Sangue Negro

segunda-feira, 24 de novembro de 2014 | Published in | 0 comentários

            Na hora que acordou ele tinha certeza apenas de uma única coisa: era noite! Ele sabia que era noite porque estava acordado, e ele só acordava de noite, não importava o que acontecia. Aos poucos seus olhos se abriram e ele pode encarar o local, que parecia ser um pequeno galpão sabe-se lá onde, com uma única fonte de luz que estava sobre sua cabeça.
            Tentou se levantar e foi a hora de descobriu que estava preso, pior ainda, estava sentado numa cadeira e preso por grossas correntes, que nem sua força sobre-humana conseguia partir. Também sentia todo o seu corpo dolorido, sendo que haviam hematomas por todo o seu corpo extremamente branco. Ele nem sabia que ainda era capaz de ter hematomas, afinal a última vez que tinha entrado numa briga ainda morava nos arredores de Belfast e não tinha sua condição, digamos, “peculiar”.
            Demorou pouco para perceber que a pessoa que o prendera ali sabia muito sobre sua condição. Sabia sobre sua força e principalmente sabia sobre suas limitações. Como durante o dia seu corpo ficava completamente inerte, não reagindo a nenhum estímulo, quem o prendera ali deveria tê-lo pego durante o dia, espancado brutalmente seu corpo, e, antes do por do sol, tê-lo prendido ali. Admitia que essa era uma estratégia muito esperta, mas não tinha idéia de como tinham chegado até o seu esconderijo, afinal depois de todos aqueles anos ele já sabia como se esconder.
A suas costas conseguia ouvir o barulho de ferro e algo sendo afiado num esmeril, e foi nessa hora que começou a ficar assustado com toda aquela situação. Tinha certeza que ali estava uma pessoa pronta para matá-lo. Pensou seriamente que aquela poderia ser a sua última noite, e sem nem pensar direito chegou a conclusão de que deveria tentar conversar com seu captor, ou pelo menos pensava que aquela pessoa era seu captor, se tivesse uma brecha, um pequeno “vacilo”, poderia usar essa oportunidade para escapar.
Tentou gritar, mas sentiu uma dor na garganta, como se alguém lhe tivesse batido com força nesse lugar. O máximo de som que conseguia era um leve sussurro, rouco, mas ainda assim, audível. Nisso, uma voz veio de algum lugar as suas costas:
- Se apoquente não. Daqui a pouco vou ai falar contigo.
            Essa voz parecia tranqüila, monótona, quase como se estivesse falando algo de rotina. Era grave e possuía um forte sotaque do nordeste do Brasil.
            Tentou mais uma vez se debater e tentar escapar, mas apenas sentiu o peso das correntes que o prendiam. Nessa hora, a voz as suas costas voltou a soar:
- Se eu fosse você não tentava sair não. Você ta fraco, sem sangue e muito bem preso. Nem com reza você sai daí.
            Não havia mais o que pudesse fazer, não havia uma forma de escapar dali, pelo menos não naquele momento. Se resignou e esperou que aquela pessoa que estava com ele nesse lugar fosse em sua direção.
            Pouco tempo depois, ouviu passos vindos de trás de si. Vinha devagar e soava despreocupado e mais uma vez a idéia de rotina veio a sua cabeça. Finalmente, seu captor, ao que tudo indicava, parou a sua frente. Era um homem alto e magro, com mais de 1,90 de altura, a pele era morena e os cabelos bem pretos e lisos na altura do pescoço. Aparentava não ter 30 anos, mas um início de calvície despontava em sua testa. Usava uma calça preta e uma camisa social de mangas compridas dobradas até os cotovelos da mesma cor, os botões da camisa também eram pretos, e o único adorno que a roupa possuía era um pequeno símbolo no lado esquerdo sobre o peito: três estrelas, bordadas com linha dourada, duas no mesmo nível e uma acima, em conjunto as estrelas formavam um arco na horizontal. Contrastando com a sobriedade da roupa, aquela figura usava anéis dourados e prateados em todos os dedos de ambas as mãos, todos com pedras brilhantes que pareciam ser verdadeiras e as vezes mais de um anel em cada dedo. Usava um perfume de marca boa, provavelmente importado, mas numa quantidade acima da aceitável. Também trazia em sua mão um punhal com lâmina de secção triangular, o cabo era muito bem trabalhado e parecia ser incrustado de algumas pedras preciosas vermelhas, provavelmente rubis. Ao todo o punhal deveria ter uns 80 cm. Essa figura chegou, se aproximou e disse calmamente:
- Você ainda consegue falar, mas vai ter que falar baixo. Você não vai conseguir gritar. Agora me diz qual seu nome.
            Aquilo não era uma pergunta, era uma ordem. Com esforço e ainda com muita dor respondeu numa voz carregada de sotaque irlandês:
- Sou Seamus. Seamus O’Donovan
            A resposta veio junto com um sorriso:
- Diabo de nome complicado que você tem. Agora tenho certeza que você não é desse país. Me chamo Francisco José da Silva, mas pode me chamar de Mandacaru. O nome não é por conta dos espinhos e sim por conta da altura. Sempre fui mais alto do que as pessoas que eu conhecia, e um mandacaru pode chegar a ter mais de 5 metros. O apelido foi inevitável durante os anos no cangaço.  
            Mandacaru estava sendo sincero, e isso podia ser percebido pelo tom de sua voz, na maneira como falava. Ele parecia não ter motivos para esconder aquelas informações. Nesse momento Mandacaru continuou:
- Olha, nós vamos passar um tempo aqui até eu estiver com tudo pronto pra te matar. Então que tal me contar um pouco sobre você? Vai contando sua história que eu vou ouvindo. Você pode até não me ver, mas tenha certeza que eu to de ouvido ligado pra tudo que você falar. Eu já sei teu nome, mas de onde você veio? O que te traz aqui, aos arredores de Brasília?
            Seamus não sabia o que dizer. Aquele homem não tinha motivos para querer aquelas informações, afinal ele havia confirmado de que ia matá-lo. Mas essa poderia ser a brecha que estava esperando, se contasse a sua história de vida quem sabe poderia distrair aquele homem todo vestido de negro e assim conseguir escapar dali. Como uma última tentativa de preservar sua vida, resolveu contar parte de sua história, mesmo tendo dificuldades em falar:
- Você quer realmente saber a minha história? Isso é algo estranho de alguém que já disse que quer me matar... mas tudo bem. Eu nasci numa fazenda perto de Belfast, Irlanda, acho que por volta de 1820, não haviam registros de nascimento para pessoas pobres como eu. Na época essa história de Irlanda ou Irlanda do Norte não fazia a menor diferença, o que importava é que eu vinha de uma família de 11 irmãos e plantávamos batatas. As terras não eram nossas, eram arrendadas de um rico proprietário que ficava com boa parte do que produzíamos e na época produzíamos muito pouco. A fome matou metade dos meus irmãos, mas não a mim. Sobrevivi, casei, e com vinte e poucos anos eu já estava como meu pai: tinha cinco filhos, uma esposa grávida e quase nada pra comer.
            Mandacaru parecia realmente interessado, mas não parecia dar nenhuma brecha para um ataque. O punhal reluzia sob a única fonte de luz do lugar e Seamus estava fraco. O irlandês não conseguiria se soltar e pode apenas continuar a história pensando em seu interior numa forma de escapar:
- E aí veio a Grande Fome. Alguma doença matava todas as plantações de batatas, e isso eram as únicas coisas que tínhamos para comer. A fome levou minha mulher e a criança que ela tinha dentro de si. Desesperado tentei encontrar algo nas cidades para comer, mas todos também estavam famintos. Já era noite quando um homem bem vestido se aproximou de mim e disse que poderia saciar a minha fome. Ele veio pra cima de mim, e com muita força me agarrou e me mordeu. Não lembro de muita coisa depois disso, mas assim que ele me soltou eu corri o máximo que pude e voltei para casa. Apaguei durante todo o dia seguinte e meus filhos acharam que eu estava morto, porque eu não mais respirava. Acordei com o cair da noite, e com uma tremenda fome, que nenhuma comida poderia saciar. Eu estava irracional, como um animal, e acabei matando e bebendo o sangue de cada um dos meus cinco filhos e de um padre que estava benzendo meu corpo.
            Nessa hora Mandacaru olhou para Seamus. O olhar não tinha nenhum tipo de piedade, apenas estava curioso para saber o resto. Mandacaru perguntou:
- Mas e o que você ta fazendo aqui? Brasília é meio longe de onde você morava? O que te trouxe ao Brasil?
            O vampiro respondeu:
- Bem, eu havia matado meus filhos. Achei que não mais conseguiria viver naquelas terras. Sai daquele lugar e me dirigi ao porto mais próximo. Arrumei um caixote velho e todo fechado, desses para transporte de carga. Me enfiei dentro e me despacharam. Ratos me serviram de alimento durante os meses que a viagem durou. Queria chegar em Buenos Aires, mas quando vi, fui descarregado no Rio de Janeiro. Vivi um tempo naquela cidade, aprendi português, matei algumas pessoas... Eu já havia matado meus filhos, matar outras pessoas era fácil, ainda mais que, com o passar do tempo, eu as via como alimento apenas. Alguns anos depois encontrei com outras criaturas como eu, outros vampiros. Eram um ou dois, mas eles deixaram claro que iam acabar comigo se eu continuasse naquela cidade. Disseram que existiam poucas pessoas para alimentar todos nós sem chamar atenção. Pensei em enfrentá-los, mas era estranho, ao olhar para eles me senti impelido a fugir dali. Olhar para eles fez com que eu sentisse um medo que eu nunca mais senti igual, era um medo irracional. Não poderia ficar ali e arriscar um novo encontro pois tinha certeza que eles poriam um fim na minha existência. Nisso fugi e fiquei vagando pelo país todo. Há uns cem anos atrás cheguei a essa região. Era erma, distante, pessoas desapareciam com facilidade e havia pouca policia. O problema é que construíram Brasília nesse meio tempo, e sabe, isso não foi um problema de verdade, pelo menos não no começo.
            Seamus parou um pouco por conta da dor na garganta. Sentiu a garganta queimando, mas continuou:
- Brasília ainda estava sendo construída, e muita gente, do país todo veio para cá em busca de trabalho na construção da nova capital. Acabou que ficava mais fácil sumir com as pessoas. Diziam que um havia caído no meio de uma obra, outro havia desaparecido no mato. Respostas simples e que as pessoas acreditavam. Nunca me alimentei tão bem na minha vida. Mas o tempo passou e a cidade cresceu, e já não era mais tão fácil sumir com alguém sem levantar suspeitas. Por sorte, a pobreza empurrou as pessoas para esse tal de “entorno”, essas cidades pobres do Estado de Goiás que ficam ao redor do Distrito Federal. Essas eram outras terras, terras sem lei, onde pessoas sumiam e os outros mal se perguntavam o que tinha acontecido por medo de serem alvo de bandidos, e mais uma vez pude ficar bem alimentado. Conseguia me esconder em casas abandonadas no meio de fazendas ou em algumas cavernas que existem por aqui. Com os anos, eu meio que me tornei uma lenda. As pessoas mais simples contam histórias de uma criatura branca que some com aqueles que andam no meio do mato sozinhos. E sabe? Essa fama é boa, ajudava a esconder meus refúgios e ajudava a encobrir meus rastros. E minha vida foi assim, até que você chegou. Nem sei como você me capturou nem como me prendeu aqui. Mas será que agora não é a sua vez de contar a sua história? Será que você não pode me dizer como me achou? A caverna onde eu estava não era conhecida por ninguém dessa região.
            Mandacaru sorriu, pois sabia que mais cedo ou mais tarde ia acabar chegando a essa situação. Quando ele pedia que eles lhe contassem suas histórias, no fim eles sempre pediam a mesma coisa: que ele contasse a história dele. Mas isso não era incômodo algum, era sempre divertido lembrar-se de como tudo havia acontecido. E então, começou:
- Se você quer mesmo saber, eu nasci no interior de Alagoas, numa fazenda que a muito já deve ter desaparecido. Também não sei direito a época em que nasci pelos mesmos motivos que você, mas foi por volta de 1920. E também como você, eu sabia o que era fome. Desde menino não se tinha muito para comer, só os coronéis é que tinham fartura e pro povo só sobrava migalha. Com uns 14 anos eu sai de casa e fui me juntar a um bando de cangaceiros. Sai no meio da noite para minha mãe não descobrir e nunca mais vi nem ela, nem meu pai nem nenhum dos meus 13 irmãos. É, é muito irmão, mas televisão só foi inventada muito tempo depois e diversão de pobre sempre foi fazer menino. O cangaço foi uma época boa, mas não pense que nós éramos heróis. Não éramos, éramos bandidos. Mas ser bandido no cangaço ainda era melhor do que trabalhar de sol à sol e ainda passar fome. Como cangaceiro pelo menos eu comia três vezes por dia. Nesse ponto minha vida não era das mais interessantes, uns crimes aqui, umas ameaças ali e ia levando a vida. A coisa toda mudou em 1938. Nessa época eu já fazia parte do bando de Lampião. O Capitão já era conhecido no Brasil todo e fazer parte do bando dele era uma honra, mesmo porque ele nunca andava com mais de 50 homens. Eu era um deles, e me enchia de orgulho estar ao lado dele...
            Nesse momento Seamus interrompeu, com um misto de curiosidade e dissimulação:
- Então você é igual a mim? Porque você parece ser novo demais para ter todos esses anos.
Nisso Mandacaru respondeu:
- Com certeza não sou como você. Não tenho essa pele branca de defunto nem fico bebendo sangue e matando gente por aí. Mas como eu fiquei assim era algo que eu ia te contar, mas você me interrompeu. Continuando, num dia estava eu acampado no meio do mato com Sininho e o Bode. Sininho era uma linda mulher que acompanhava a gente de vez em quando, sempre que ela aparecia no meio de um bando estava com um homem diferente, e pra minha sorte naquele dia o homem dela era eu. O nome dela eu não sabia, mas o nome Sininho vinha porque o homem que soubesse como tocar o sino que ela tinha no meio das pernas fazia com que ela gritasse mais alto que o sino de qualquer igreja. E como ela gritava gostoso quando tava comigo. Já o Bode era um rapaz novo, meio franzino, com pouco tempo de cangaço e uma barba que só crescia no queixo, daí o apelido. Era noite e o Bode estava ao redor da fogueira e eu tinha acabado de voltar do meio do mato com Sininho. Estávamos reunidos ali, em Sergipe, indo pra Angicos pra encontrar com o Capitão Lampião. Mas algo estranho aconteceu. Uma estrela riscou o céu, e vinha descendo, só que vinha descendo em nossa direção. Ela crescia cada vez mais, uma bola de fogo vindo do firmamento. Caímos no chão, achando que aquilo ia cair em cima da gente, mas ela se desfez no ar e virou apenas um pó dourado que caiu por cima de nós três. Rimos, praguejamos e depois rimos de novo. Nenhum de nós era muito religioso, por isso ninguém falou de Deus naquela noite, mas com certeza tinha algo do tinhoso naquilo, o que só descobrimos um tempo depois.
            Mandacaru parou e foi tomar um gole de água numa mesa atrás de Seamus. Não parecia preocupado com qualquer tentativa de fuga. Continuou, sabendo que o vampiro estava bem preso numa cadeira as suas costas.
- Nos encontramos com o Capitão uns dias depois, mas isso não foi algo bom. Estávamos já a uns dias na fazenda Angicos, era noite, dia 27 de julho de 1938, um dia triste que eu nunca  vou esquecer... Fomos traídos e um bando de macacos, policiais da volante de caçava Lampião, nos cercaram. O capitão foi um dos primeiros a morrer e eu tomei um monte de tiros. Sininho também. Lembro que ainda vi o Bode chorando perto de Sininho e pagando a arma dela. O mundo ficou escuro e eu achei que ia morrer. Mas acordei umas horas depois. Os homens da volante estavam jogando nossos corpos numa carroça e eu me vi cercado por amigos mortos. Só que o Bode e a Sininho também acordaram nessa hora. Os macacos ficaram assustados e atiraram na gente de novo e eu apaguei mais uma vez, só pra acordar algumas horas depois. Acordei e tentaram me matar, dessa vez com uma facada e mais uma vez eu apaguei e acordei de novo um tempo depois. Aqueles homens eram meio burros, porque demoraram um tempo pra entender que eu simplesmente não morria. Nem eu, nem Bode nem Sininho. O Coronel João Bezerra, líder da volante, não sabia o que fazer com a gente. Nos prenderam e nos mandaram pro Rio de Janeiro, não sem antes obrigar a gente a assistir aquele bando de filho de uma égua cortar a cabeça do Capitão Lampião e de Maria Bonita.
            Lágrimas pareciam brotar nos olhos de Mandacaru. Não importa o número de vezes que ele contasse aquela história, sempre tinha vontade de chorar quando falava do finado Capitão. Enxugou as lágrimas e voltou para a frente de Seamus, sabendo que ele não poderia ter visto seus olhos marejados. Continuou:
- No Rio de Janeiro fomos levados para uma base do exército. Ainda não sabiam o que fazer com a gente, até que o presidente em pessoa tomou a iniciativa. Visto pessoalmente Vargas não era assim tão impressionante, mas nos fez uma proposta irresistível. Ele estava preocupado com algumas questões políticas, alguns casos de bagunça pelo país todo e nós três seríamos uma espécie de força especial de inteligência para combater algumas ameaças. A gente ia trabalhar pro Conselho de Defesa Nacional, um troço que mudou muito de nome de lá pra cá, sendo que já foi SFICI, SNI e agora chamam de ABIN, Agência Brasileira de Inteligência. No começo foi difícil pra mim, afinal eu era um bandido que agora ia ser polícia, mas minha família não se lembrava de mim, não tinha ninguém no mundo que realmente ligasse pra mim, meu preço para aceitar aquilo foi até baixo, disse que sim se me dissessem que foi que traiu Lampião. Me disseram, e sabe, eu demorei uns três dias para matar o filho da puta. Ele pediu pela vida e sangrou feito um porco. O que os outros pediram eu não sei, eles nunca me contaram, mas sei que depois daquilo começamos a ser treinados. Estados Unidos, França, Inglaterra e mais recentemente Israel e Alemanha, já treinei com forças militares desses lugares todos e nenhum homem deles dá dentro comigo, sou muito bom no que eu faço. Meu trabalho é acabar com gente como você, que acha que não está sendo notado. Assassinos e outros incômodos, sobrenaturais ou não, quando chamam atenção demais eles sempre somem e somos nós que fazemos eles sumirem. Em serviço sempre usamos esse símbolo, as três estrelas em arco, são as estrelas que tinham em todo chapéu de cangaceiro, um lembrança nossa para sempre sabermos de onde viemos. E quanto a você, bem, você andou matando gente demais, lendas são contadas sobre você nessa região, sobre um monstro branco que mata a noite. Você chamou atenção demais e está na hora de sumir. Você deixa rastros e marcas por aí, um policial comum não seria capaz de seguir, mas eu sou. Encontras a sua caverna foi fácil, te espancar enquanto você tava dormindo mais fácil ainda. Difícil foi te trazer pra cá durante o dia sem deixar o sol te queimar. Eu poderia deixar você esturricar ao sol, você ia morrer de qualquer jeito, mas aí eu não ia ter o prazer de ouvir a tua história e, é claro, ter o prazer de te matar olhando no teu olho.
            Nesse momento Mandacaru pegou seu punhal, cravou no peito do vampiro e torceu, cortando o coração da criatura. Um sangue negro e viscoso escorreu pela lâmina e impregnou a mão de Mandacaru, que nesse momento exclamou:
- Inferno de criatura lazarenta. A porcaria desse sangue negro sempre dá trabalho pra limpar.

As esperanças de fuga de Seamus foram em vão. Sua existência se encerrou e seu único consolo na morte foi ter ouvido a história do homem que o capturou.