Infelicidade Compartilhada

domingo, 24 de abril de 2011 | Published in | 1 comentários

Ele estava com sérios problemas. Um relacionamento que ele não gostava, um emprego que ele não queria mais e uma família que lhe acabava com a paciência. O namoro começara e continuara ali, como quem não quer nada, e acabou ficando longo, tedioso, com sentimentos mortos e que somente continuava porque terminar e partir para outra era algo que dava muito trabalho e medo. O trabalho era tedioso, chato, mas pagava as contas e, infelizmente, por este motivo, o obrigava a continuar. E por fim a família, com suas insistentes cobranças de casamento e carreira não lhe davam apoio e somente serviam para aumentar o número de frustrações na qual vivia.

Ela já tinha sido muito bonita, mas o tempo e os problemas ajudaram a levar parte da beleza embora. Já estava formada a alguns anos, mas não conseguia arrumar um emprego. Tudo era sempre ou fora demais de sua área ou algo que ninguém mais queria fazer. Tinha a impressão de que os anos de faculdade haviam sido jogados no lixo e que sua vida seria para sempre uma sucessão de frustrações. Os sonhos da faculdade agora eram estranhas e distantes sombras que agora pareciam inalcançáveis. E comer acabava sendo uma boa forma de escapar dos problemas.

Ele teve a sorte de ser bem nascido. Família tradicional, rica, com bastante influência em diversos órgãos do governo. Toda a sua vida havia sido planejada desde o nascimento: o colégio onde estudou, a faculdade que cursou, o emprego que conseguiu e a rápida promoção que sucedeu. Contudo, ele sabia que quase tudo em sua vida fora escolha de seus pais. Não tinha noção da última vez que havia feito uma escolha por si mesmo, e vivia sem saber se vivia uma vida plena ou se simplesmente vivia por inércia, seguindo aquilo que seus pais indicavam. Havia chegado a uma posição que muitos invejariam, mas nunca teve certeza se era ali que queria estar.

Ela teve um filho jovem, com apenas 16 anos, e por conta disso teve que abrir mão de quase todos os seus planos. Os cursos fora do país, a faculdade em outra cidade, as experiências que teria... tudo tivera que ser jogado por fora por conta de uma gravidez indesejada. Possuía grande apoio de seus pais, mas a gravidez precoce a fez ter que abrir mão de todos os sonhos e se dedicar a outra vida, um filho cujo o pai agora parecia ignorar e a contribuição na criação era uma mísera pensão. O pai de seu filho ainda podia seguir todos os seus sonhos, e ela era obrigada a arcar com o peso da criação do filho.

Ele afogava as mágoas em copos de bebidas e relacionamentos efêmeros. Nada parecia ser permanente, a não ser o trabalho, a única coisa que era estável em sua vida. Tudo lhe era chato, e suas frustrações amorosas o levavam a cada vez mais se concentrar apenas em trabalho e aos poucos ele se afastava das pessoas. Copos de cervejas e mulheres saiam de sua vida, mas o trabalho era constante e cada vez mais saia menos. O trabalho virava sua única válvula de escape.

Os cinco tinham em comum apenas a infelicidade que cercava suas vidas e a amizade que os unia. Os encontros não eram tão freqüentes quanto deveriam nem tão divertidos quanto as lembranças mostravam, mas a amizade que tinham uns com os outros era a única coisa que alivia a infelicidade comum a todos. Juntos eles tinham o único sorriso em muito tempo, a única felicidade em muito tempo e a única real companhia em muito tempo. A amizade entre eles os dava força para continuar, e nas poucas vezes que se viam, os problemas que os cinco possuíam pareciam diminuir em frente a efêmera felicidade que tais encontros causavam.

A infelicidade de todos era compartilhada e assim a pouca felicidade que ainda possuíam e as lembranças desses bons momentos serviam de força para seguirem em frente por mais uma semana.

comentários

  1. Unknown says:
    24 de abril de 2011 às 15:46

    Fiquei me perguntando se essa parte foi intencional ou erro de digitação: "Possuía grande apoio de **deus pais**, mas a gravidez precoce a fez ter que abrir". Pelo sim ou pelo não, ficou bem interessante.
    Qualquer semelhança com pessoas reais é mera coincidência?

  2. Unknown says:
    24 de abril de 2011 às 15:46

    Fiquei me perguntando se essa parte foi intencional ou erro de digitação: "Possuía grande apoio de **deus pais**, mas a gravidez precoce a fez ter que abrir". Pelo sim ou pelo não, ficou bem interessante.
    Qualquer semelhança com pessoas reais é mera coincidência?