Uniformes

terça-feira, 17 de novembro de 2009 | Published in | 1 comentários

Não, não vou entrar aqui em qualquer discussão sobre roupas ou fazer um discurso longo sobre a uniformização do pensamento que insiste em ocorrer hoje em dia. O assunto de hoje é mais prosaico (adoro usar essa palavra, que bom que tive a oportunidade).
Uniformes, do título, faz referência a uma música do Kid Abelha, uma das faixas do disco Educação Sentimental, de 1985, e ouvir essa música me traz uma boa lembrança de algo que me aconteceu, ou melhor, de uma pessoa que me aconteceu.
No meu último ano do segundo grau eu conheci uma pessoa pra lá de especial. Essa pessoa era minha professora de química orgânica. Se me perguntar se eu lembro algo da matéria eu sou obrigado a responder que não. Acho que química orgânica foi algo que eu aprendi apenas no segundo grau e nunca mais usei, mas acabei que desenvolvi uma certa amizade com a professora. De minha parte era claramente um affair, da parte dela eu sou obrigado a admitir que, na época, eu não fazia a menor idéia, mas na minha cabeça de adolescente eu me sentia correspondido. Mas enfim, eu não realizei a fantasia de 90% dos jovens de ficar com uma professora, que diga-se de passagem a R. (claro que vou usar apenas uma referência, não vou dizer o nome dela aqui) era linda, e ficava ainda mais charmosa quando estava de óculos.
Mas nada aconteceu, pelo menos não naquela época. Os anos passaram, veio a faculdade, e eu lembro que eu tinha acabado de me formar quando uma amiga minha me chamou pra ir numa festa. Sem muita coisa pra fazer, acabei indo nessa festa, sem esperar muita coisa, porém essa festa me trouxe boas surpresas.
Logo no começo da festa uma mulher veio falar comigo, juro que não a reconheci a primeira vista, mas a achei muito bonita. Com menos de um minuto de conversa eu a reconheci, era R. a minha antiga professora de química orgânica, e que continuava linda, ou melhor, estava até mesmo mais bonita. Conversamos bastante naquela noite, trocamos telefones e um tempo depois combinamos de sair. O mais engraçado foi os motivos dessa “saída”... Saímos para tocar violão, ou melhor, pra ela tocar violão, pois eu sou uma negação com esse instrumento. Sim, por mais estranho que pareça, foi isso, meu primeiro encontro com ela, foi para ela tocar violão pra mim, e “Uniformes” foi a primeira música que ela tocou.
Foi uma noite ótima, ela sempre foi simpática e divertida, e me ganhou ao me fazer uma serenata. Tivemos um breve relacionamento a partir dessa noite, e apesar da nossa diferença de idade (eu tinha 24 e ela tinha 39) naquela época, pra mim, isso era o que menos importava.
Com o tempo nos afastamos, mas todas as vezes que ouço “Uniformes” eu não consigo deixar de me lembrar das ótimas noites que passei ao lado da minha professora e do belo sorriso que ela me dava quando tocava violão pra mim.

Guias - Segunda Parte

quinta-feira, 12 de novembro de 2009 | Published in | 0 comentários

Peço desculpas pela demora em postar. Férias e alguns problemas pessoais (resumindo, falta de saco também). Segue abaixo mais um trecho da história que comecei a um tempo atrás.
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O tempo passa para a nossa personagem assim como para qualquer outra pessoa. O peso dos anos nos torna aos poucos diferentes... O primeiro namorado, a primeira relação sexual, as primeiras decepções. Ao abrir o coração para outro ser humano nos expomos e com isso um leve sofrimento passa a nos acompanhar, mesmo que esse leve sofrimento esteja sempre ao lado de uma alegria.

A aranha gigante ainda acompanhava nossa personagem nos primeiros anos de faculdade. Os olhares desconfiados que existiam no segundo grau passaram a não mais importar, a opinião dos outros passou a não mais importar, afinal a aranha gigante dava confiança para que essa jovem cuja história eu estou narrando enfrentasse qualquer coisa. No emaranhado de suas próprias teias nossa personagem era a rainha e ao seu redor nada mais importava. A aranha ao seu lado era a melhor companhia que ela poderia ter, afinal ninguém mais via a criatura ao seu lado e todos estranhavam quando ela se fechava sozinha no quarto, ou melhor, nem tão sozinha assim.

A faculdade veio, como já disse acima. O curso? Bem, essa é outra coisa que não importa no momento, só precisamos lembrar que o gosto por ficar sozinha ainda era presente nessa garota, que nesse momento já devemos chamar de mulher. O problema, é que mesmo para os que gostam de ficar sozinhos, uma turma cheia de alunos nos obriga a ter um contato maior com outras pessoas. E desse contato veio uma característica diferente, que nossa personagem até o momento achava que não tinha, uma agressividade e uma capacidade para se impor que assustava algumas pessoas. Era como se, nos momento que fosse necessário, ela atacasse com uma tremenda fúria para defender seus interesses, e devemos sentir pena dos que tentavam ficar pelo caminho.

Essa transformação não foi brusca. Ou melhor, não houve transformação. Apenas em um outro momento da vida, uma característica inata aparece mais do que em outros momentos, e nesta altura da vida, essa característica que acabei de descrever se sobrepôs as outras. E devido a isso, o diálogo que transcrevo abaixo ocorreu numa noite de lua cheia igual a da primeira vez que elas se viram:

- Deixe-me olhar pra vc. Levante-se... – disse a aranha com voz suave. E continuou:

- Você está diferente agora, parece que não mais se esconde ou prefere ficar a sós comigo. Agora você anda altiva, como se ninguém mais pudesse te atacar, impondo sua vontade.

- O tempo passa e temos que aprender a reagir de outras formas em diferentes situações. Não mais podia deixar os outros de lado, tive que começar a me impor. – disse a nossa personagem.

- Eu sei, e sei também o quanto isso lhe faz bem... Só lamento que por causa disso eu tenho que ir embora...

- Mas por quê? Disse a garota, ou melhor, a mulher, num tom de voz choroso e com lágrimas começando a saltar aos olhos.

- Eu ainda sou parte de você, mas não mais sou a sua principal. Não chore, a vida é assim, já aconteceu antes e ainda acontecerá de novo. Durma, e amanhã acorde para uma nova vida.

E triste, nossa personagem resolveu dormir, e uma última vez tocou nos pelos grossos da aranha e encarou aqueles olhos que piscaram em sinal de satisfação. Ela fechou os olhos, enxugou as lágrimas e por fim disse adeus a sua melhor amiga.

No dia seguinte nossa personagem acordou com um tremendo sentimento de perda latejando fundo em seu peito. Mas esse sentimento não durou muito, afinal ela pode ver um enorme tubarão branco que parecia nadar pelo céu sobre sua cama piscar seus profundos olhos totalmente negros e dizer numa voz estridente, que mais parecia dentes cortando aço, mas ainda feminina:

- Bom dia...