Fuga

sexta-feira, 2 de março de 2012 | Published in | 0 comentários

Ele já era adulto fazia algum tempo, mas nunca havia tido uma experiência sexual. A cada dia que se passava o desejo só crescia ao ponto de se tornar incontrolável. Cada uma das coisas que fazia para se distrair eram incapazes de lhe tirar o desejo monstruoso que tinha.
Sua vida era restrita. Conhecia apenas aquele lugar e nunca fora além daquelas grades. O mundo era grande e ele sabia disso, mas durante muito tempo não importava. Ou melhor, continuava não importando, a não ser é claro pela tremenda vontade de dar vazão a um imperativo biológico. A vida era confortável, a comida farta, mas só lhe faltava satisfazer seus desejos.
Um dia, depois de muito se segurar, não pode mais se controlar. Viu uma chance e correu o máximo que podia, para longe, rápido, e em pouco tempo estava no meio da rua num território complementa desconhecido. Fugiu, essa era a palavra certa para descrever o que tinha acabado de fazer. Tudo era diferente ali fora, os cheiros, os lugares e a forma como o tratavam. Os perigos eram enormes, pois os carros não paravam para ele, poderia morrer a qualquer momento e por conta disso pensou em voltar. Seus desejos íntimos de se satisfazer brigavam com o medo dos perigos que estava enfrentando e a cada momento não sabia se ia em frente ou se voltava para a vida que conhecia.
Foi nesse momento, em meio a tais devaneios que a viu. Ela não era bonita, mas o cheiro dela era inesquecível, inebriante, entorpecente... Sem nem mesmo pensar duas vezes foi em direção a ela e sem lhe dizer qualquer palavra a agarrou. Começaram ali mesmo, a se amar no meio da rua sem se importar com o que as outras pessoas estivessem vendo. Ela era a primeira dele, e ele sabia que não era o primeiro dela, mas isso não importava. A única coisa que importava era dar vazão aos seus próprios desejos, aquilo que a muito tempo guardava dentro de si.
Ele foi bruto, foi violento, agressivo, fazia sons animalescos e nem ligava para o que ela estava sentindo. Tudo aquilo ali visava satisfazer apenas ele mesmo e a mais ninguém. Quando terminou, saiu de cima dela e sem nem mesmo dar um último olhar foi embora. Ela não mais o interessava, o cheiro doce que ela tinha havia se perdido no meio do ato que eles acabaram de praticar e ela agora era apenas mais uma ali, perdida no meio daquela rua.
Ele voltou para casa, cansado e sujo. Não sabia ao certo quanto tempo havia passado fora, mas sabia que mesmo que se tivesse sido pouco, algumas pessoas estariam preocupadas com ele.
Estava certo, ao chegar na porta de casa foi recebido com sorrisos e afagos, e até mesmo com lágrimas nos olhos. Deram-lhe um bom banho, e logo após pôs-se a comer bastante, afinal tinha fome. Ser cachorro daquela família era uma vida fácil, melhor do que de muitos cachorros que ele via passar pelo portão da frente de sua casa. O único motivo de sua fuga fora para satisfazer seus instintos, seus desejos mais impuros, e agora com os desejos satisfeitos ele voltava para casa e para a vida tranqüila que nunca quis abandonar de verdade.