O Vento

segunda-feira, 10 de agosto de 2009 | Published in | 0 comentários

O tempo que fiquei sem postar nada foi um breve luto pela morte de um amigo querido. Voltemos a programação normal deste blog.

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O Vento

Numa estrada de terra, durante o fim de um dia frio, um andarilho seguia seu caminho. Em suas costas carregava uma velha sacola de couro pendurada em um dos ombros, nela carregava antigas lembranças de coisas boas e ruins. O peso era visto em seu rosto, que em cada ruga poderia se ver cada lágrima que já derramou e cada sorriso que um dia dera.

Seguia relembrando as cidades pelas quais já havia passado e as pessoas que tinha encontrado pelo caminho e deixado para trás. Tais pensamentos apenas aumentavam o peso da sacola em seu ombro.

O vento soprava frio e forte em suas costas, levantando a poeira da estrada, formando riachos de pó ao redor de seus pés com pequenos redemoinhos de pó vermelho a sua frente.

A estrada já estava lá, e ele apenas a seguia. O caminho já estava feito e era o mais fácil a fazer. Seguir o caminho determinado, mesmo que ele seja feio e sujo, era mais fácil que fazer sua própria trilha, e seguir um caminho pré-determinado era o que prendia seus tornozelos a grilhões invisíveis que foram arrastados por toda uma vida.

O vento soprava cada vez mais forte e frio, o peso em sua sacola de lembranças era cada vez maior, as marcas em seu rosto cada vez mais profundas... O cansaço era evidente e mesmo o vento frio não impedia gostas de suor escorrerem pelo rosto como se fossem lágrimas que não mais seriam derramadas.

Cheiro de chuva era cada vez mais forte e o vento varria a poeira da estrada com o sol se pondo ao fundo. O vento corria livre, sem os grilhões que prendiam o andarilho a sua estrada.

A dor no peito, a sensação de solidão mesmo sabendo que vários andarilhos se encontravam na estrada, a vontade de morrer, o cheiro de poeira e o vento cortante se misturavam aos pensamentos do andarilho e a imensidão da estrada. O andarilho seguiu toda a sua estrada atrás de uma liberdade que nunca iria conseguir, preso aos grilhões que não conseguia ver. E em meio aos pensamentos sobre a estrada, o cansaço, o peso da sacola em seu ombro e o vento que corria, o andarilho apenas parou olhando o sol se pondo, sentindo o vento cortar-lhe levemente o rosto. Deixou a sacola cair no meio da estrada empoeirada e abriu os braços sentindo o vento entrar em suas roupas, e assim ele saltou para acompanhar o vento em sua corrida louca sem direção, deixou para trás velhos grilhões e uma sacola de lembranças boas e ruins que não mais serviam para coisa alguma e assim finalmente pode se sentir livre.