só uma cerveja gelada pode trazer.</div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">Também tinha um outro motivo para empolgar a saída, só que esse motivo era mais obscuro. Na verdade não era tão obscuro assim, as trocas de olhares, as brincadeiras, os flertes, todo mundo sabia que ele tinha uma queda pela Larissa, a que trabalhava no financeiro. E ela parecia ter uma queda recíproca, pois sempre respondia aos gracejos. Ela tinha confirmado que ia, e aquela poderia ser sua grande chance para transformar alguns olhares em beijos e algo mais, se tudo desse certo. </div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">As horas demoraram a passar, mas as 18 horas chegaram. Saíram todos juntos em direção aos seus carros, de lá iriam para um bar perto dali. </div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">O bar estava cheio, parecia que muitas outras pessoas tinham tido a mesma idéia de comemorar a chegada do final de semana. Com muito custo o grupo de colegas de trabalho, uns 10 ao todo, conseguiram encontrar uma mesa que os acomodasse. </div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">Ele tinha conseguido um lugar bem ao lado da Larissa do financeiro. E a conversa seguia animada, ela rindo, ele também, parecia que a noite iria terminar bem. Mas algo estava chamando atenção demais dele, algo além de Larissa. Sentado atrás dela, numa outra mesa, tinha um homem. Olhava de relance, de canto de olho, e a cada olhada não sabia dizer se o conhecia ou não. </div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">Deixou a conversa com Larissa esfriar um pouco enquanto se perdia no fundo da mente tentando pensar onde poderia conhecer aquele homem. O rosto não era estranho, mas por mais que tentasse não conseguia descobrir se o conhecia ou não.</div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">A conversa com Larissa esfriava mais e mais, e ele nem ligava. Estava remexendo sua mente, atrás do lugar de onde conhecia aquele cara. Faculdade? Amigo de ex-namorada? Antigo trabalho? Não tinha mais nenhuma idéia e aquilo o estava irritando. De vez em quando o homem semi-desconhecido olhava em direção a sua mesa ou para a rua, e mesmo assim não conseguia reconhecê-lo.</div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">A curiosidade já estava se transformando <st1:personname productid="em agonia. Tinha" w:st="on">em agonia. Tinha</st1:personname> que descobrir de onde conhecia aquele cara. Não é possível que alguém de rosto tão familiar pudesse ser apenas um desconhecido. E assim a mente voltou a remexer antigos rostos do passado no fundo da memória para tentar encontrar algum resquício de quem era aquele cara. </div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">Quando já estava quase desistindo, chegando a conclusão de que jamais descobriria quem era aquele homem, o garçom veio e trouxe um guardanapo com um recado. Ele olhou e cometeu o erro de deixar as pessoas ao lado, incluindo a Larissa do financeiro, lerem também. No guardanapo estava escrito:</div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><i>Vi que você me olhou o tempo todo. Também te achei lindo, vem conversar comigo gato.<o:p></o:p></i></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span> </span>Não houve como conter os risos que se espalharam pela mesa. Não adiantou explicar que não era nada disso, que ele apenas tentava se lembrar quem era aquele cara, que o rosto lhe era familiar. Nenhuma das explicações dadas funcionou e todas pareciam igualmente mentirosas. </div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span> </span>Foi uma pena isso ter acontecido, nunca mais Larissa do financeiro flertou com ele de novo. </div>Thiagohttp://www.blogger.com/profile/06811524587699682485noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-7521901678431922831.post-9179833652660369392012-01-23T10:58:00.001-08:002012-01-23T10:58:35.725-08:00Uma Crônica de Segunda #9<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">Se eu posso dizer que algum dia um disco mudou a minha vida, sem a menor sombra de dúvida esse disco foi “A Besteira é a Base da Sabedoria” do cantor brega Falcão. É o terceiro disco da carreira dele, lançado em 1995, e é um disco que sem ele eu jamais seria a pessoa que eu sou hoje em dia. </div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">Vou explicar melhor. É inegável a influência da música na vida de uma pessoa, e os gostos musicais de alguém dizem muito sobre esse alguém. </div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">Nos idos dos anos 90, meus pais gostavam de viajar para a praia, e devido a crises econômicas constantes na história recente do Brasil, costumávamos viajar de carro. Passagens de avião eram absurdamente caras na época. Essas viagens implicavam 2 ou 3 dias pelo interior do Brasil, fechado num carro, até chegar em alguma capital do nordeste e assim conseguir um pouco de praia, sol e descanso. Para agüentar uma viagem longa dessas, só a base de muita música no carro, e devido aos gostos musicais do meu pai, Falcão era uma presença constante. </div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">E ouvindo esse disco do Falcão (um lançamento na época) eu me deparo com uma música chamada “Se eu morrer sem gozar do seu amor, minha alma lhe persegue de pau duro”, que tinha uma estrofe que dizia:</div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><i>Quem em frente à sua casa tinha um poste, <o:p></o:p></i></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><i>Você gostava de um tal de Renato Russo<o:p></o:p></i></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><i>- e eu de xote<o:p></o:p></i></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"> Nessa hora perguntei para minha mãe: “Quem é esse Renato Russo?” Ela me respondeu que me daria um disco dele quando voltássemos de viagem. E foi assim que eu ganhei o disco Quatro Estações da Legião Urbana.</div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"> Eu ouvi esse disco quase até destruí-lo. Passei a economizar todo dinheiro que tinha para comprar outros discos da Legião. Depois só Legião não bastava, passei a ouvir as bandas de Brasília da época: Capital Inicial, Plebe Rude, Escola de Escândalos, bandas difíceis de se ouvir numa época sem mp3 e downloads. </div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"> Corria atrás de entrevistas antigas do Renato Russo, e tudo que ele falava que tinha sido sua influência eu comecei a procurar para ouvir: Sex Pistols, The Clash, The Smiths, até mesmo Led e outras bandas de rock clássico comecei a ouvir por conta de indicações do Renato Russo. E a partir daí minha vida nunca mais foi a mesma e eu virei um escravo do meu gosto musical.</div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"> Nunca mais deixei o rock de lado, e só ampliei o que eu já ouvia. E tudo isso por conta de uma música do Falcão. Um brinde a esse cantor brega. </div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><br />
</div>Thiagohttp://www.blogger.com/profile/06811524587699682485noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7521901678431922831.post-39277840481673377182012-01-20T09:54:00.000-08:002012-01-20T09:59:15.268-08:00Brincadeiras de Criança<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">Crianças não são seres totalmente inocentes. Crianças são seres de sinceridade cruel que vivem num mundo de regras próprias, regras que esquecemos como funcionam a medida que ficamos mais velhos. </div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">Leila não sabia o significado dessas palavras. Pra ela deveria ser apenas um bando de coisas complicadas que ela não entendia, e nem queria entender, afinal ela tinha preocupações maiores. Ter oito anos não é algo fácil, ainda mais quando se é mais alta do que todos os meninos da turma, ou pior ainda, quando se é um pouco mais cheinha que as outras meninas e sua mãe faz questão de sempre cortar o seu cabelo deixando-o bem curto. Ser chamada de “menino” de “homem” de outros derivados era comum, e isso a machucava por dentro de formas que não podemos imaginar. </div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">As vezes a turma era organizada em ordem de altura, e Leila se sentia ainda mais constrangida quando era obrigada a ficar sempre no último lugar da fila. E isso era apenas mais um motivo para ser alvo de gozação dos meninos da turma dela no colégio. </div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">Por várias vezes ela quis chorar, e na maioria das vezes ela chorou mesmo. Ficava pedindo para ser menor ou para ser diferente... Um dia, durante uma sessão de gozações feitas pelos meninos da turma durante o recreio a raiva tomou conta de Leila. Ela não sabe direito como, nem porque, mas conseguiu agarrar um dos garotos que lhe fazia gozação e deu-lhe um belo chute nos órgãos genitais. Mesmo em crianças, um chute nessa área dói bastante, e o garoto ficou ajoelhado e chorando por um tempo até que a professora veio. </div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">Não adiantou explicar muito a questão das gozações, da raiva ou o que fosse, Leila foi castigada por ter agredido um “coleguinha de sala”. Bem, ele não era coleguinha nenhum, era só um garoto que ria dela, e que mereceu o chute, mas mesmo assim quem foi punida foi ela, não o garoto. </div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">Depois desse episódio as brincadeiras maneiraram, mas só por um tempo. Pouco a pouco foram voltando, e Leila agora sentia medo de revidar. Um outro dia, tomada pela raiva após mais uma sessão de brincadeiras de gosto duvidoso, acabou correndo atrás de um outro garoto e deu-lhe um forte tapa nas costas que o derrubou no chão. O garoto rolou, se levantou, olhou pra ela e riu. Um outro garoto fez outra brincadeira e ela o agarrou e deu-lhe um belo tapa nas costas também, e esse também riu.</div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"> Isso passou a ser uma brincadeira freqüente. Eles riam de Leila, ela corria atrás dos garotos e tentava pegar alguns deles. Para os garotos do colégio aquela passou a ser uma brincadeira cada vez mais divertida, cujo prêmio era para aquele que conseguia fugir dos longos braços da garota. E Leila, sem saber direito os motivos acabava por até mesmo gostar de bater naqueles garotos. </div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><br />
</div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"> O tempo, inexorável como sempre passou. As pessoas cresceram, seguiram suas vidas e a infância foi deixada para trás com algumas marcas que só ela consegue deixar. Leila também cresceu, como era de se esperar. Hoje em dia continua bem mais alta do que se esperaria para uma mulher, mas não tão alta assim. A adolescência lhe deu curvas que lhe tiraram o aspecto de “cheinha”. Quanto a bater nos garotos? Ela ainda faz isso, mas cobra caro para fazê-lo. E sempre que ela, vestida de couro e de chicote em mãos, pensa naquele que irá receber seus castigos, acaba se lembrando que agora sabe muito bem os motivos pelos quais ela ama bater nos garotos. </div>Thiagohttp://www.blogger.com/profile/06811524587699682485noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-7521901678431922831.post-61582144226170331732012-01-13T09:00:00.001-08:002012-01-13T09:00:15.370-08:00Condomínio<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">Era um condomínio exclusivo fechado, mas bem fechado mesmo, tanto é que atualmente só tinha 12 habitantes. Já tinha havido outros habitantes, as vezes mais, as vezes menos, mas o importante é que já haviam séculos que eram apenas aqueles mesmo doze habitantes. </div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">Eles estavam organizando sua festa de fim de ano, a qual seria no mesmo lugar de sempre. Seria ali, entre a casa de Dezembro e a casa de Janeiro, mas deixar para esses dois a organização de qualquer coisa era difícil. Dezembro era um cara gordo, comilão e beberrão, uma festeiro nato, que costuma resolver todos os problemas jogando-os para serem resolvidos por Janeiro. E Janeiro por sinal também não eram nenhum exemplo de organização, afinal de contas mesmo quando tinha que trabalhar, sua cabeça sempre estava numa praia, nas suas “merecidas férias”, ele era um eterno preguiçoso que adorava deixar os problemas para serem resolvidos depois. E acabava que por isso a festa nunca era das mais organizadas, tendo apenas dia e hora para ocorrer, mas nunca exatamente se sabia o que iria acontecer. </div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">Os outros convidados da festa eram também peculiares. O que Janeiro tinha de preguiçoso, Fevereiro tinha de festeiro, sua cabeça sempre estava no carnaval, no pré-carnaval, no pós-carnaval, na ressaca do carnaval, e os problemas que herdava de Janeiro eram jogados pra frente também.</div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">Já Março era um tipo chato. Não se sabe se era chato por ser chato mesmo ou se era chato apenas porque era obrigado a resolver os problemas de Fevereiro, Janeiro e até mesmo de Dezembro. Abril era um conformado, que só pensava em trabalho, pois sabia que as festas eram deixadas para os demais, e tinha como único descanso o almoço de família de um certo feriado religioso. </div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">Maio era o mais trabalhador de todos. Era aquele que sabia que as festas tinham acabado e que era ele que tinha que tomar decisões, até mesmo decisões de casamento. Junho era um tipo estranho, frio as vezes, calorento as vezes, mas gostava de cidades do interior, e gostava tanto que sempre fazia uma festa para celebrar isso. A única coisa que incomodava Junho era que seu irmão Julho andava copiando demais suas festas, Julho nunca teve muita personalidade mesmo.</div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">Agosto era seco e ríspido, Setembro costumava ser mais agradável e aliviava a secura de Agosto. Outubro era outro festeiro, mas um festeiro que sabia quando parar, apesar de adorar cerveja. </div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">E novembro era neurótico. Novembro sabia que se não fosse ele para resolver um problema, somente Março iria resolver. Nunca podia contar com Dezembro, Janeiro e Fevereiro para resolver nada.</div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">Esses tipos se reuniam todos os anos para celebrar. Eram tipos diferentes e por mais diferentes que fossem conviviam e não mudavam nunca. </div>Thiagohttp://www.blogger.com/profile/06811524587699682485noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7521901678431922831.post-69032978694659188562012-01-09T11:01:00.001-08:002012-01-09T11:01:08.416-08:00Uma Crônica de Segunda #8<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">Todo começo de ano é a mesma coisa. É sempre a mesma conversa sobre tempo de renovação, de novas esperanças, de começar de novo... O problema é que toda essa conversa sobre renovação se mostra meio vazia, afinal de contas a contagem de tempo é importante apenas para nós, humanos. </div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">Pensemos bem, foi ano novo apenas para 1/3 do mundo. Existe toda uma gama de pessoas que não foram afetadas por todas as festividades pelas quais passamos. Além disso, somos apenas uma única espécie que habita esse planeta, e para todas as outras o ano novo é apenas mais um dia. O ano novo foi (e continua sendo) apenas uma marca num papel, num calendário, um dia arbitrário criado por uma pessoa a muito tempo atrás e, como já dito, atinge apenas 1/3 da humanidade.</div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">Então porque se importar tanto com essa data? A resposta é simples: necessidade de renovação. Como humanos temos necessidade de renovar nossas vidas de vez em quando, mesmo que essa renovação seja apenas uma vã esperança que jamais possa ser cumprida. Um ano novo é uma data arbitrária que serve apenas para a nossa necessidade de nos renovar, e seja qual ano novo estejamos comemorando, o desejo de mudar, de fazer algo novo é inerente. </div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">Essa é a importância da data, uma comemoração que serve apenas para trazer esperança de tempos melhores. Uma esperança tênue e frágil, mas que faz com que muitos ainda consigam sentir forças para seguir <st1:personname productid="em frente. Todos" w:st="on">em frente. Todos</st1:personname> precisamos de esperança de vez em quando. </div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><br />
</div>Thiagohttp://www.blogger.com/profile/06811524587699682485noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7521901678431922831.post-19689741193038971372011-12-23T09:49:00.001-08:002011-12-23T09:49:48.768-08:00Cinema<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><i>Em algum lugar do passado<o:p></o:p></i></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">Tudo bem, cheguei aqui no cinema uns vinte minutos mais cedo do que havíamos combinado, mas acho que tudo bem. Ela aceitou vir no cinema comigo e eu nem acreditei. Adoro ela, ela é linda, e acho que faz bem pra mim ter chegado aqui mais cedo. Quando ela chegar eu já vou estar aqui, e ela não vai ficar esperando. É minha obrigação de homem esperar a garota, não acho certo deixar o contrário acontecer.</div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">Vou acender um cigarro e esperar... É uma pena, parece que o tempo demora cada vez mais a passar. Fico aqui tragando o cigarro e pensando nela. Fecho meus olhos por um breve momento e consigo ver cada detalhe de seu rosto... Sinto seu perfume e ensaio o que vou dizer a ela quando nos encontrarmos. Só de me lembrar de seu sorriso parece que fico mais ansioso, nunca vi outra mulher que tinha um sorriso tão radiante. Era quase como se o sorriso dela afastasse cada um dos meus problemas. </div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">Esses vinte minutos parecem durar uma eternidade. O tempo se arrasta e eu acendo outro cigarro. As pessoas passam por mim e minha expressão ansiosa é impossível de não ser percebida. Me pego outra vez pensando nela, pensando em como ela é linda e como a presença dela me anima. O calor de quando a abraço é reconfortante e essa lembrança me domina. </div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">O tempo continua se arrastando, mas finalmente dá a hora que marcamos e ela ainda não chegou. Acho que ela se atrasou um pouco, o que é normal, afinal não sei como ela está vindo pra cá. Passam-se cinco minutos infernais nos quais eu olho no relógio a cada 10 segundos. E se ela não vier? Esse pensamento me assusta e tento tira-lo da minha cabeça, mas ele insiste em ficar ali, quase que me desafiando. Penso em ligar para ela, mas é provável que ela não esteja em casa, além disso teria que sair daqui, do local marcado, se ela chegar enquanto vou ligar podemos nos desencontrar, e aí tudo estará perdido. </div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">Imerso nesses pensamentos eu a veja ao longe chegar. Linda, parecendo que possui um brilho próprio. Não vejo mais ninguém perto do cinema, só a veja chegando perto de mim. Ela me cumprimento com um longo e caloroso abraço, e eu posso sentir o seu cheiro. Nessa hora tenho certeza de que aquela tarde vai ser boa. </div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><br />
</div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><i>Em tempos atuais<o:p></o:p></i></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span> </span>Uma linda jovem se aproxima de um rapaz com uma expressão séria. Ele está mexendo no seu aparelho celular. A jovem diz:</div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">- Olá, acho que estou um pouco atrasada do horário que combinamos. Tem algum problema?</div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span> </span>E o rapaz responde:</div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">- Nenhum, cheguei uns vinte minutos antes de você. Comecei a mexer na internet do celular e mal vi o tempo passar. Nem percebi que você estava chegando. </div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><br />
</div>Thiagohttp://www.blogger.com/profile/06811524587699682485noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-7521901678431922831.post-50148007251087983692011-12-19T07:41:00.001-08:002011-12-19T07:41:18.783-08:00Uma Crônica de Segunda #7<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">Uma coisa bastante comum para mim era entrar em lojas e nunca conseguir ser bem atendido. Os motivos eu nunca soube ao certo, não sei se era a cara de ressaca, as camisas de bandas de rock, o cabelo bagunçado, o tênis sujo, a cara de adolescente (ou jovem adulto), ou se simplesmente era tudo isso reunido. </div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">A única coisa que eu podia ter certeza era que entrar sozinho numa loja para acontecer o mesmo ritual. A(o) vendedora(o) me olhava de cima a baixo e me atendia com uma tremenda má vontade, quase como se estivesse ma fazendo um favor. E não importava se eu acabava comprando algo ou não, a má vontade era a regra, a tônica da minha vida. Era quase kármico, ser mal atendido por vendedores era minha sina, o meu destino.</div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">Acontece que o tempo passa e recentemente eu tive que comprar umas roupas novas, pelo motivo de sempre: trabalho. Só que dessa última vez algo diferente aconteceu, a vendedora veio, sorriu para mim e me atendeu gentilmente durante o tempo que permaneci na loja. Não comprei nada, mas o bom atendimento me impressionou. Na loja seguinte foi a mesma coisa, fui extremamente bem atendido e ainda fui chamado de senhor, por um vendedor visivelmente mais velho do que eu. </div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">Eu sinceramente fiquei assustado. Foi uma brusca mudança na forma como eu sempre fui atendido <st1:personname productid="em lojas. Passei" w:st="on">em lojas. Passei</st1:personname> o tempo todo esperando olhares de desdém, quando ao contrário, fui atendido com extrema cortesia. A única explicação é que eu devo estar ficando velho.</div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">A idade parece trazer consigo uma certa respeitabilidade, mesmo para os chamados jovens adultos. Estar beirando os trinta passa uma imagem mais respeitosa do que estar beirando os vinte e agora eu pareço ser alguém mais sério, respeitável, um nobre cidadão que contribui ativamente para a sociedade, ou pelo menos os vendedores parecem estar pensando assim. Pena, eles não poderiam estar mais errados. </div>Thiagohttp://www.blogger.com/profile/06811524587699682485noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7521901678431922831.post-29519780938336017292011-12-09T10:46:00.001-08:002011-12-09T10:46:33.968-08:00Alergia ao Século XXI<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">Alergia ao Século XXI</div><div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;"><br />
</div><div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">Era uma vez um homem. Ele era um cara comum, como todos os outros, mas tinha algo nele que o tornava diferente: o mundo ao seu redor parecia feri-lo de alguma maneira. Ele se sentia sempre com um frio no estomago que não sumia por mais que ele tentasse, uma sensação de vazio que nunca ia embora mesmo se ele estivesse perto de pessoas que ele amava. Não era as pessoas do mundo que o deixavam assim, afinal existiam pessoas boas e pessoas más, era o mundo em si que o machucava, e fazia com que ele nunca se sentisse bem em lugar nenhum. Todos esses problemas o fizeram procurar um médico, e este médico não soube responder a fatídica pergunta: O que aquele homem tinha? Outros médicos foram procurados e todos não souberam dizer qual a doença que aquele homem tinha. Ele até mesmo apareceu num famoso programa de televisão procurando ajuda e não conseguiu descobrir o que tinha. Foi preciso que um famoso médico fosse trazido diretamente da Europa para avaliar o problema. Depois de meses de estudo o médico chegou a uma conclusão taxativa: aquele homem tinha alergia ao século XXI. A princípio todos ficaram espantados, como alguém podia ser alérgico ao tão esperado, aclamado e, até mesmo, quase ficcional século XXI? Mas para aquele homem, a resposta parecia fazer muito sentido. Ele, como todo mundo, ficava maravilhado com o século XXI e suas novidades. Ele admirava a expansão do conhecimento e a quebra de barreiras proporcionada pela internet no início do século XXI, mas não entendia como as pessoas preferiam conversar por e-mail do que pessoalmente, mesmo sendo vizinhas. Ele admirava a revolução sexual que acontecia e a quebra de preconceitos, mas não entendia como quanto mais os tabus sexuais eram quebrados menos se valorizava o amor. Ele admirava como os relacionamentos podiam ser tão diferentes, mas não entendia como as pessoas passavam menos tempo com uma pessoa só. Ele admirava as inúmeras tentativas de paz, mas não entendia como a paz podia ser um instrumento de guerra. Enfim, ele realmente acreditou no diagnóstico do médico, ele realmente tinha alergia ao século XXI, estava tudo explicado. Numa tentativa de viver sem os seus problemas alérgicos, esse homem se mudou para uma distante montanha afastada da sociedade, e lá viveu por muitos anos. Ele viveu muito mais do que qualquer outro ser humano, pois no alto da montanha não precisava se preocupar com o que as pessoas iriam achar dele, não via hipocrisia, não tinha stress, vivia em paz consigo mesmo e nunca mais sentiu aquele frio no estomago de novo. Ele estava curado.<br />
E o tempo passou, no mundo sem aquele homem as pessoas mudaram, e depois de muito tempo perdido em brigas e discussões, em preocupações que em nada levavam, em valores falsos que não ajudavam a ninguém, elas perceberam que também faltava algo nelas, uma sensação de vazio que nunca ia embora, um frio no estomago que não sumia. Grandes cientistas pesquisaram o estranho fenômeno e nada descobriram, mas alguém se lembrou do velho homem que tinha esses mesmos problemas e que há muito tempo havia abandonado a sociedade. Todas as pessoas do mundo se juntaram e foram atrás daquele homem, e todos ficaram espantados ao verem que ele ainda estava vivo depois de tantos anos. Eles pararam e falaram para aquele homem tudo que sentiam e o homem olhava para eles como se olha para alguém que tem o mesmo problema que você e que por isso te entende. O homem contou para todo mundo como ele se sentia na sociedade e como os problemas dele acabaram quando ele foi viver nas montanhas. As pessoas ouviram e voltaram para suas casas e começaram a deixar de lado os falsos valores que defendiam e começaram a olhar nos olhos umas das outras sem mais desconfiar, valorizando mais o ser do que o ter ou parecer. Graças a isso o mundo havia mudado mais ainda, e a hipocrisia havia sido varrida da face da Terra, assim como o egoísmo e a destruição, o amor passou a ser cada vez mais celebrado e o ser humano não mais tinha preconceitos. Tudo isso por causa do homem que tinha alergia ao século XXI, por tudo isso as pessoas do mundo o chamaram para sair de sua montanha e ver o que ele havia feito, e o homem aceitou. Desceu de sua montanha e viu a sociedade que havia surgido, ficou espantado e feliz, pela primeira vez ele não se sentia incomodado no meio das pessoas, parecia que sua alergia havia acabado, era o primeiro dia do século XXII.</div>Thiagohttp://www.blogger.com/profile/06811524587699682485noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-7521901678431922831.post-70107857162228994402011-12-05T09:47:00.001-08:002011-12-05T09:47:18.970-08:00Uma Crônica de Segunda #6<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">Recentemente resolvi fazer algo que tinha um certo tempo que não fazia: ouvir Engenheiros do Hawaii. E ouvindo novamente algumas músicas que tinha tempo que não ouvia, pude perceber algo assustador: Humberto Gessinger, vocalista e letrista da banda, é capaz de ver o futuro.</div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">A prova de que ele pode prever o futuro fica mais evidente quando se ouve a música “Além dos Outdoors”. A música já começa com a seguinte estrofe:</div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span class="apple-style-span"><i><span style="color: black;">No ar da nossa aldeia<o:p></o:p></span></i></span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span class="apple-style-span"><i><span style="color: black;">Há rádio, cinema & televisão</span></i></span><span style="color: black;"><o:p></o:p></span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span class="apple-style-span"><span style="color: black;">Obviamente nesse trecho podemos ver que o assunto é internet. O rádio, cinema e televisão que chega pelo ar de nossa aldeia vem pela rede de computadores. Essa música foi escrita em 1987, e esse trecho se refere a algo que somente se popularizou muitos anos após o lançamento da música. Essa música continua com o mesmo tema:<o:p></o:p></span></span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span class="apple-style-span"><i><span style="color: black;">No céu, além de nuvens<o:p></o:p></span></i></span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span class="apple-style-span"><i><span style="color: black;">Há sexo, drogas & talk-shows</span><o:p></o:p></i></span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="color: black;">Esta é outra referência clara a internet, onde a pornografia cada vez mais é transmitida pela rede. Falando em rede, nessa mesma música tem um trecho que fala <span class="apple-style-span"><i>As aranhas não tecem suas teias/Por loucura ou por paixão</i></span>, lembrando que teia em inglês é web, temos outra referência a internet feita mais de vinte anos antes da popularização da mesma. <o:p></o:p></span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span class="apple-style-span"><i><span style="color: black;">No dia-a-dia da nossa aldeia<o:p></o:p></span></i></span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span class="apple-style-span"><i><span style="color: black;">Há infelizes enfartados de informação</span><o:p></o:p></i></span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span class="apple-style-span"><span style="color: black;">Esse é outro trecho, que faz referência a quantidade de informação contida na rede mundial de computadores e ao mal uso que os usuários fazem do excesso de informação. <o:p></o:p></span></span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span class="apple-style-span"><span style="color: black;">O refrão da música também comprova a existência do dom da previsão de Humberto Gessinger:<o:p></o:p></span></span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span class="apple-style-span"><i><span style="color: black;">Você sabe,<o:p></o:p></span></i></span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span class="apple-style-span"><i><span style="color: black;">O que eu quero dizer não tá escrito nos outdoors<o:p></o:p></span></i></span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span class="apple-style-span"><i><span style="color: black;">Por mais que a gente cante<o:p></o:p></span></i></span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span class="apple-style-span"><i><span style="color: black;">O silêncio é sempre maior</span><o:p></o:p></i></span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="color: black;">Interpretando esse verso, temos que a informação não mais está visível nos outdoors, e a propagando é vista apenas na internet. Também faz referência as conversas feitas por troca de mensagens instantâneas, pois afirma que quanto mais se grita nessas conversas feitas pela rede, mais o silêncio ao redor mostra-se maior. <o:p></o:p></span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="color: black;">Dessa forma ficou evidente que Humberto Gessinger é capaz de prever o futuro. Isso explica porque Carlos Maltz, o baterista original, veio pra Brasília pra ser astrólogo. <o:p></o:p></span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><br />
</div>Thiagohttp://www.blogger.com/profile/06811524587699682485noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7521901678431922831.post-75768637203479777642011-12-02T10:50:00.001-08:002011-12-02T10:50:39.890-08:00Só Isso?<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">O chão era coberto por carpete e os móveis eram todos de um tom claro feito para imitar perfeitamente madeira. Já havia passado pouco além das 18 horas, e como já era de se esperar em prédios públicos, aquele se encontrava praticamente vazio, com apenas alguns funcionário terceirizados da limpeza indo e vindo. E era nesse ambiente que ele esperava em frente ao computador. Já havia lido aquele relatório umas 3 ou 4 vezes e mesmo assim lia de novo, pois na verdade ele simplesmente não queria voltar pra casa. Ficar até tarde no trabalho, mesmo sem fazer nada simplesmente era uma desculpa pra ficar um pouco sozinho por lá. </div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">Mexeu nos mesmos papeis novamente, e a vontade de ir para casa não vinha. Em casa, os pais lhe esperavam, mas mesmo assim a vontade de ir embora não vinha. O trabalho em si era monótono, repetitivo, mas pagava as contas. O problema era que sempre ficava para trás uma sensação estranha, como se estivesse faltando algo, e quase todos os dias ele se via olhando para o nada e pensando:</div><div style="border-bottom: solid windowtext 1.5pt; border: none; mso-element: para-border-div; padding: 0cm 0cm 1.0pt 0cm;"> <div class="MsoNormal" style="border: none; mso-border-bottom-alt: solid windowtext 1.5pt; mso-padding-alt: 0cm 0cm 1.0pt 0cm; padding: 0cm; text-align: justify;">- Será que a vida é só isso?</div></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><br />
</div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span> </span>Era um ambiente estéril como se espera de qualquer hospital. O cheiro de éter era bem característico e o fluxo de pessoas indo e vindo era constante. Já fazia 2 anos que ela trabalhava naquele hospital e quase todos os dias eram iguais aos outros, apesar da variedade de casos que se sucediam. </div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span> </span>Ela tinha ralado muito para estar ali, faculdade de medicina não é fácil. A aprovação, o curso, a residência, tudo é complexo, extenso, cansativo, mas agora que o dito sucesso finalmente veio e ela começava a praticar a profissão que sempre sonhou, uma sensação de vazio ia e vinha e batia muito forte, e sempre parecia que algo estava faltando. </div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span> </span>Os plantões noturnos eram onde essa sensação vinha mais forte. As vezes, quando o fluxo de pacientes começava a rarear, ela saia para fumar um cigarro, e olhando para o escuro céu da noite ela repetia para si mesma:</div><div style="border-bottom: solid windowtext 1.5pt; border: none; mso-element: para-border-div; padding: 0cm 0cm 1.0pt 0cm;"> <div class="MsoNormal" style="border: none; mso-border-bottom-alt: solid windowtext 1.5pt; mso-padding-alt: 0cm 0cm 1.0pt 0cm; padding: 0cm; text-align: justify;">- Será que a vida é só isso?</div></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><br />
</div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span> </span>Dizer que a vida dele tinha sido difícil seria uma das maiores mentiras que se pode contar. Ele fazia parte de uma minoria muito seleta da sociedade: aqueles que nasceram ricos. O pai havia enriquecido com uma série de empresas que ele nunca soube ao certo o que faziam. O velho pai trabalhava quase todos os dias da semana e talvez por esse motivo tenha morrido tão sedo, fazendo com que o filho único, na época com vinte e poucos anos, herdasse uma fortuna que faria com que nunca precisasse trabalhar na vida. </div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span> </span>Com dinheiro e sem precisar trabalhar a vida virou uma festa. Modelos, atrizes, álcool, drogas, luxo e conforto, tudo se sucedia na vida dele de uma forma que os simples trabalhadores somente podem sonhar. Mas as vezes, quando a ressaca dava um tempo e sua cabeça para de doer ele pensava se aquilo tudo não seria meio vazio, quase como se apenas se divertir o tempo todo não tivesse significado algum.</div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span> </span>Numa noite, após sexo e bebedeira com uma mulher que ele nem se lembrava o nome, ficou acordado olhando para o teto e sentindo o cheiro do suor dela. E nesse momento se pôs a pensar:</div><div style="border-bottom: solid windowtext 1.5pt; border: none; mso-element: para-border-div; padding: 0cm 0cm 1.0pt 0cm;"> <div class="MsoNormal" style="border: none; mso-border-bottom-alt: solid windowtext 1.5pt; mso-padding-alt: 0cm 0cm 1.0pt 0cm; padding: 0cm; text-align: justify;">- Será que a vida é só isso?</div></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><br />
</div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span> </span>A pele era precocemente enrugada, marcada pelo trabalho ao sol. Mesmo com a roupa de proteção que usava o trabalho era duro. O sol era inclemente e a chuva trazia sempre o frio. Ela trabalhava como gari numa empresa de limpeza urbana, e depois de certo tempo já tinha se acostumado a acordar cedo e ao pouco luxo que a vida lhe concedia, mas essa era a única forma que cuidar dos três filhos que tinha. Marido? Esse a tinha abandonado quando as crianças ainda eram pequenas e desde então a vida parecia ter sido mais dura.</div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span> </span>Vivia num bairro pobre e sempre voltava pra casa com medo. Medo de assalto, medo da violência, mas acima de tudo medo de que o filho mais velho acabasse indo para o crime, e de todos esse medo era o maior e o mais presente. </div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span> </span>De vez em quando, esperando o filho mais velho voltar de lugares que ele nunca contava quais eram, ela ficava enrolada num cobertor puído vendo a programação da madrugada da TV e pensando consigo mesma:</div><div style="border-bottom: solid windowtext 1.5pt; border: none; mso-element: para-border-div; padding: 0cm 0cm 1.0pt 0cm;"> <div class="MsoNormal" style="border: none; mso-border-bottom-alt: solid windowtext 1.5pt; mso-padding-alt: 0cm 0cm 1.0pt 0cm; padding: 0cm; text-align: justify;">- Será que a vida é só isso?</div></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><br />
</div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span> </span>“Deus é o que existe de mais importante e seguir seus mandamentos é a obrigação de todos”, esse era o pensamento que estava sempre na cabeça dela, uma mulher de classe média que a pouco passara dos 40 anos. Trabalhava, cuidava de casa, marido e filhos e ainda arrumava tempo para ajudar na igreja.</div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span> </span>Trabalho voluntário, obras assistenciais, ajudar o próximo, era visto como um dever, coisas que ela fazia por amor, apesar da aparente contradição. Mas as vezes ela se pegava pensando se o seu trabalho não era inócuo, afinal por mais que tentasse ajudar os outros, sempre haveriam muitos mais que precisam ser ajudados. Não importava o quanto fizesse, sempre era pouco e daí vinha uma sensação de vazio, quase como se algo sempre estivesse faltando. </div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span> </span>As vezes, podia ser no meio da missa ou ajudando em alguma obra da igreja, ela se via imersa em seus pensamentos e pensando:</div><div style="border-bottom: solid windowtext 1.5pt; border: none; mso-element: para-border-div; padding: 0cm 0cm 1.0pt 0cm;"> <div class="MsoNormal" style="border: none; mso-border-bottom-alt: solid windowtext 1.5pt; mso-padding-alt: 0cm 0cm 1.0pt 0cm; padding: 0cm; text-align: justify;">- Será que a vida é só isso?</div></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><br />
</div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span> </span>Infelizmente todas as vidas se perguntam se a vida é apenas isso mesmo. Apenas uma sucessão de acontecimentos que não sabemos para onde vão ou de onde vem. Falta um propósito e quando encontramos esse propósito é impossível saber se é verdadeiro ou não. E justamente por isso, quanto mais se pensa no assunto, mais certeza se tem de que sim, aparentemente a vida é apenas isso, e não há nada além, nada mais a se fazer, apenas viver da melhor forma possível. </div>Thiagohttp://www.blogger.com/profile/06811524587699682485noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7521901678431922831.post-48713854614996204102011-11-28T11:28:00.003-08:002011-11-28T11:28:07.422-08:00Uma Crônica de Segunda #5<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="background: white; color: black;">O maior problema de qualquer sala de cursinho, não importa para que seja, são os estereótipos que sempre aparecem. Sempre tem a gostosona que mal aparece nas aulas ou que entra, fica 5 minutos e depois sai. Sempre tem os chatos que chegam mais cedo e guardam os lugares para os outros amigos chatos para sentarem na primeira fila. Tem sempre aquele que fica fazendo pergunta para o professor o tempo todo, mas não é para tirar dúvidas e sim para ficar testando o conhecimento daquele que está dando aula, e por aí vai. É a claro que eu tenho o meu tipo preferido, pra mim, o melhor estereótipo de todos é: a mulher que te desperta uma espécie de súbita paixão platônica. Trata-se de uma mulher que não precisa nem ser a mais bonita da sala, mas ela te chama atenção de alguma forma e irá despertar o seu desejo durante todo o curso, mesmo que você nunca troque uma palavra com ela.<o:p></o:p></span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="background: white; color: black;">Na última vez que fiz cursinho eu tinha a minha musa. O nome eu nunca soube ao certo, mas a imagem dela sempre vem nítida a minha mente. Não era alta, deveria ter por volta de 1,60, talvez menos, tinha um cabelo castanho escuro que se encaracolava nas pontas e descia até o meio das costas. Era bela, apesar de uma leve barriguinha que saltava de suas roupas. Sempre se vestia de maneiras sóbria, um terninho ou tailleur, o que demonstrava que deveria trabalhar em algum escritório de advocacia. A minha tese do seu local de trabalho era reforçada pelo fato de que ela costumava chegar um pouco depois do início das aulas, sempre com uma expressão atarefada no rosto, e assim ela entrava na sala. A aula ainda em seu início, ela entrava quebrando o silêncio sepulcral com o barulho de seus saltos batendo no chão. Para mim esse era o melhor momento da aula, ela entrando, atravessando o corredor entre as carteiras, pé ante pé, com o tempo parando ao seu redor e meu desejo crescendo. Sentado no fundo da sala eu pedia para que o tempo parasse e eu pudesse ficar ali somente a contemplá-la...<o:p></o:p></span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="background: white; color: black;">Um belo dia vejo o braço dela se levantando em meio a aula. Nitidamente iria fazer uma pergunta e eu poderia pelo menos saber como era sua voz. Nesse momento, ela com toda a sua beleza começa a fazer sua pergunta num carregadissimo sotaque nordestino, com certeza de Recife. Isso apenas contribuiu para me deixar com mais tesão por ela. A bela recifense, com toda a sua beleza e seu jeito característico de falar despertava meu desejo e nessa hora descobri que estava desenvolvendo um novo fetiche: eu simplesmente adoro mulher com sotaque.<o:p></o:p></span></div><div class="MsoNormal"><br />
</div>Thiagohttp://www.blogger.com/profile/06811524587699682485noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-7521901678431922831.post-6368517304345803292011-11-25T09:07:00.001-08:002011-11-25T09:07:45.044-08:00Resistência<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span> </span>Era uma sala escura e isolada num bairro afastado do centro da cidade. Por motivos de segurança das partes envolvidas não podemos dizer em qual cidade eles se encontraram, muito menos o bairro ou o nome da rua. Os assuntos tratados por aqueles dois estava diretamente ligado ao futuro da humanidade, por isso tanto segredo sobre onde estavam ou quem eram.</div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span> </span>Chegaram separados, por caminhos diferentes. Na entrada do local foram revistados por seguranças e após levados para a sala isolada descrita acima. Após verificarem que nenhum dos dois trazia qualquer tipo de escuta e que não portavam celulares ou armas, a conversa começou:</div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span> </span>- Sinto informar, mas a conspiração é verdadeira. – Disse o primeiro deles.</div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">- Isso é algo que já suspeitávamos há muito tempo. Você apenas confirma os nossos maiores receios. – Disse o segundo. </div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span> </span>E sim, a conspiração era verdadeira. Era terrível demais para se acreditar, e o primeiro, um infiltrado no meio dos conspiradores, ainda carregava em seu rosto as marcas dos traumas causados pelo que ouviu.</div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span> </span>Os dois ainda ficaram em silêncio algum tempo naquela sala, pesando as conseqüências do que acabava de ser dito. E após ter tomado um longo fôlego, o segundo, que parecia ser o líder ali, finalmente disse:</div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">- É hora de organizarmos a resistência.</div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span> </span>Após isso saiu para dar um telefonema. O primeiro deles, o que revelou a existência da conspiração, manteve-se sentado, pensando em tudo que tinha feito. </div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span> </span>Sua missão fora simples na teoria, infiltrar-se entre os suspeitos e por fim descobrir se todas as suspeitas eram verdadeiras. E como já sabemos, as suspeitas eram reais. Foram anos sendo alguém que não, era apenas para confirmar a existência de uma sociedade secreta.</div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span> </span>Ele se inscreveu naquela faculdade de moda, meio que sem saber ao certo se as suspeitas eram reais ou não. Após anos tentando, finalmente conseguiu se encontrar com membros da conspiração e ser levado aos lideres.</div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span> </span>No mundo inteiro, grupos de estilistas se reuniam para traçar um plano escuso. A idéia original era que fosse exigido das modelos que ficassem cada vez mais esquálidas, eliminando as curvas que são naturalmente femininas. Era essa a explicação de porque o padrão de beleza havia mudado, a voluptuosidade fora substituída por mulheres praticamente disformes, que somente ao longe pareciam ter características femininas.</div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">Mulheres magras, esqueléticas, eram criadas e colocadas na mídia, quase impostas aos homens, para que aos poucos o gosto deles por mulheres de verdade fosse eliminado. A beleza natural da mulher com curvas estava aos poucos sendo propositadamente eliminada. </div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">Como disse antes, era um plano terrível, cujo objetivo nosso agente infiltrado não conseguiu identificar, e que no momento só podemos suspeitar. </div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">Nesse momento, o líder voltou. Trazia um sorriso de satisfação nos lábios, e simplesmente disse:</div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">- A resistência já começou!</div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span> </span>Por isso que lhes digo meus leitores, somente vocês podem resistir a imposição do modelo cruel que reduz as belas formas femininas a nada. </div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span> </span>Se você ainda insiste em achar seios e glúteos avantajados como algo bonito. Se algum dia você já chamou uma mulher de “gostosa”. Se algum dia sorriu satisfeito ao sentir a sua mão encher ao agarrar um peito ou uma bunda, então você faz parte da RESISTÊNCIA!!!!</div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><br />
</div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><br />
</div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><i>Nota do Autor: Este é um texto satírico. Aos que se ofenderam, vão procurar algo melhor pra fazer. </i></div>Thiagohttp://www.blogger.com/profile/06811524587699682485noreply@blogger.com0