Na hora que
acordou ele tinha certeza apenas de uma única coisa: era noite! Ele sabia que
era noite porque estava acordado, e ele só acordava de noite, não importava o
que acontecia. Aos poucos seus olhos se abriram e ele pode encarar o local, que
parecia ser um pequeno galpão sabe-se lá onde, com uma única fonte de luz que
estava sobre sua cabeça.
Tentou
se levantar e foi a hora de descobriu que estava preso, pior ainda, estava
sentado numa cadeira e preso por grossas correntes, que nem sua força sobre-humana
conseguia partir. Também sentia todo o seu corpo dolorido, sendo que haviam
hematomas por todo o seu corpo extremamente branco. Ele nem sabia que ainda era
capaz de ter hematomas, afinal a última vez que tinha entrado numa briga ainda
morava nos arredores de Belfast e não tinha sua condição, digamos, “peculiar”.
Demorou
pouco para perceber que a pessoa que o prendera ali sabia muito sobre sua
condição. Sabia sobre sua força e principalmente sabia sobre suas limitações.
Como durante o dia seu corpo ficava completamente inerte, não reagindo a nenhum
estímulo, quem o prendera ali deveria tê-lo pego durante o dia, espancado
brutalmente seu corpo, e, antes do por do sol, tê-lo prendido ali. Admitia que
essa era uma estratégia muito esperta, mas não tinha idéia de como tinham
chegado até o seu esconderijo, afinal depois de todos aqueles anos ele já sabia
como se esconder.
A suas costas
conseguia ouvir o barulho de ferro e algo sendo afiado num esmeril, e foi nessa
hora que começou a ficar assustado com toda aquela situação. Tinha certeza que
ali estava uma pessoa pronta para matá-lo. Pensou seriamente que aquela poderia
ser a sua última noite, e sem nem pensar direito chegou a conclusão de que
deveria tentar conversar com seu captor, ou pelo menos pensava que aquela
pessoa era seu captor, se tivesse uma brecha, um pequeno “vacilo”, poderia usar
essa oportunidade para escapar.
Tentou gritar,
mas sentiu uma dor na garganta, como se alguém lhe tivesse batido com força
nesse lugar. O máximo de som que conseguia era um leve sussurro, rouco, mas
ainda assim, audível. Nisso, uma voz veio de algum lugar as suas costas:
- Se apoquente não. Daqui a pouco
vou ai falar contigo.
Essa
voz parecia tranqüila, monótona, quase como se estivesse falando algo de
rotina. Era grave e possuía um forte sotaque do nordeste do Brasil.
Tentou
mais uma vez se debater e tentar escapar, mas apenas sentiu o peso das
correntes que o prendiam. Nessa hora, a voz as suas costas voltou a soar:
- Se eu fosse você não tentava
sair não. Você ta fraco, sem sangue e muito bem preso. Nem com reza você sai
daí.
Não
havia mais o que pudesse fazer, não havia uma forma de escapar dali, pelo menos
não naquele momento. Se resignou e esperou que aquela pessoa que estava com ele
nesse lugar fosse em sua direção.
Pouco
tempo depois, ouviu passos vindos de trás de si. Vinha devagar e soava
despreocupado e mais uma vez a idéia de rotina veio a sua cabeça. Finalmente,
seu captor, ao que tudo indicava, parou a sua frente. Era um homem alto e
magro, com mais de 1,90 de altura, a pele era morena e os cabelos bem pretos e
lisos na altura do pescoço. Aparentava não ter 30 anos, mas um início de
calvície despontava em sua testa. Usava uma calça preta e uma camisa social de
mangas compridas dobradas até os cotovelos da mesma cor, os botões da camisa
também eram pretos, e o único adorno que a roupa possuía era um pequeno símbolo
no lado esquerdo sobre o peito: três estrelas, bordadas com linha dourada, duas
no mesmo nível e uma acima, em conjunto as estrelas formavam um arco na
horizontal. Contrastando com a sobriedade da roupa, aquela figura usava anéis
dourados e prateados em todos os dedos de ambas as mãos, todos com pedras
brilhantes que pareciam ser verdadeiras e as vezes mais de um anel em cada
dedo. Usava um perfume de marca boa, provavelmente importado, mas numa
quantidade acima da aceitável. Também trazia em sua mão um punhal com lâmina de
secção triangular, o cabo era muito bem trabalhado e parecia ser incrustado de
algumas pedras preciosas vermelhas, provavelmente rubis. Ao todo o punhal
deveria ter uns 80 cm .
Essa figura chegou, se aproximou e disse calmamente:
- Você ainda consegue falar, mas
vai ter que falar baixo. Você não vai conseguir gritar. Agora me diz qual seu
nome.
Aquilo
não era uma pergunta, era uma ordem. Com esforço e ainda com muita dor respondeu
numa voz carregada de sotaque irlandês:
- Sou Seamus. Seamus O’Donovan
A
resposta veio junto com um sorriso:
- Diabo de nome complicado que
você tem. Agora tenho certeza que você não é desse país. Me chamo Francisco
José da Silva, mas pode me chamar de Mandacaru. O nome não é por conta dos
espinhos e sim por conta da altura. Sempre fui mais alto do que as pessoas que
eu conhecia, e um mandacaru pode chegar a ter mais de 5 metros . O apelido foi
inevitável durante os anos no cangaço.
Mandacaru
estava sendo sincero, e isso podia ser percebido pelo tom de sua voz, na
maneira como falava. Ele parecia não ter motivos para esconder aquelas
informações. Nesse momento Mandacaru continuou:
- Olha, nós vamos passar um tempo
aqui até eu estiver com tudo pronto pra te matar. Então que tal me contar um
pouco sobre você? Vai contando sua história que eu vou ouvindo. Você pode até
não me ver, mas tenha certeza que eu to de ouvido ligado pra tudo que você
falar. Eu já sei teu nome, mas de onde você veio? O que te traz aqui, aos
arredores de Brasília?
Seamus
não sabia o que dizer. Aquele homem não tinha motivos para querer aquelas
informações, afinal ele havia confirmado de que ia matá-lo. Mas essa poderia
ser a brecha que estava esperando, se contasse a sua história de vida quem sabe
poderia distrair aquele homem todo vestido de negro e assim conseguir escapar
dali. Como uma última tentativa de preservar sua vida, resolveu contar parte de
sua história, mesmo tendo dificuldades em falar:
- Você quer realmente saber a
minha história? Isso é algo estranho de alguém que já disse que quer me
matar... mas tudo bem. Eu nasci numa fazenda perto de Belfast, Irlanda, acho
que por volta de 1820, não haviam registros de nascimento para pessoas pobres
como eu. Na época essa história de Irlanda ou Irlanda do Norte não fazia a
menor diferença, o que importava é que eu vinha de uma família de 11 irmãos e
plantávamos batatas. As terras não eram nossas, eram arrendadas de um rico proprietário
que ficava com boa parte do que produzíamos e na época produzíamos muito pouco.
A fome matou metade dos meus irmãos, mas não a mim. Sobrevivi, casei, e com
vinte e poucos anos eu já estava como meu pai: tinha cinco filhos, uma esposa
grávida e quase nada pra comer.
Mandacaru
parecia realmente interessado, mas não parecia dar nenhuma brecha para um
ataque. O punhal reluzia sob a única fonte de luz do lugar e Seamus estava
fraco. O irlandês não conseguiria se soltar e pode apenas continuar a história
pensando em seu interior numa forma de escapar:
- E aí veio a Grande Fome. Alguma
doença matava todas as plantações de batatas, e isso eram as únicas coisas que
tínhamos para comer. A fome levou minha mulher e a criança que ela tinha dentro
de si. Desesperado tentei encontrar algo nas cidades para comer, mas todos
também estavam famintos. Já era noite quando um homem bem vestido se aproximou
de mim e disse que poderia saciar a minha fome. Ele veio pra cima de mim, e com
muita força me agarrou e me mordeu. Não lembro de muita coisa depois disso, mas
assim que ele me soltou eu corri o máximo que pude e voltei para casa. Apaguei
durante todo o dia seguinte e meus filhos acharam que eu estava morto, porque
eu não mais respirava. Acordei com o cair da noite, e com uma tremenda fome,
que nenhuma comida poderia saciar. Eu estava irracional, como um animal, e
acabei matando e bebendo o sangue de cada um dos meus cinco filhos e de um
padre que estava benzendo meu corpo.
Nessa
hora Mandacaru olhou para Seamus. O olhar não tinha nenhum tipo de piedade,
apenas estava curioso para saber o resto. Mandacaru perguntou:
- Mas e o que você ta fazendo
aqui? Brasília é meio longe de onde você morava? O que te trouxe ao Brasil?
O
vampiro respondeu:
- Bem, eu havia matado meus
filhos. Achei que não mais conseguiria viver naquelas terras. Sai daquele lugar
e me dirigi ao porto mais próximo. Arrumei um caixote velho e todo fechado,
desses para transporte de carga. Me enfiei dentro e me despacharam. Ratos me
serviram de alimento durante os meses que a viagem durou. Queria chegar em Buenos Aires , mas
quando vi, fui descarregado no Rio de Janeiro. Vivi um tempo naquela cidade,
aprendi português, matei algumas pessoas... Eu já havia matado meus filhos,
matar outras pessoas era fácil, ainda mais que, com o passar do tempo, eu as
via como alimento apenas. Alguns anos depois encontrei com outras criaturas
como eu, outros vampiros. Eram um ou dois, mas eles deixaram claro que iam
acabar comigo se eu continuasse naquela cidade. Disseram que existiam poucas
pessoas para alimentar todos nós sem chamar atenção. Pensei em enfrentá-los,
mas era estranho, ao olhar para eles me senti impelido a fugir dali. Olhar para
eles fez com que eu sentisse um medo que eu nunca mais senti igual, era um medo
irracional. Não poderia ficar ali e arriscar um novo encontro pois tinha
certeza que eles poriam um fim na minha existência. Nisso fugi e fiquei vagando
pelo país todo. Há uns cem anos atrás cheguei a essa região. Era erma,
distante, pessoas desapareciam com facilidade e havia pouca policia. O problema
é que construíram Brasília nesse meio tempo, e sabe, isso não foi um problema
de verdade, pelo menos não no começo.
Seamus
parou um pouco por conta da dor na garganta. Sentiu a garganta queimando, mas
continuou:
- Brasília ainda estava sendo
construída, e muita gente, do país todo veio para cá em busca de trabalho na
construção da nova capital. Acabou que ficava mais fácil sumir com as pessoas.
Diziam que um havia caído no meio de uma obra, outro havia desaparecido no
mato. Respostas simples e que as pessoas acreditavam. Nunca me alimentei tão
bem na minha vida. Mas o tempo passou e a cidade cresceu, e já não era mais tão
fácil sumir com alguém sem levantar suspeitas. Por sorte, a pobreza empurrou as
pessoas para esse tal de “entorno”, essas cidades pobres do Estado de Goiás que
ficam ao redor do Distrito Federal. Essas eram outras terras, terras sem lei,
onde pessoas sumiam e os outros mal se perguntavam o que tinha acontecido por
medo de serem alvo de bandidos, e mais uma vez pude ficar bem alimentado. Conseguia
me esconder em casas abandonadas no meio de fazendas ou em algumas cavernas que
existem por aqui. Com os anos, eu meio que me tornei uma lenda. As pessoas mais
simples contam histórias de uma criatura branca que some com aqueles que andam
no meio do mato sozinhos. E sabe? Essa fama é boa, ajudava a esconder meus
refúgios e ajudava a encobrir meus rastros. E minha vida foi assim, até que
você chegou. Nem sei como você me capturou nem como me prendeu aqui. Mas será
que agora não é a sua vez de contar a sua história? Será que você não pode me
dizer como me achou? A caverna onde eu estava não era conhecida por ninguém
dessa região.
Mandacaru
sorriu, pois sabia que mais cedo ou mais tarde ia acabar chegando a essa
situação. Quando ele pedia que eles lhe contassem suas histórias, no fim eles
sempre pediam a mesma coisa: que ele contasse a história dele. Mas isso não era
incômodo algum, era sempre divertido lembrar-se de como tudo havia acontecido.
E então, começou:
- Se você quer mesmo saber, eu
nasci no interior de Alagoas, numa fazenda que a muito já deve ter
desaparecido. Também não sei direito a época em que nasci pelos mesmos motivos
que você, mas foi por volta de 1920. E também como você, eu sabia o que era
fome. Desde menino não se tinha muito para comer, só os coronéis é que tinham
fartura e pro povo só sobrava migalha. Com uns 14 anos eu sai de casa e fui me
juntar a um bando de cangaceiros. Sai no meio da noite para minha mãe não
descobrir e nunca mais vi nem ela, nem meu pai nem nenhum dos meus 13 irmãos.
É, é muito irmão, mas televisão só foi inventada muito tempo depois e diversão
de pobre sempre foi fazer menino. O cangaço foi uma época boa, mas não pense
que nós éramos heróis. Não éramos, éramos bandidos. Mas ser bandido no cangaço ainda
era melhor do que trabalhar de sol à sol e ainda passar fome. Como cangaceiro
pelo menos eu comia três vezes por dia. Nesse ponto minha vida não era das mais
interessantes, uns crimes aqui, umas ameaças ali e ia levando a vida. A coisa
toda mudou em 1938. Nessa época eu já fazia parte do bando de Lampião. O
Capitão já era conhecido no Brasil todo e fazer parte do bando dele era uma
honra, mesmo porque ele nunca andava com mais de 50 homens. Eu era um deles, e
me enchia de orgulho estar ao lado dele...
Nesse
momento Seamus interrompeu, com um misto de curiosidade e dissimulação:
- Então você é igual a mim?
Porque você parece ser novo demais para ter todos esses anos.
Nisso
Mandacaru respondeu:
- Com certeza não sou como você.
Não tenho essa pele branca de defunto nem fico bebendo sangue e matando gente
por aí. Mas como eu fiquei assim era algo que eu ia te contar, mas você me
interrompeu. Continuando, num dia estava eu acampado no meio do mato com
Sininho e o Bode. Sininho era uma linda mulher que acompanhava a gente de vez
em quando, sempre que ela aparecia no meio de um bando estava com um homem
diferente, e pra minha sorte naquele dia o homem dela era eu. O nome dela eu
não sabia, mas o nome Sininho vinha porque o homem que soubesse como tocar o
sino que ela tinha no meio das pernas fazia com que ela gritasse mais alto que
o sino de qualquer igreja. E como ela gritava gostoso quando tava comigo. Já o
Bode era um rapaz novo, meio franzino, com pouco tempo de cangaço e uma barba
que só crescia no queixo, daí o apelido. Era noite e o Bode estava ao redor da
fogueira e eu tinha acabado de voltar do meio do mato com Sininho. Estávamos
reunidos ali, em Sergipe, indo pra Angicos pra encontrar com o Capitão Lampião.
Mas algo estranho aconteceu. Uma estrela riscou o céu, e vinha descendo, só que
vinha descendo em nossa direção. Ela crescia cada vez mais, uma bola de fogo
vindo do firmamento. Caímos no chão, achando que aquilo ia cair em cima da
gente, mas ela se desfez no ar e virou apenas um pó dourado que caiu por cima
de nós três. Rimos, praguejamos e depois rimos de novo. Nenhum de nós era muito
religioso, por isso ninguém falou de Deus naquela noite, mas com certeza tinha
algo do tinhoso naquilo, o que só descobrimos um tempo depois.
Mandacaru
parou e foi tomar um gole de água numa mesa atrás de Seamus. Não parecia
preocupado com qualquer tentativa de fuga. Continuou, sabendo que o vampiro
estava bem preso numa cadeira as suas costas.
- Nos encontramos com o Capitão
uns dias depois, mas isso não foi algo bom. Estávamos já a uns dias na fazenda
Angicos, era noite, dia 27 de julho de 1938, um dia triste que eu nunca vou esquecer... Fomos traídos e um bando de
macacos, policiais da volante de caçava Lampião, nos cercaram. O capitão foi um
dos primeiros a morrer e eu tomei um monte de tiros. Sininho também. Lembro que
ainda vi o Bode chorando perto de Sininho e pagando a arma dela. O mundo ficou
escuro e eu achei que ia morrer. Mas acordei umas horas depois. Os homens da
volante estavam jogando nossos corpos numa carroça e eu me vi cercado por
amigos mortos. Só que o Bode e a Sininho também acordaram nessa hora. Os
macacos ficaram assustados e atiraram na gente de novo e eu apaguei mais uma
vez, só pra acordar algumas horas depois. Acordei e tentaram me matar, dessa
vez com uma facada e mais uma vez eu apaguei e acordei de novo um tempo depois.
Aqueles homens eram meio burros, porque demoraram um tempo pra entender que eu
simplesmente não morria. Nem eu, nem Bode nem Sininho. O Coronel João Bezerra,
líder da volante, não sabia o que fazer com a gente. Nos prenderam e nos
mandaram pro Rio de Janeiro, não sem antes obrigar a gente a assistir aquele
bando de filho de uma égua cortar a cabeça do Capitão Lampião e de Maria
Bonita.
Lágrimas
pareciam brotar nos olhos de Mandacaru. Não importa o número de vezes que ele
contasse aquela história, sempre tinha vontade de chorar quando falava do
finado Capitão. Enxugou as lágrimas e voltou para a frente de Seamus, sabendo
que ele não poderia ter visto seus olhos marejados. Continuou:
- No Rio de Janeiro fomos levados
para uma base do exército. Ainda não sabiam o que fazer com a gente, até que o
presidente em pessoa tomou a iniciativa. Visto pessoalmente Vargas não era
assim tão impressionante, mas nos fez uma proposta irresistível. Ele estava
preocupado com algumas questões políticas, alguns casos de bagunça pelo país
todo e nós três seríamos uma espécie de força especial de inteligência para
combater algumas ameaças. A gente ia trabalhar pro Conselho de Defesa Nacional,
um troço que mudou muito de nome de lá pra cá, sendo que já foi SFICI, SNI e
agora chamam de ABIN, Agência Brasileira de Inteligência. No começo foi difícil
pra mim, afinal eu era um bandido que agora ia ser polícia, mas minha família
não se lembrava de mim, não tinha ninguém no mundo que realmente ligasse pra
mim, meu preço para aceitar aquilo foi até baixo, disse que sim se me dissessem
que foi que traiu Lampião. Me disseram, e sabe, eu demorei uns três dias para
matar o filho da puta. Ele pediu pela vida e sangrou feito um porco. O que os
outros pediram eu não sei, eles nunca me contaram, mas sei que depois daquilo
começamos a ser treinados. Estados Unidos, França, Inglaterra e mais
recentemente Israel e Alemanha, já treinei com forças militares desses lugares
todos e nenhum homem deles dá dentro comigo, sou muito bom no que eu faço. Meu
trabalho é acabar com gente como você, que acha que não está sendo notado.
Assassinos e outros incômodos, sobrenaturais ou não, quando chamam atenção
demais eles sempre somem e somos nós que fazemos eles sumirem. Em serviço
sempre usamos esse símbolo, as três estrelas em arco, são as estrelas que
tinham em todo chapéu de cangaceiro, um lembrança nossa para sempre sabermos de
onde viemos. E quanto a você, bem, você andou matando gente demais, lendas são
contadas sobre você nessa região, sobre um monstro branco que mata a noite. Você
chamou atenção demais e está na hora de sumir. Você deixa rastros e marcas por
aí, um policial comum não seria capaz de seguir, mas eu sou. Encontras a sua
caverna foi fácil, te espancar enquanto você tava dormindo mais fácil ainda.
Difícil foi te trazer pra cá durante o dia sem deixar o sol te queimar. Eu
poderia deixar você esturricar ao sol, você ia morrer de qualquer jeito, mas aí
eu não ia ter o prazer de ouvir a tua história e, é claro, ter o prazer de te
matar olhando no teu olho.
Nesse
momento Mandacaru pegou seu punhal, cravou no peito do vampiro e torceu,
cortando o coração da criatura. Um sangue negro e viscoso escorreu pela lâmina e
impregnou a mão de Mandacaru, que nesse momento exclamou:
- Inferno de criatura lazarenta.
A porcaria desse sangue negro sempre dá trabalho pra limpar.
As esperanças de fuga de Seamus
foram em vão. Sua
existência se encerrou e seu único consolo na morte foi ter ouvido a história
do homem que o capturou.
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