Crianças não são seres totalmente inocentes. Crianças são seres de sinceridade cruel que vivem num mundo de regras próprias, regras que esquecemos como funcionam a medida que ficamos mais velhos.
Leila não sabia o significado dessas palavras. Pra ela deveria ser apenas um bando de coisas complicadas que ela não entendia, e nem queria entender, afinal ela tinha preocupações maiores. Ter oito anos não é algo fácil, ainda mais quando se é mais alta do que todos os meninos da turma, ou pior ainda, quando se é um pouco mais cheinha que as outras meninas e sua mãe faz questão de sempre cortar o seu cabelo deixando-o bem curto. Ser chamada de “menino” de “homem” de outros derivados era comum, e isso a machucava por dentro de formas que não podemos imaginar.
As vezes a turma era organizada em ordem de altura, e Leila se sentia ainda mais constrangida quando era obrigada a ficar sempre no último lugar da fila. E isso era apenas mais um motivo para ser alvo de gozação dos meninos da turma dela no colégio.
Por várias vezes ela quis chorar, e na maioria das vezes ela chorou mesmo. Ficava pedindo para ser menor ou para ser diferente... Um dia, durante uma sessão de gozações feitas pelos meninos da turma durante o recreio a raiva tomou conta de Leila. Ela não sabe direito como, nem porque, mas conseguiu agarrar um dos garotos que lhe fazia gozação e deu-lhe um belo chute nos órgãos genitais. Mesmo em crianças, um chute nessa área dói bastante, e o garoto ficou ajoelhado e chorando por um tempo até que a professora veio.
Não adiantou explicar muito a questão das gozações, da raiva ou o que fosse, Leila foi castigada por ter agredido um “coleguinha de sala”. Bem, ele não era coleguinha nenhum, era só um garoto que ria dela, e que mereceu o chute, mas mesmo assim quem foi punida foi ela, não o garoto.
Depois desse episódio as brincadeiras maneiraram, mas só por um tempo. Pouco a pouco foram voltando, e Leila agora sentia medo de revidar. Um outro dia, tomada pela raiva após mais uma sessão de brincadeiras de gosto duvidoso, acabou correndo atrás de um outro garoto e deu-lhe um forte tapa nas costas que o derrubou no chão. O garoto rolou, se levantou, olhou pra ela e riu. Um outro garoto fez outra brincadeira e ela o agarrou e deu-lhe um belo tapa nas costas também, e esse também riu.
Isso passou a ser uma brincadeira freqüente. Eles riam de Leila, ela corria atrás dos garotos e tentava pegar alguns deles. Para os garotos do colégio aquela passou a ser uma brincadeira cada vez mais divertida, cujo prêmio era para aquele que conseguia fugir dos longos braços da garota. E Leila, sem saber direito os motivos acabava por até mesmo gostar de bater naqueles garotos.
O tempo, inexorável como sempre passou. As pessoas cresceram, seguiram suas vidas e a infância foi deixada para trás com algumas marcas que só ela consegue deixar. Leila também cresceu, como era de se esperar. Hoje em dia continua bem mais alta do que se esperaria para uma mulher, mas não tão alta assim. A adolescência lhe deu curvas que lhe tiraram o aspecto de “cheinha”. Quanto a bater nos garotos? Ela ainda faz isso, mas cobra caro para fazê-lo. E sempre que ela, vestida de couro e de chicote em mãos, pensa naquele que irá receber seus castigos, acaba se lembrando que agora sabe muito bem os motivos pelos quais ela ama bater nos garotos.
Aline
30 de maio de 2016 às 12:14
Eita!
Aline
30 de maio de 2016 às 12:14
Eita!