Uma Crônica de Segunda #7

segunda-feira, 19 de dezembro de 2011 | Published in | 0 comentários

Uma coisa bastante comum para mim era entrar em lojas e nunca conseguir ser bem atendido. Os motivos eu nunca soube ao certo, não sei se era a cara de ressaca, as camisas de bandas de rock, o cabelo bagunçado, o tênis sujo, a cara de adolescente (ou jovem adulto), ou se simplesmente era tudo isso reunido.
A única coisa que eu podia ter certeza era que entrar sozinho numa loja para acontecer o mesmo ritual. A(o) vendedora(o) me olhava de cima a baixo e me atendia com uma tremenda má vontade, quase como se estivesse ma fazendo um favor. E não importava se eu acabava comprando algo ou não, a má vontade era a regra, a tônica da minha vida. Era quase kármico, ser mal atendido por vendedores era minha sina, o meu destino.
Acontece que o tempo passa e recentemente eu tive que comprar umas roupas novas, pelo motivo de sempre: trabalho. Só que dessa última vez algo diferente aconteceu, a vendedora veio, sorriu para mim e me atendeu gentilmente durante o tempo que permaneci na loja. Não comprei nada, mas o bom atendimento me impressionou. Na loja seguinte foi a mesma coisa, fui extremamente bem atendido e ainda fui chamado de senhor, por um vendedor visivelmente mais velho do que eu.
Eu sinceramente fiquei assustado. Foi uma brusca mudança na forma como eu sempre fui atendido em lojas. Passei o tempo todo esperando olhares de desdém, quando ao contrário, fui atendido com extrema cortesia. A única explicação é que eu devo estar ficando velho.
A idade parece trazer consigo uma certa respeitabilidade, mesmo para os chamados jovens adultos. Estar beirando os trinta passa uma imagem mais respeitosa do que estar beirando os vinte e agora eu pareço ser alguém mais sério, respeitável, um nobre cidadão que contribui ativamente para a sociedade, ou pelo menos os vendedores parecem estar pensando assim. Pena, eles não poderiam estar mais errados.